segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

A Gazeta de Bragança – um jornal regenerador ao serviço de Abílio Beça

A Gazeta de Bragança sucedeu, em 1891, ao Sudoeste, tendo tido com fundador Abílio Beça, que já se estreara, antes, nas lides jornalísticas, como diretor do jornal O Brigantino, cargo em que sucedeu ao padre João Morais Pessanha. Abílio Beça, além de fundador, foi também diretor da Gazeta de Bragança, sempre que as suas funções oficiais de deputado ou de Governador Civil lho permitiram.
Em 1900, a ficha técnica da Gazeta de Bragança, que se afirma “Folha Regeneradora”, é preenchida pelos nomes de José Maria da Graça Abel como editor, e de Veríssimo Augusto Ferreira como administrador. Em janeiro de 1902, Veríssimo Augusto Ferreira acumula as funções de administrador e editor. Na edição de 7 de janeiro de 1906, aparecem Sebastião Pimenta como editor, e Mário de Almeida como administrador. Porém, na edição de 5 de janeiro de 1908, o nome de Abílio Beça já consta novamente como diretor, permanecendo o mesmo administrador.

Tendo falecido num trágico acidente, na estação de comboio de Salsas, ao cair para debaixo do comboio que tentava apanhar em andamento, em 27 de abril de 1910, Abílio Beça foi substituído pelo doutor Alfredo Rodrigues na direção deste jornal, que passou a ter Patrocínio Felgueiras como redator principal. O último proprietário foi o administrador Mário de Almeida. O nome de Abílio Beça continuou a aparecer na ficha técnica, até à sua extinção, em 19 de outubro de 1910, como seu fundador.
Como colaboradores, destacamos os nomes de duas figuras importantes da cultura brigantina, talvez as mais importantes daquela época, Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal, e o filólogo Augusto Moreno. Este último, um republicano assumido, escreveu aí alguns textos sobre Educação.
A maior parte dos textos da primeira página, que correspondem ao que podemos classificar como artigos de fundo, são, por um lado, quase sempre de apoio à Monarquia, aos seus representantes e ao Partido Regenerador e aos seus líderes nacionais e locais, nomeadamente ao doutor Abílio Beça, e, por outro, de crítica à ação dos governos do Partido Progressista ou apoiados por esta força política.
Em todo o caso, não se pode escamotear o caráter faccioso da Gazeta de Bragança, à semelhança dos outros jornais que se diziam apoiantes da mesma bandeira partidária ou defendiam a bandeira adversária.
Para mais facilmente se compreender a temática tratada nas primeiras páginas da Gazeta de Bragança, apresentamos o Quadro n.º 73, com os assuntos focados em várias edições.
Como se pode constatar pela consulta do referido quadro, a maior parte dos assuntos é de caráter político e não traz a identificação do autor. Temos oito artigos de crítica à ação dos governos progressistas, uma crítica a um Governo de unidade, e seis artigos de apoio aos líderes do Partido Regenerador, Hintze Ribeiro num caso, e Júlio de Vilhena no outro. Aparece ainda um texto de apoio ao Governador Civil, que era o próprio fundador e proprietário do jornal, e um texto de crítica ao jornal local O Nordeste, órgão do Partido Progressista. Daqui é fácil concluir que o jornal existia, em primeiro lugar e acima de tudo, para defender o Partido Regenerador e os seus líderes nacionais.

As críticas que são feitas ao Partido Progressista são, curiosamente, as mesmas que O Nordeste fazia aos partidos e líderes do Partido Regenerador: clientelismo, oportunismo, incompetência. E apesar de, na temática, não se mostrar tão sectário como O Nordeste, na linguagem, a Gazeta de Bragança não difere muito daquele, como os textos que reproduzimos a seguir nos comprovam.

Se em termos de artigos de fundo, quase todos eles colocados na primeira página, a Gazeta de Bragança apresenta uma temática mais alargada do que O Nordeste e menos circunscrita às picardias entre os dois principais jornais da Cidade, também em termos informativos revela maior abrangência, como se pode ver na notícia que se segue.

Em todo o caso, os critérios de noticiabilidade adotados permanecem ainda muito influenciados pelo estatuto social dos protagonistas das notícias, como se pode ver nos seguintes textos: “Realizou-se há dias em Bragança o enlace matrimonial do sr. Alferes Luís Ramires com a sra. D. Adelina Esteves, filha do sr. Capitão Adelino Esteves, comandante da guarda-fiscal”; “Em Vinhais consorciou-se no domingo último o sr. Daniel Rodrigues, professor do liceu desta Cidade, com uma sobrinha do sr. Francisco António Ferreira, dos Salgueiros”; “Fazem anos: Dia 18, terça-feira – a sra. D. Joana Adelaide Ferreira Sarmento de Azevedo”; “Regressou há dias da Foz, com sua família, o sr. capitão Diocleciano Martins, diretor da carreira de tiro desta Cidade. Em sua companhia veio também a menina D. Lourdes Beça, filha da exma. sra. D. Ana Beça, que regressou do Candal e da Granja”; “Partiu para Braga com sua família o sr. Herculano de Matos Sarmento de Beja, delegado do tesouro naquele distrito”.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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