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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Cumpriu-se a Trilogia de Bragança

Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Foram três longos anos a pensar Bragança, as suas gentes, os seus costumes, a sua história, passeando nostalgicamente por uma Bragança antiga, com ruas e becos que já não existem, ou se modernizaram.
Em maio de 2015 saiu o meu primeiro romance intitulado: “O Milagre de Bragança” é uma história de judeus antigos, cristãos novos que contribuíram para o desenvolvimento de Bragança e para o milagre da sede que trouxe riqueza e fama a uma pequena cidade perdida entre montes e o devir da História. É um romance em que se revisitam os hábitos, costumes, crenças e preconceitos duma cidade antiquíssima, o colégio dos jesuítas e as memórias do velho Liceu Nacional de Bragança, com a sua academia e as suas imortais comemorações do 1º de dezembro. “Coimbra em miniatura”.
Em maio de 2016 saiu o contraponto a este primeiro romance: “Quando as mães saíram à rua” que desvela um outro lado de Bragança, mais sombrio, onde se evidencia a longa noite bragançana e se revisita o tão falado caso das “Mães de Bragança”, ou melhor dizendo, o caso de algumas, poucas, esposas de Bragança a quem a revista Time deu voz excessiva e universal.
E finalmente em maio de 2017 e por sugestão do presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias saiu o romance: “Pão Centeio”. O autarca bragançano sugeriu que depois de dois livros onde a narrativa perpassa pela cidade de Bragança, seria interessante um último romance, fechando a trilogia, sobre a problemática do meio rural do nordeste. E assim foi. O título “Pão Centeio” é justificado por uma personagem do livro: “Ao escritor do futuro exorto que o livro se intitule “Pão centeio”, em memória do pão, cozido no forno de lenha e que matou a fome a tanta gente que procurou a taberna no fim da caminhada. Em memória do pão centeio que ajudou a criar tantos transmontanos, tão valentes, sábios, santos e honrados.”
A narrativa deste romance assenta em três personagens principais. Um pedinte que percorreu todas as aldeias de Bragança, conhecedor do mundo e da vida. Carregava consigo uma estranha loucura e uma lucidez quase profética que assustava, visionando a desumanização e a desertificação das aldeias transmontanas, para logo acrescentar: “O Nordeste tem futuro, por favor não desistam. Não deixem morrer as aldeias tão bonitas da nossa terra. Lembrem-se sempre da Fénix que renasce das cinzas”. Este pedinte misterioso tinha fama de ter sido capitão-de-fragata que enlouqueceu depois dum trágico naufrágio em alto mar, com centenas de mortos. Fez-se ao mundo como pedinte nómada.
Uma outra personagem é um sargento aposentado que regressou à aldeia depois de ter feito a guerra da Índia, de Angola, de Moçambique e da Guiné. Convive com o capitão, entre memórias, mortos de guerra e o princípio da desertificação do nordeste. Dois homens estranhos que carregavam consigo medos antiquíssimos de guerras infindas. Os militares morriam na guerra. E a emigração despovoava as aldeias. Aconteceu o 25 de abril, vieram os “retornados”. O país mudou mas a desertificação das aldeias transmontanas continua e o Poder Central “a assobiar para o lado” como se este drama da morte anunciada do meio rural não existisse. Mas o capitão, todos os dias, ao alvorecer, manda ao sargento formar a 1ª Companhia dos sonhos para que o sonho ainda seja possível.
A terceira personagem é um engenheiro civil que regressa de Angola depois da independência. Filho do taberneiro da aldeia e que se cruza com o capitão e o sargento e vai recolhendo para memória futura o devir da aldeia ao longo do ano: “Capitão, agora não pode ir, tem que me contar todas as memórias da taberna, o que se comia, quem chegava, o que as pessoas faziam à roda do ano! Tem que me contar tudo, Capitão! Já comecei a escrever o nosso livro.”
E assim se fecha um longo trabalho de três anos. A humílima trilogia de Bragança que eu fui capaz de escrever, aqui fica para que os vindouros não se esqueçam. Foram muitos dias, muitas noites pensando Bragança e as suas gentes. Mas valeu a pena. O Nordeste vale a pena.


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 

Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”. 

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