(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Antes de escrever sobre o Café Flórida quero declarar que o faço de boa-fé e cingindo-me apenas ao histórico.
Como terei de identificar algumas pessoas, peço desculpa pelas omissões que forçosamente cometerei já que o relato será sucinto e servirá apenas como um pequeno histórico baseado em documentos que não possuo mas que consultei, durante a minha ligação à firma que fundou este mítico Café-Restaurante e Snack-Bar Flórida, VAZ &. RIBEIRO e Comp.Limitada.
Declaro também que me ligam ao Flórida, sentimentos e afectos que só se esfumarão após a minha passagem para prestar contas a Deus! A minha vida de hoje só foi possível dadas as boas e más horas que me aconteceram no Flórida e que são parte da minha vida e assumo plenamente, hoje como sempre!
Antes do final da década de 50 do século passado, a Rua Alexandre Herculano no seu todo até à Moagem do Loreto era talvez a mais comercial da cidade. Na secção entre o acesso ao Jardim e as Grades do Loreto havia duas firmas díspares nos objectivos comerciais, mas uma delas era novidade histórica em Bragança pois foi a primeira fábrica e balcão exclusivamente dedicados ao fabrico e venda de Pastelaria e produtos afins. Chamava-se Pastelaria Ribeiro e localizava- se onde hoje se encontra a Pastelaria Dómus.
Do lado oposto da rua e um pouco antes no seu número de Polícia, havia um Armazém de farinhas e produtos afins da firma Lopes & Sá Morais. Era escriturário nesta, Álvaro Carvalho Vaz e na outra o proprietário e pasteleiro um Senhor chamado Zacarias Ribeiro.
O Álvaro era jovem e dinâmico e o Ribeiro era homem de meia-idade e competente no seu ofício. Tinha este a aura de pioneiro pois pasteleiro, pasteleiro, era o primeiro a fixar-se em Bragança.
Era tempo de construção do edifício, que era também novidade pelo risco e materiais usados que se designava por Edifício Domingos Lopes e concebido pelo Arq. Albino Mendo, que utilizou uma curvatura não simétrica na cornija e cores vivas nos painéis das varandas bem assim como “gresite” nas paredes que no rés-do-chão já não existe.
Este triângulo, Álvaro, Ribeiro e Edifício, estava destinado a fazer História em Bragança, num sector que esperava modernização, que aconteceu com a abertura da Confeitaria Flórida no dia 15/08/1959.
A escolha do nome coube ao Ribeiro que era amante de flores, bem assim como o dia da abertura que é dia Santo (Senhora da Assunção) que preenchia os requisitos da sua religiosidade evidente.
O Álvaro era o visionário de coisas novas e ele queria para dar à cidade, algo de prestígio e para si, lucros financeiros e lugar cimeiro junto dos seus pares, comerciantes e industriais do Norte de Portugal.
Durou mais ou menos dois anos esta sociedade que se desfez pelo simples concluir que Álvaro era constituído de outra fibra que deixava a de Ribeiro mal saído da partida estando ele já passando a meta. Amigavelmente, separaram-se e Álvaro aproveita a liberdade para alargar o que já a Vox Populi designava por Café Flórida. Terminava assim a firma Vaz & Ribeiro e começava a de Álvaro Carvalho Vaz.
Penso que o contrato da água com a CMB ainda está com o nome de Vaz & Ribeiro.
Com a ida do Dario para África o espaço estreito que ocupava a Sapataria é usado para alargar o Flórida que passa assim a ter o interior modificado para melhor com o balcão e a copa numa disposição diferente, já onde hoje se encontra. Estava o Flórida destinado a ser o Café preferido da chamada classe média brigantina. A preferência não é difícil de explicar dado que a própria classe média, excluindo comerciantes e professores (as) do Liceu, estava em formação.
Com os primeiros formados no Curso Geral do Comércio, da antiga E I C B , a administração pública, a Banca, os Seguros e até algumas firmas mais vanguardistas, abriram os seus quadros a estes novos “letrados" que se constituíram como a nova esperança de progresso que o Estado Novo idealizava.
Um homem influente no sucesso do Flórida foi o Manuel, irmão do Álvaro, que hoje conhecemos por Manuel do Lisboa. Com o seu modo sereno e sorriso permanente era o Manuel a trave mestra que segurava o Flórida. Lembro-me que na primeira abertura havia duas moças empregadas que juntamente com ele, eram uma lufada de ar fresco na forma de o "Staff" dos Cafés trabalharem.
Eram ambas da cidade e chamam-se, uma Alice, que casou com o Fernando Vilela e a outra Conceição, que mais tarde foi para Lisboa e seguidamente para Londres onde ainda vive.
O Manuel como gerente do Flórida mantém-se até à mudança para o Café Lisboa que o Álvaro comprou à D. Maximina e Senhor Coelho, que regressados, o haviam aberto nos meados de 60.
Com a mudança do Manuel para o Lisboa, começa um período de grande azáfama, no que respeita a volume de negócio e diversidade/qualidade no “Staff".
O Álvaro sabia que, para manter os níveis de Serviço, que a emergente classe média lhe exigia deveria recrutar pessoal devidamente preparado e por isso ia recrutá-lo ao Porto. Implicava Isto que as despesas com o pessoal subiam em flecha.
De qualquer modo a casa fazia receitas que pagavam todas as despesas e davam margem para outros voos.
Em meados de 68 resolve fechar para obras e foi idealizado um tipo de estabelecimento que prestasse serviço de qualidade nas três vertentes para as quais estava licenciado e possuía alvará, Café, Restaurante e Pastelaria. Fazem-se então obras que, grosso modo, são as que deram forma ao actual Café Flórida. Reabre em princípios de 69 tendo como gerente o Cândido, após a ida do Manel Teixeira para a tropa.
O Cândido era seu primo que se manteve nessa função até à ida para o Brasil.
Há um outro homem que faz parte da história do Flórida e que foi um dos seus mais brilhantes elementos como “Staff"e Gerente. Chama-se Manuel Teixeira. Hoje todos o conhecem por Manuel do Restaurante. O Manel fez-se homem no Café Central tendo transitado para o Flórida até ir para a Tropa.
Quando regressou da Guiné, creio que foi trabalhar para Chaves num nível profissional mais elevado. O Álvaro tudo fez para o trazer de volta ao Flórida onde permaneceu na gerência até à abertura do Cruzeiro em 1972. Foi este tempo o melhor em termos históricos do Flórida . O Manuel na gerência, o Chef Correia e o Chef Chico mais o Domingos na Cozinha, no balcão e mesas, o Bento e o Fernando, tendo nas mesas em cima o Abel e também o Valdemar e creio o Rodinhas.
Quando se fez a modificação em 1969, entrou em acordo com a Senhora Cat'rina e marido e num forno que tinham inactivo nos Batoques, dito da Favas, fez a expensas suas um edifício para Residencial nos 1º e 2º andares e a fábrica de Pastelaria no rés-do-chão ficando assim com capacidade para alojar o “Staff” que trazia do Porto.
Com a abertura do Cruzeiro, o Manel Teixeira passa para a sua gerência e o Cândido fica na do Flórida. Tinha assim como estabelecimentos abertos e por ordem de abertura sob os auspícios da firma Álvaro Carvalho Vaz, O Flórida, o Lisboa, o Cruzeiro, o Salão de Jogos Flórida II e a Residencial Nossa Senhora da Ribeira. Após a abertura do Cruzeiro e porque a gestão dos recursos humanos era difícil o Restaurante do Flórida começa a decair (1973/74).
Entrava-se assim num período de estagnação que não foi possível ultrapassar.
FIM DA PRIMEIRA PARTE
Bragança, 09/01/2019
A, O. dos Santos
(Bombadas)
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