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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

A ação dos padres de Brancanes em Vinhais. O Seminário da Senhora da Encarnação e constituição da Venerável Ordem Terceira da Penitência

Por uma causa, tenacidade
Cathalogo da Livraria do Extincto Convento de Venhaes
Cópia assinada pelo Secretário da Administração-geral de Bragança
Ordens/Mosteiros: Convento e Seminário de Nossa Senhora da Encarnação de Vinhais
Localidade: Bragança
Tipologia: Inventário de arrecadação de livraria
Ano: 1839
Entidade detentora: Biblioteca Nacional de Portugal
Cota: BNP MSS. 208, n. 73

Simultaneamente, encerravam-se todas as contradições e impasses relacionados com a instalação de outras comunidades religiosas em Vinhais. De facto, já em 1717, quando dois missionários trinos do seminário de Sagun  pregavam a missão na região transmontana, se tinham registado tentativas de fundar uma casa em Vinhais para albergar padres desta comunidade castelhana. Nesta altura, a iniciativa de tal fundação devia ter pertencido a António de Morais Ferreira, pai de José de Morais Sarmento, uma vez que quando Frei João Velasquez chegou a Lisboa, na Quaresma de 1718, era dele a carta que levava para o segundo, recomendando-lhe toda a ajuda que pudesse à causa. Contudo, as diligências efetuadas na corte não foram suficientes para vencer a animosidade da comunidade do Varatojo, representada por Frei Gaspar da Encarnação, cujos argumentos influenciaram a decisão de D. João V de não caucionar a instalação dos padres castelhanos na vila transmontana. 

Em 1723, Após constatar que não existia maneira de inverter os entraves à criação do hospício em Vinhais, José de Morais Sarmento recolher-se-ia à vila.
Diga-se que a estratégia dos frades trinos vinha sendo desenhada desde 1714 e tinha em Frei Álvaro da Apresentação um aríete. Por isso a aproximação à mitra da Sé de Miranda do Douro só se entende no quadro da criação de condições propícias à criação no bispado de hospícios para os frades Descalços da Santíssima Trindade. Ao prestígio intelectual, Frei Álvaro da Apresentação – lente de Sagrada Teologia na universidade de Salamanca – acrescentava a circunstância de ser natural de Chaves, o facto de ser sobrinho da madre abadessa das freiras beneditinas de Bragança e a autoridade de quem, com alguma frequência, subia aos púlpitos de Bragança e de Chaves. 
Assim se explica que este eclesiástico tenha conseguido fundar os hospícios de Miranda do Douro e de Mirandela.
Em 1724, Frei Álvaro da Apresentação, quando pregava  a Quaresma em Vinhais, percebendo os anseios dos locais, apressou a proposta da fundação de um mosteiro. Porém, conhecida a notícia, os franciscanos de Bragança saíram a terreiro, esgrimindo a falta das competentes autorizações fundacionais, para mostrarem ao bispo e ao rei o seu descontentamento. De imediato o monarca passou ordem ao corregedor para mandar demolir os hospícios de Mirandela e de Miranda do Douro e fazer recolher a Espanha os religiosos. A gravidade do caso levou o geral dos trinos descalços a enviar a Lisboa um seu representante, Frei Cristóvão, onde alcançou a revogação da ordem anterior. Na sequência deste lance, Frei Álvaro foi mandado recolher.
Contudo, oferecia-se uma nova oportunidade para a concretização dos intentos de alguns notáveis de Vinhais. Daí que José de Morais Sarmento, em nova petição apresentada a D. João V, afirmasse a pretensão de se poder erigir hum hospício de missionários reformados que, de acordo com as palavras de Frei Cláudio da Conceição, não continha quaisquer indicações que deixassem ver a predileção por esta ou por aquela ordem. Escutado o apelo, foi concedida a mercê e, em 1740, foi passado o competente alvará. Mas a José de Morais Sarmento estava ainda reservado o vaso do desconsolo à medida que ia sendo confrontado com a indisponibilidade de sucessivos institutos, como os Carmelitas Descalços, os Capuchos, os padres do Seminário do Varatojo e até dos franciscanos de Brancanes, para virem para Vinhais.


Em anexo transcrevemos uma passagem da “Cónica de Brancanes” em que se destaca a pretensão de José de Morais Sarmento e a sua persistência de décadas na fundação do convento e seminário. Será, pois, nesta perspetiva que se deve entender a calorosa e concorrida manifestação que se organizou para uma das entradas dos missionários em Vinhais, em 1744, e a prontidão com que este fidalgo, um interlocutor atento e privilegiado, fez chegar a informação à casa de Setúbal. Mas nem a capacidade de persuasão nem a oferta dos cabedais para se fazer a obra nem a garantia de assegurar “huma suficiente congrua” ao seminário determinavam o guardião de Brancanes a aceitar ou a formalizar a recusa definitiva. Mais tarde, esta prolongada ambiguidade levaria o cronista a lamentar que desse Deus as nozes a quem não tem dentes.
Por isso, seria necessário acionar outros canais que pudessem levar a Roma a insistência de José de Morais Sarmento e o apoio do bispo. Em 20 de fevereiro de 1753, Benedito XIV mandava passar o Breve Ecclesiae Regimini, diploma que não só consentia na criação de um convento mas ainda determinava que fosse de missionários franciscanos. Por proposta do geral da família seráfica a matéria seria submetida à análise da comunidade de Brancanes, votando-se pela fundação e elegendo-se os padres fundadores, ato em que se contaram “mais votos (a favor de) frei António de Nossa Senhora das Neves”.
O epílogo de um processo longo e obtuso ou a resposta consequente ao auto de medição e de visita executado nos últimos dias de outubro de 1751, por incumbência do bispo de Miranda do Douro, D. Frei João da Cruz, que teve como protagonistas maiores o reverendo Francisco de Morais Sarmento, abade de S. Facundo e protonotário apostólico, e o padre João Afonso Roxo, cura de Vinhais. Assim se reconheceu o sítio onde se daria início à edificação do seminário para os missionários apostólicos, os mesmos que muito se empenharam na criação da Venerável Ordem Terceira da Penitência de Vinhais.

continua...

Luís Alexandre Rodrigues

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