Cristina Sabino é aventureira por natureza e sendo uma professora apaixonada pelo que faz decidiu concorrer para todo o lado, quando dizemos todo o lado, Cristina concorreu um pouco para todo mundo. Foi seleccionada e há já mais de uma década que ensina português na Alemanha. Por ironia do destino foi parar ao país onde tinha nascido e onde viveu até aos seis anos de idade. A Raízes esteve à conversa com a transmontana.
Uma vida a ensinar português
Cristina Sabino é a transmontana que nos conta a sua história pelo mundo, neste caso pela Alemanha, onde nasceu e por ironia do destino acabou por em 2005 regressar para dar aulas de Português.
Foi nos anos 70 que os pais de Cristina saíram da aldeia de Rebordelo, no concelho de Vinhais e rumaram até à Alemanha à procura de uma vida melhor. Foi já por lá que nasceu Cristina, precisamente em Bonn. “Nesses tempos a maioria dos emigrantes saiam do seu país à procura de trabalho e de melhorar as suas condições de vida, mas com a intenção de regressarem um dia. Como eu ouvi tantas vezes a minha mãe “Não há nada como o nosso cantinho!”, ela referia-se a Portugal, mas mais especificamente a Trás-os-Montes”, conta Cristina.
Tinham seis anos quando regressou a Portugal, era algo habitual os emigrantes mandarem os filhos nesta idade antes de entrar para a escola, segundo a transmontana. “Fui para Portugal, devido à escola e porque os tempos eram outros e os emigrantes nessa altura não tinham o mesmo apoio que há na actualidade, juntamente com a barreira da língua, muitos mandavam os seus filhos para Portugal, quando atingiam a idade de escolaridade ou nem sequer os levavam para o estrangeiro e entregavam os seus filhos a familiares”, explica Cristina que veio viver com uma tia para Coimbra, durante uns anos até que se mudou para Trás-os-Montes. Os pais acabaram por ficar mais uns anos pela Alemanha. “A minha mãe entretanto ficou grávida da minha irmã e os planos foram alterados pelas circunstâncias da vida”, refere Cristina.
Decidiu ser professora
No regresso à região Cristina estudou em Vinhais e mais tarde em Bragança onde se formou em ensino, entretanto já estava a trabalhar como professora contratada e andava sempre de cidade em cidade de Norte a Sul do país. “Como tinha de concorrer todos os anos, candidatava-me a todos os concursos para professores, até que fui colocada na Alemanha. Primeiro estive em Hamburgo e no ano seguinte em Darmstadt onde permaneço até hoje”, conta e acrescenta que por “ironia do destino, apesar de ter concorrido para outros países, viria parar à Alemanha”.
A maneira como os alemães veem Portugal deixa a professora satisfeita. “É algo que me deixa orgulhosa, os alemães têm boas referências nossas, pois somos um povo que se integra com alguma facilidade e também muito acolhedor. E temos vários exemplos de comunidades muito bem integradas, quer na Alemanha ou noutro país”, explica.
O desafio de ensinar português lá fora
Segundo Cristina o interesse na língua portuguesa tem vindo a aumentar. “Claro que não tanto quanto desejaria, pois na minha opinião a nossa língua e a sua divulgação são a nossa maior riqueza”, refere. É já desde 2005 que Cristina ensina português na Alemanha, o sue trabalho está mais direccionado às comunidades portuguesas e aos seus descendentes. “Trabalho numa comunidade onde tenho alunos descendentes de terceira e quarta geração de emigrantes, onde a aprendizagem da Língua Portuguesa continua a ser o vinculo com Portugal”, explica a docente que também dá aulas em escolas públicas alemãs. “Dou um curso de português como extracurricular, os alunos são avaliados não de forma quantitativa mas qualitativa. Os meus alunos são a maioria descendentes de portugueses, mas também tenho alunos de outras nacionalidades ou de ambas. Os de outras nacionalidades costumam achar a nossa língua difícil”, explica.
Cristina acaba por matar algumas saudades de Portugal diariamente quando contacta com as várias comunidades portuguesas onde trabalha. Já pensou em regressar às raízes. “Tive sempre intenção de regressar, quando saí de Portugal era só para ser por um ano. E já lá vão alguns. Neste momento para ser sincera não sei, deixo tudo em aberto, já que a vida as vezes insiste em tomar o seu rumo”, diz Cristina.
Apesar de gostar de viver fora confessa que preferia viver em Portugal. “Portugal é perfeito”, concluí com os olhos a brilhar.
Por Joana Martins Gonçalves
Revista Raízes
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