A cada novo dia parece estarmos destinados a acordar para o sobressalto, para a angústia que rói o ânimo e segreda a resignação, para a canseira de teimar que o país poderia encontrar outro rumo de ocupação equilibrada do território, com vantagem para os cidadãos do presente e do futuro.
Não é de estranhar, porque conhecemos bem o efeito demolidor de décadas de sangria das gentes, de ausência de decisões políticas esclarecidas para a construção de um país a sério.
Quando o próprio Presidente da República já interveio, de batuta em punho, para corrigir algumas fífias da geringonça no que respeita a três quintos do território, impondo um calendário para ritmos equilibrados, soa estranho que, para a próxima década, a liderança política governamental não coloque nenhuma hipótese de intervenção estrutural no transporte ferroviário em toda a região transmontana, ou seja, nos distritos de Bragança e Vila Real, ao mesmo tempo que vai anunciando que o IC5 deixará de ser uma via concessionada, para voltar à responsabilidade directa da IP, anterior Estradas de Portugal e antiga Junta Autónoma de Estradas.
Os cidadãos desta região que ainda não se renderam às manobras videirinhas que trouxeram o país à condição absurda de uma choldra com vista para o mar, nunca compreenderão que, ao contrário das loas às potencialidades destes territórios, afinal se estejam a preparar decisões que lhes serão fatais.
Num tempo em que se proclama um futuro de transportes movidos por energias limpas, deixar Trás-os-Montes sem caminhos-de-ferro é como voltar ao séc. XIX, quando a moda nacionalista nos impôs linhas férreas de quarta categoria, que chegaram tarde e demonstraram não ser opção quando percebemos as potencialidades de uma Europa sem os espartilhos das fronteiras.
Espera-se que os municípios e as populações não recuem na reivindicação de duas intervenções fundamentais, que recentemente assumiram: uma ligação ferroviária que atravesse a região no sentido sudoeste/nordeste, a entroncar na via espanhola junto a Zamora e a recuperação e modernização do troço da linha do Douro, até Barca D’Alva e ligação, como aconteceu durante décadas, à rede espanhola. Doutra forma, daqui a meio século poderão nem sequer restar os centros urbanos que têm sobrevivido à voragem, por beneficiarem da localização dos eixos das auto-estradas A4 e A24.
Assim se poderá alimentar alguma esperança de estabilização demográfica, garantindo a complementaridade de redes viárias como o um IC5 seguro, com manutenção adequada e ligações renovadas de Vinhais e Vimioso ao eixo da A4. A experiência dos últimos anos não permite grandes entusiasmos, quando se sabe dos adiamentos inadmissíveis de intervenções vitais para a região, a que acresce o verdadeiro abandono das vias, sem renovação dos pavimentos, nem a simples limpeza das bermas, da responsabilidade da IP.
Os responsáveis políticos locais e regionais precisam de encontrar formas de cooperação autêntica, num combate que não podem perder.
Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com
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