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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 24 de setembro de 2017

COLHEITA DE CAFÉ - Estado de São Paulo -Brasil

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..")
Lembro cafezais em flor; flores brancas,
Que perfumavam os campos mogianos,
Colhendo o “mundo novo, o conilon e o burbom”
Do cheiro do café de coador, feito de panos,
Dos campos, dos animais e das flores,
E aquela luz num céu azul de néon... .
Faziam parte de minha vida de menino pobre,
Lembro-me da chuva, do rio e dos pássaros.
Não pude ver o mar; ao menos antes dos quatorze !
Só via mulheres com dor- d’olhos, cobertas de trapos,
Sempre grávidas; sempre sorrindo com quatro dentes,
Com suas canelas finas e feridentas; desde o seu nascimento.
Lembro a saparia do brejo e os silvos das cobras noctâmbulas,
Caçando e sendo caçadas, no esforço de se manterem vivas.
Lembro mugidos das vacas parideiras, voltando ao curral,
Remastigando o capim, que se faz leite sem igual.
Lembro os ipês, da infância da minha vida,
Lembrando, todo ano, que de setembro a outubro,
Já é hora de preparar a terra e de plantar.
Vi muita gente ir para o trabalho, quando ainda era noite,
Homens de faces enrugadas; filhos sonolentos,
Trabalhando o cafezal ou na sua plantação de subsistência,
Mocinhas de doze anos, meninos de oito, velhos de quarenta.
Vi muitas flores, plantações, árvores, rios,
Lembro pintassilgos, canários sabiás e seus cantares,
Só não via o mar; porque dele só sabia da existência!
Caipiras como eu, esperançosos, apegando-se a Deus e aos santos,
Esperando por vida melhor, assim como o filho, pai, o avô, o bisavô,... .
Caipiras que exibem suas mazelas, mas que esperam, com as suas,
Bocas desdentadas, cicatrizes nos braços e nos rostos,
Encardidos da terra roxa, queimados do sol mogiano,
Uma brisa da Providência em seu favor... .
Observando o capim gordura, formando ondas ao vento,
Com suas flores violáceas ao cair da tarde modorrenta
-Será que um dia ressurgirão num céu azul, vestidos de estrelas?
Já não tenho pernas; minhas mãos tremem,
Meus olhos fraquejam, meu coração sempre a palpitar,
Talvez vocês não saibam a razão do meu cismar:
-Vim da terra roxa e do cafezal paulista,
Da terra de aluvião vulcânica e massapé,
Onde o café se estendia a perder de vista,
A mim parece gravura, à vista de uma janela,
Vim donde existem almas penadas, matas e suçuaranas,
Vivo longe da minha terra, mas estou impregnado dela;
Ante esse quadro, não resisto ao fato:
-Que sou eu, sertão, senão seu retrato?


Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. Nascido em julho de 1946, é natural da zona rural de Cravinhos-SP (Brasil). Nascido e criado numa fazenda de café; vive na cidade de São Paulo (Brasil), desde os 13. Formou-se em Física, trabalhou até recentemente no ramo de engenharia, especialista em equipamentos petroquímicos.  É escritor amador diletante, cronista, poeta, contista e pesquisador do dialeto “Caipirês”. Tem textos publicados em 9 livros, sendo 4 “solos” e cinco em antologias, junto com outros escritores amadores brasileiros. São seus livros: “Pequeno Dicionário de Caipirês (recém reciclado e aguardando interesse de editoras), o livro infantil “A Sementinha”, um livro de contos, poesias e crônicas “Fragmentos” e o romance infanto-juvenil “Y2K: samba lelê”. 

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