Olá familiazinha!
No último dia de Primavera e no primeiro dia de Verão tivemos trovoadas. O nosso tio Duarte, pastor de Prado Gatão (Miranda do Douro), que já anda há muitos anos na universidade do pastoreio, confessou-nos que no dia 20, quarta-feira à tardinha, teve a sua pior experiência de toda a vida no que às trovoadas diz respeito, porque os raios eram tantos que até o telemóvel lhe foi parar ao chão e as ovelhas fugiram logo para a corriça. Contou também que a pedra foi tanta que nem dava para ver por onde ia, com os raios a passarem-lhe ao lado.
Nestas situações nunca devemos abrigar-nos debaixo das árvores, mas fazer como o tio Duarte, que seguiu o rasto das ovelhas que fugiram e o guiaram até à corriça.
O tio Cepeda, de Terroso (Bragança), disse-nos que, no dia 21 à noite, aconteceu a maior tromba de água que já viu, pois algumas casas e estábulos da aldeia ficaram inundados, assim como muitas produções agrícolas destruídas. Também achei curiosa a expressão da tia Delfina Canelhas, de Paradinha de Outeiro (Bragança), que quando lhe perguntei pelo tio Miranda, seu marido, me respondeu: “— Ele já foi abrir o escritório, porque os empregados não têm chave!...”. Isto deve-se ao facto de os dias já serem muito quentes e as pessoas se levantarem muito cedo para aproveitar o fresco da manhã.
No rescaldo do Piquenicão deste ano, podemos dizer que foi um dia de ginásio para muita da nossa gente grande, pois como a avó Laurinda, de 90 anos, nos contou, subiu e desceu todas as escadas do santuário, assim como o tio António, de Lampaça (Valpaços), que fez a mesma proeza, mas a caminho dos 95 anos de idade. O contentamento é geral e toda a nossa família ficou com vontade do próximo.
Deus chamou a nossa tia Eduarda, de Bragança, esposa do tio Ernesto Oliveira, depois de muitos anos de sofrimento e de o marido ter sido o seu melhor enfermeiro. Chegou ao fim o seu sofrimento aos 85 anos. Que tenha o descanso eterno e os nossos pêsames à família enlutada.
Esta semana estiveram de parabéns os nossos priminhos gémeos, Henrique e Maria, que completaram uma dúzia de anos, bem como Ana Bela (47), do Fundo da Veiga (Gostei); Valdemar (75), da Paradinha Nova (Bragança); Pompeu (64), de Suçães (Mirandela); António Lopes (84), de Bragança; Margarida (72), de Argemil (Chaves); Ricardo Domingues (21), de Santa Juzenda (Valpaços); António dos Reis (86), de Roriz (Chaves); Rosa Cristina (42), de Parada (Bragança) e António Cascalhinho (90), de Vila Boa de Carçãozinho (Bragança).
Agora venham todos daí, vamos ao feno!
Estamos na época da ceifa do feno. Antigamente produzia-se mais feno porque havia mais criação de animais. O trabalho era todo manual e por isso requeria muita mais gente. Com a chegada das máquinas, o trabalho pode ser feito por uma ou duas pessoas.
O feno é uma mistura de plantas, constituída por gramíneas e leguminosas, usado como forragem para os animais. A secagem do feno faz com que a água lhe seja retirada mas o seu valor nutritivo continua o mesmo, permitindo a sua armazenagem durante muito tempo. É usado para alimentar os animais durante todo o ano, principalmente nas alturas de escassez de alimento, provocada tanto pela estiagem do Verão como pelos Invernos mais rigorosos. Quem não teve pontaria para a escolha do dia da sua segada, foi o nosso tio Rebelo, de Real Covo (Valapaços) porque, como nos disse “seguei-o ontem à tarde e veio uma chuvada que nem lhe digo a marca!... Não tive sorte nenhuma… O problema é que já dizem que vai voltar a trovejar e como o lameiro ainda tem humidade, aquilo começa a arder por baixo e a ficar preto, preto e a cria não o pode comer, porque quando o está a comer está sempre a espirrar, por causa do pó e do mofo e a isto não há volta a dar. Fiquei muito desanimado. Ainda tenho feno arrumado para a cria toda durante todo o ano. Mas olhe, tinha dois lameiros, um vendi-o e também foi segado e agora dá um bom trabalho porque o feno tem que se tirar do lameiro. Dois reboques dele para tirar do lameiro e pô-lo aos montões... É complicado para um velho…”
A colheita do feno é constituída pela segada, pela viragem, pela acarreja dos fardos e, por fim, pelo seu armazenamento adequado, em lugares secos e ventilados.
Segundo nos disse o tio Rebelo, uma vaca adulta consume uma média de 5 quilos de feno por dia, ou seja, cerca de meio fardo de feno. Antigamente a ceifa do feno era uma das tarefas da agricultura que mais gente requeria, a par da malha e da vindima. Actualmente com a mecanização da agricultura, quase passa despercebida e por isso se perdeu o convívio que existia.
Tio João
in:jornalnordeste.com
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