As crianças poderem brincar e criar foi uma aposta do Centro de Arte Contemporânea (CAC) Graça Morais de Bragança, que em dez anos criou numa geração novos hábitos e pôs os filhos a levarem os pais ao museu.
O CAC comemora, no sábado, uma década, com o diretor Jorge da Costa e a "madrinha" Graça Morais a destacarem, em entrevista à agência Lusa, a aposta na formação de públicos e a aproximação à arte, além do contributo social e económico para a cidade.
Este centro, como destacou o diretor, "investiu muito no serviço educativo e criou nesta geração de crianças, neste dez anos, o hábito de virem naturalmente a um museu, de usufruírem, de experienciarem, de verem o museu como um lugar normal, agradável".
Desta forma, acredita, "desmistificou-se esta ideia de que o museu é uma coisa muito chata ou só para intelectuais, ou que é proibitiva, não se pode fazer barulho, etc., e as crianças aprenderam a viver o museu de uma outra forma".
"Foi esta geração que acabou por trazer aqui muitos pais que não tinham esse hábito, tivemos os filhos a trazer os pais ao museu, porque acharam que a experiência foi extraordinária e quiseram partilhar isso com eles", apontou.
No balanço da década, o diretor destaca particularmente o facto de este centro ter permitido às gentes de Bragança "um acesso muito próximo e muito fácil a um universo que é o da arte contemporânea"
"Não precisaram de se deslocar para ver exposições, as exposições vieram ao centro, e vieram aqui grandes exposições", continuou.
O CAC recebe visitas de todo o país e do estrangeiro, atraídos pela arquitetura do premiado Eduardo Souto de Moura, que projetou a requalificação do edifício histórico onde está instalado, também pela obra da pintora Graça Morais, e pelas exposições que ali foram sendo apresentadas.
Foi dos primeiros do género no país a ser construído fora das grandes cidades e por lá já passaram nomes como Paula Rego, Júlio Pomar, Ana Vieira, Alberto Carneiro, Pedro Calapez, Julião Sarmento, entre outros, artistas de várias gerações, assim como criadores espanhóis.
"Também procuramos criar aqui uma relação, uma dinâmica com o nosso público espanhol, que, em termos de estrangeiros, é o público principal", apontou o diretor, lembrando que o CAC de Bragança tinha sido pensado para criar um polo transfronteiriço com outro museu em Zamora, Espanha, e fazer circular a obra de artistas portugueses e espanhóis.
O projeto "não se fez porque do outro lado da fronteira não fizeram o museu".
De além das fronteiras da Europa, expuseram neste centro artistas como a israelita Dvora Morag, e por ali passaram as principais coleções de arte contemporânea portuguesa, tanto públicas como privadas.
Houve também uma série de coproduções com outras instituições, nomeadamente com o Musac León, Fundação Calouste Gulbenkian, Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Municipal de Bragança e companhias de dança contemporânea e de teatro, música, assim como conversas com escritores, com criativos.
O CAC também produziu conhecimento com a publicação de catálogos das exposições apresentadas.
O público local "reagiu positivamente logo de início", e o Centro tem já um público "muito fiel, de todas as idades e classes socais".
"Nunca houve esta ideia de elitismo, de maneira nenhuma", garantem os responsáveis.
Numa cidade que não chega a 20 mil habitantes, o centro conseguiu a média de "12 mil a 15 mil visitantes por ano", e levou o nome de Bragança além-fronteiras
"Hoje temos as instituições de referência a procurarem, a trabalharem connosco. Isso prova que estamos a fazer um bom trabalho", referiu o diretor, indicando que "o centro tem levado também exposições fora de portas".
Tem "uma equipa muito pequenina" com cinco pessoas, quando o ideal seria, "no mínimo, umas quinze".
Para a "madrinha" Graça Morais, transmontana da aldeia do Vieiro, em Vila Flor, as estatísticas não são o mais importante, mas "as pessoas que visitam o centro saem mais ricas", sobretudo as crianças.
A pintora lembra-se do tempo em que estudava no liceu de Bragança e, aos 15 anos, tinha apenas um museu na cidade, o Abade de Baçal. Agora tem "a rua dos museus", com cinco na mesma artéria da zona histórica.
Para Graça Morais, a importância deste espaço, que é tutelado e financiado pela Câmara de Bragança, também é económica.
"Nos tempos de crise, lembro-me de muitas pessoas dos restaurantes daqui de Bragança me agradecerem porque, graças a este centro de arte, eles não abriram falência, pois tinham visitantes que vinham cá e que iam aos restaurantes", contou.
HFI // MAG
Lusa/fim
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