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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Lendas do Concelho de Mirandela

São várias as lendas que existem no concelho de Mirandela, perdendo se no tempo, esquecendo se com as gerações que vão passando, já que elas são quase todas orais, e, muitas ainda não estão registadas. O Abade de Baçal refere, no seu volume n.° IX das Memórias Arqueológico Históricas do distrito de Bragança, p. 495 e seguintes, uma listagem de lendas que ele teve conhecimento. Sem pretendermos ser exaustivos, mas apenas enumerando algumas, indicaremos outras mais em pormenor, na esperança de que, com o tempo se vá fazendo a recolha do que ainda se conseguir fazer. No termo das Aguieiras há uma lenda de moura encantada e de tesouros nos sítios chamados Pipéla Rigueirais e Fraga da Moura. Na Bouça sítio de Muralha há buracos nas fragas em duas filas onde, segundo o povo, os mouros espetavam as bandeiras. Em Cabanelas a lenda das duas panelas, uma de dinheiro e outra de peste. Na Freixeda, no Murinho, há uma galeria comprida, por onde cabe um homem de pé e no extremo escadas para descer para outra ou para um poço mais fundo.
Dizem que esta galeria dá volta ao Cabeço e, no alto deste apareceram pias com muito dinheiro, das quais ainda se conhecia o sítio onde estavam. Nesta freguesia, e no sítio do Salto perigoso, diziam andar uma cabra encantada, pulando de umas fragas para outras. Em Romeu, na Horta de N.ª Sr.ª, no Lugar de Vale de Couço, diz se que fora ali que aparecera a imagem de N.ª Sr.ª de Jerusalém de Romeu, onde lhe erigiram uma Capela. Mas Ela, de noite, fugiu para o local da aparição, até que, por último, tantas vezes a levaram que lá se resignou a ficar na Capela. Igualmente em Santa Bárbara, Vale de Prados de Ledra apareceu a Senhora, que o povo levou para as Múrias. Mas de noite fugia para as ruínas, até que, tantas vezes a levaram que, por último, lá ficou.

Lenda de Abreiro:

No termo de Abreiro há um local com vestígios de civilização neolítica, a que chamam de Arcã. Na povoação está um elegante Cruzeiro com o brasão de armas de Diogo de Mendonça Corte Real, ministro de D. João V, que foi quem mandou fazer a ponte de Abreiro sobre o Tua, formada por dois arcos, um de grandes proporções.
Então diz a lenda local que a ponte, a arcã e o cruzeiro foram construídas de noite pelo diabo, que prometeu também fazer uma estrada da ponte à povoação a troco da alma que uma moça lhe entregaria para mais comodamente passar o rio, a fim de ir buscar água a uma fonte na margem esquerda. Conforme o acordo dizia, o diabo dava a ponte concluída numa só noite e antes de cantar o galo. Quanto mais intensamente trabalhava uma legião de demónios, carregando, aparelhando e assentando pedras, o galo canta.

Que galo é? perguntou o rei das trevas infernais.
Galo branco responderam-lhe.
Ande o canto ordenou ele.
Em breve novo cantar do galo se ouviu.
Que galo é? perguntou de novo.
Galo preto. Pico quedo vociferou ele.

Faltava apenas uma pedra para assentar nas guardas da ponte e assim ficou, pois que, por mais vezes que os homens a tenham colocado no lugar, aparece derrubada pelo diabo no rio na noite seguinte.

Lenda de Aguieiras:

Em Aguieiras há um grande fraguedo onde assenta a Capela de Nossa Senhora dos Montes. Diz o povo que um homem da terra sonhou que havia lá um tesouro. Foi procurá lo. Mas aparece lhe o diabo que lhe promete dar lho se ele lhe desse a alma em troca.
Então regressou a casa. No dia seguinte foi lá procurá-lo de novo, mas levou um galego que se comprometia a dar a sua em troca de algumas moedas. Só que, quando apareceu o diabo em figura horrenda assustou se e disse: Valga me Dios". Imediatamente desapareceu o diabo e o tesouro que os homens já tinham colocado à vista. Os homens saíram a "pés de cavalo", isto é, com a velocidade máxima que puderam.

Lenda da Fonte do Bispo:

Em São Salvador existe uma fonte com o Nome da Fonte do Bispo.
Foi aberta, segunda a lenda, com uma bengala do Bispo de Bragança, falecido naquela localidade em 1819, D. António da Veiga Cabral e Câmara. Como a fonte tem virtudes curativas extraordinárias em várias doenças, o povo atribui as à bênção especial que o bispo lhe lançou (considerado santo na terra). E, ainda em meados do século XX em grandes secas (falta de chuvas), ou nas grandes chuvadas, quando há crises agrícolas, o povo de S. Salvador recorre à intercessão do Santo (Bispo), atribuindo lhe a bênção dos frutos nas abundantes colheitas.

Lenda da Flor que nasceu na Lama:

No volume I de "Lendas de Portugal" de Gentil Marques, página 383 e seguintes vem registada em pormenor uma lenda que mostra a origem do nome de Lamas de Orelhão, freguesia de Mirandela, como vimos. Diz o seguinte resumidamente: Havia dois irmãos, um rapaz e uma rapariga que viviam em Trás osMontes, mas que ninguém sabia donde tinham nascido. Ela era jovem e bonita. Ele mais velho mas com muita sabedoria que deixava as pessoas embaraçadas. O passatempo preferido deles era andar pelos campos falando das coisas do Céu e namorando as coisas da Terra. O Rei Mouro que governava aquelas paragens quis conhecê-los e foi ao encontro deles sem se aperceberem. Trocaram palavras, ficando ela a desconfiar desse Cavaleiro que lhe dirigia elogios, mas que não gostava que lhe falassem em Deus. Ele ficou a saber que os dois irmãos o tinham por tirano (ao Rei Mouro), porque `foi por ordem desse tirano que mataram nossos pais" diz o irmão. O cavaleiro deixou os mas não se afastara dali. E, em plena noite raptou a moça "que era tão bonita, tão fresca, que faz entoitecer o coração de qualquer homem", como dizia o cavaleiro. Este levou a até uma pequena comba convencido de que ali ficava em segurança. Só que, de repente, não consegue ver a linda jovem e amaldiçoa a feitiçaria, gritando alto. Quando o irmão acordou ficou aflito, e foi à procura da irmã. Pelos gritos deu com o cavaleiro no fundo da pequena comba. Lutaram os dois tendo o cristão descoberto que o cavaleiro era o próprio rei mouro.
Este levava a melhor e, nesse momento, aparece a irmã. O irmão acabou de morrer ali mesmo. O rei avançou para a jovem, enraivecido. Só que ela diz lhe "Nem mais um passo"... " Se derdes um passo mais... ficareis atolado nesse lodo que está em vossa frente ". Era lodo o que o rodeava. Mesmo assim consegue decapitar a moça cristã... Depois, para esconder o crime que cometera afogou nesse lodo o corpo decapitado da jovem e o cadáver do o irmão.
Convencido de que ninguém descobriria o crime, desapareceu. Só que alguém assistira à cena, pois no dia seguinte, gente que foi ao lameiro para recolher os corpos, viu que no lodo nascera uma flor lindíssima, viçosa e pura... A notícia espalha se de terra em terra, e, como se tinha passado numa pequena comba perto de uma terra que se chamava Orelhão, naquele sítio passou a ser conhecido por Santa Comba das Lamas de Orelhão. O povo encarregou se de santificar a jovem que morreu sacrificada às mãos bárbaras e sanguinárias do rei mouro.

Lenda de Lamas de Orelhão:

Na obra do Abade de Baçal, Vol. IX p. 448, vem esta lenda que tem certas semelhanças com a anterior: "E desta vila eram naturais S. Leonardo e Santa Comba de gente lavradora e pobre, que andavam no monte guardando o gado de seus pais. O Rei mouro que se chamava Orelhão quis entender com a moça. Eles foram fugindo até onde está um penhasco alto e a santa se meteu pela fraga e ali escapou, que milagrosamente lhe abriu a passagem para dentro. E dizem lhe tiraram as tripas, coração e as botaram a uni poço que está logo por baixo do penhasco, o qual nunca seca apesar de estar no alto da serra. E da parte de fora do cabeço está outra capela da invocação de S. Leonardo, que dizem ser aqui martirizado. Aqui acodem muitas povoações em procissão de vários povos a pedirem água aos santos e tudo Deus lhe concede por sua intervenção. A esta parte lhe chamam agora a Serra do Rei Orelhão e em um cabeço que está para sul da Capela dos santos está o refúgio onde morava o rei mouro".

Lenda da Torre de D. Chama:

Segundo a lenda, o topónimo Torre de D. Chama terá vindo "pela Torre que nela havia no Castelo e que por isso se chamou Torre. E acrescentarase Dona Chama porque era a vila e a Torre de uma grande Senhora gentia, no tempo em que os mouros residiam nestas terras, chamada Dona Chamorra. Sendo inclinada ilicitamente aos cristãos mandava chamar aqueles de melhor perfeição e os metia na torre para satisfazer o seu apetite.
Para que a não fossem descobrir não tornavam mais a sair por lhe fazer ir conhecer o mundo da verdade. Sucedendo ir um mais avisado diz se que satisfizera o seu apetite e adormecera se acostada a ele. Como a sentisse dormindo se retirou como pode levando lhe um anel que lhe tirara do dedo, coisa de grande valor, e bem conhecido dos criados (o dito anel). E o levara no dedo para sinal que a Dona Chamorra lhe dera para assim os enganar para que o deixassem passar as guardas, o que passou. Estando já livre, Dona Chamorra despertara, acudiu mandando o chamar para que voltasse ali que a "Dona Chama". Pensando que ele a descobrira matou se a si mesma". Daí se chamar a Torre de Dona Chamorra, passou a chamar se a Torre da Dona (que) Chama". (Abade de Baçal, Memórias Arqueológicas..., vol. X, p. 265.)
Professor Virgílio Tavares/2001 Mestre em História Moderna e Contemporânea.

In III volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses, coordenado por Barroso da Fonte.

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