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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

A ação dos padres de Brancanes em Vinhais. O Seminário da Senhora da Encarnação e constituição da Venerável Ordem Terceira da Penitência

O bispo, pandorcas e algazarras
O contacto do jovem João da Cruz com Trás-os-Montes ocorreu em 1709 por ter vivido em Chaves numa altura em que seu pai era governador de armas da Província. 
Só depois entraria na Ordem dos Carmelitas descalços, onde era já professo em 1718. Pelas suas qualidades seria destinado, em fevereiro de 1739, a ocupar a cátedra episcopal do Rio de Janeiro, sendo sagrado bispo na igreja patriarcal, em 5 de fevereiro de 1741, por D. Tomás de Almeida. Três meses mais tarde chegava ao Rio de Janeiro, então uma cidade habitada por quase vinte mil almas, duas paróquias, uma na catedral e outra na candelária, três colegiadas, quatro conventos masculinos, hospital, Casa da Misericórdia e muitas confrarias.
Contudo, a igreja catedral, “arruinada e velha” mostrava incapacidade para a realização dos ofícios divinos, que foram sendo transferidos para a capela de Santa Cruz e para a igreja do Rosário dos Pretos. Fora do Rio de Janeiro, a maioria das igrejas “estavam em estado deplorável” e os padres, muito pobres e raros viam-se obrigados ao uso do altar portátil como resultado das grandes distâncias que tinham que vencer. Seria neste ambiente em que grande parte do povo é pobre e o clero mal preparado que D. João da Cruz vislumbrou o contributo positivo que poderia ser prestado pelos missionários. O padre José de Castro, a quem devemos as informações biográficas do bispo, dando nota do apreço votado aos frades Capuchinhos, que eram em reduzido número, salientou como Frei João da Cruz gostava do padre do Varatojo, donde saíram os missionários fundadores da casa dedicada a Nossa Senhora dos Anjos de Brancanes.
Na vocação evangelizadora destes padres franciscanos vislumbrava a capacidade e, sobretudo, a persistência na ação que eram atributos muito necessários no território onde o prelado procurava contrariar alguns dos atos desmedidos dos poderosos, a dissolução dos costumes e as influências que certos traços multiculturais exerciam sobre o comportamento religioso.
Dificuldades de tanta monta levaram-no a dividir o bispado em mais duas dioceses, a de S. Paulo e a de Mariana, mas não evitaram que o pedido para ser rendido naquelas paragens. O que aconteceria em 1745 com a nomeação para aquela cátedra do bispo de Angola, D. Frei António do Desterro.
Pouco tempo depois seria indigitado para a diocese de Miranda do Douro. Uma vez na catedral do nordeste transmontano, D. Frei João da Cruz tinha presentes as recordações do Brasil e a compreensão dos efeitos negativos que resultavam de uma instrução religiosa deficitária. 
Talvez por isso se explique a sua fixação nos comportamentos que entendia corresponderem a desvios da correta prática religiosa e dos bons costumes. Acreditando nos efeitos continuados da persuasão, às vezes acompanhados de penas pecuniárias, não deu descanso à pena pelo que redigiu e fez publicar pastorais sobre temáticas diversas onde se levantava a flâmula da proibição sobre “toda a casta de jogos [...] toda a casta de bailes e ajuntamentos de homens e mulheres, de dia, à noite, nas casas ou nos campos”, sobre “todas as pandorcas que em muitas partes se costumam fazer nos domingos e dias santos, de dia e de noite, e nos demais dias de trabalho”. 
Neste grupo de festividades ficavam compreendidas algumas celebrações do ciclo natalício, especialmente “as chamadas festas de Santo Estevão que se fazem em várias partes do bispado por serem escandalosas e ocasionarem a ruína espiritual e temporal do próximo” e ainda “por se comporem de pandorcas, danças, algazarras, e tumultos occazionados pella eleição de hum rei, e outras mais dignidades, que nellas elegem, por cuja occazião tem ja havido mortes, e pendencias pellos excessos de comer, e beber, que nos ditos dias se fazem [...] com muitas offensas a Deus”. 
À superficialidade como, em certos casos, as práticas religiosas eram entendidas nos ambientes rurais agregava-se a continuidade de celebrações culturais solidamente caldeadas pela longa duração e que o racionalismo crescente tendia a combater e a desvalorizar para dar solidez à sua afirmação. Daí que o reconhecimento da necessidade de se agir sobre as massas ocorresse em simultâneo com a transferência para os padres de Brancanes da antiga admiração pelos padres do Varatojo, um renascimento que faria despertar da letargia de uma década a motivação para a obra do hospício de Vinhais.

Luís Alexandre Rodrigues

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