Por Humberto Pinho da Silva
(colaborador do Memórias...e outras coisas)
Numa tarde quente, sem nortada poveira, estava eu, na Avenida dos Banhos, a ver o préstito de Nossa Senhora da Assunção, quando, de repente, surgem duas ambulâncias, que pararam quase diante de meus olhos.
Confusão entre os figurantes, que desfilavam, e ente os fiéis e curiosos que assistiam.
Uns, queriam passar. Outros, protestavam: “ Falta de respeito com as autoridades religiosas e civis!...”
Exaltaram-se as partes. Então, mulher rechonchuda, gorda como texugo, que saboreava colossal sorvete, de quatro ou cinco bolas, começou a protestar: “ Sou doente… e não posso estar parada! …”
Obtemperou outra: “ - Se é doente, volte para trás e sente-se. Atravessar a rua é que não! …”
Mas ela queria avançar, tentando “ atropelar” a banda, que marcava passo, ao ritmo da música.
Homem esguio, de cabelo grisalho, que presenciava a triste cena, num aparte, a meia-voz disse: “ Onde não há polícia, há desordem! …”
E eu, que estava encostado à ombreira de porta de loja comercial, logo recordei o lamento de velhinha, que permanecia no ponto de paragem, de Heitor Penteado (Avenida paulista,) que, quase chorosa, dizia-me:
- “ Já passaram três ônibus (autocarros) e nenhum parou! Como sou velha, não me respeitam! …”
Estamos a passar por enorme crise de autoridade. Ninguém se respeita; nem se dá ao respeito.
Dizia-se, no século XX, que: quando o povo fosse educado (leia-se instruído,) haveria: Paz, Concórdia e Respeito:
Paz: não a encontro em nenhuma parte, nem no coração dos homens! …
Concórdia: há muito que desapareceu. Cada qual quer impor seu parecer, e quando não encontra argumentos, utiliza a força.
Respeito: deixou de existir, há muito: A criança, que outrora, tratava os pais por senhor, e pedia-lhes a bênção, fala-lhes, agora, do mesmo jeito, como lida com colegas; e muita sorte há, se não “ vomita” termos depreciativos e ofensivos! …
Também, poucos sabem fazerem-se respeitar. Parecem crianças, com gestos de garoto.
Não admira, portanto, que a classe politica – que em tempos áureos eram homens de respeito, estadistas justos e competentes, – se comportem, agora, como meninos de escola: acusando-se mutuamente; baixando a linguagem, a antigos saleiros portuenses, que primavam pelas calinadas e linguarejar torpe.
Não pode haver progresso nem ordem, nos países, onde quem manda não é a lei, nem a autoridade, mas: quem brada mais duro; quem insulta; quem, por astúcia: engana e ludibria o próximo.
É o fim da Civilização Ocidental. Da civilização, como a concebemos: assente na democracia e liberdade.
E sem respeito e valores, estamos à mercê de qualquer “ libertador”; a sucumbir, como sucumbiu, a orgulhosa e poderosa Roma.
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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