Começando pelo período correspondente à Monarquia, há dois jornais bragançanos que conseguiram atravessar todo o período da primeira década do século XX. O primeiro deles é o Nordeste, órgão oficial do Partido Progressista, que começou a sua publicação, como já vimos, em 1888, e que se manteve até ao último ano da Monarquia, em 1910. O segundo é a Gazeta de Bragança, designada por “folha regeneradora”, fundada pelo doutor Abílio Beça, em 1892, e que sobreviveu apenas seis meses à trágica morte do seu fundador, tendo cessado a publicação 15 dias após a implantação da República.
Sendo dois jornais que se apresentavam como afetos aos dois principais partidos da Monarquia – o Partido Progressista e o Partido Regenerador –, entende-se facilmente o seu desaparecimento após a implantação da República.
Para lá destes, só mais um jornal conseguiu uma longevidade superior a cinco anos: o Distrito de Bragança, afeto aos regeneradores, não da fação do doutor Abílio Beça, mas do conselheiro Teixeira de Sousa. Após a implantação da República, publicou-se, entre 1911 e 1915, outro Distrito de Bragança, mas, desta vez, quinzenário. Aliás, um título parecido, O Distrito de Bragança, já tinha sido publicado em 1885, como referimos anteriormente.
Na lista dos jornais de Bragança neste período, não incluímos uma publicação periódica que se dedicava aos problemas do Distrito, o Boletim Parlamentar do Distrito de Bragança, editado em Lisboa, de 1901, mensal, dirigido pelo escritor Trindade Coelho, que teve uma vida muito efémera, uma vez que saíram apenas cinco números, mas importante para o conhecimento da vida política do Nordeste Trasmontano. E, logicamente, não referimos, também, a Ilustração Transmontana, editada no Porto, entre 1908-1910, a melhor revista que alguma vez se publicou sobre Trás-os-Montes, na qual colaboraram alguns dos intelectuais mais relevantes do tempo, como Basílio Teles, Cristiano de Carvalho, Cristóvão Aires, Daniel Rodrigues, Francisco Manuel Alves, Joaquim Leitão, Joaquim de Vasconcelos, Manuel Laranjeira, Manuel Monteiro, Maximiano Lemos, Rocha Peixoto, Sampaio Bruno, Silva Esteves, Sousa Costa, Trindade Coelho, etc. Nem o Suplemento da llustração Transmontana, designado mais tarde por O Trasmontano, autêntico jornal que se publicou durante os mesmos anos.
Ainda neste período, surgiu A Pátria Nova, que veio a ser publicado durante sete anos, mas como só os dois primeiros anos dizem respeito a esta época agora em análise, deixaremos a sua análise para o período seguinte.
Tendo em consideração os títulos apresentados, importa, desde já, referir a sua forte ligação aos partidos políticos existentes. Na maior parte dos casos, eram afetos ao Partido Regenerador, como acontece com a Gazeta de Bragança, o Distrito de Bragança e o Correio Brigantino. Apesar de regeneradores, os três não deixaram de se combater entre si, pela simples razão de que eram afetos a líderes regeneradores diferentes. Assim, enquanto o Distrito de Bragança estava ligado a Teixeira de Sousa, a Gazeta de Bragança tinha como diretor Abílio Beça, que era também o seu proprietário. O Nordeste era o órgão do Partido Progressista, a força política com menos implantação em Bragança, segundo as palavras do próprio jornal num dos seus números. A Pátria Nova era um jornal republicano, mas só apareceu dois anos antes da implantação da República. Os diretores de alguns destes jornais são líderes políticos locais, como acontecia com a Gazeta de Bragança e com A Pátria Nova, que tinha por fundador e diretor João de Freitas, professor do Liceu Nacional de Bragança e que, como já vimos, foi o primeiro Governador Civil do Distrito após o 5 de Outubro de 1910.
Registe-se que, a propósito da “revolução” do Seminário de Bragança, que ocorreu na noite de 12 para 13 de dezembro de 1904, o Nordeste e a Gazeta de Bragança tomaram posições contrárias. Enquanto o primeiro tomou posição a favor dos seminaristas expulsos por decisão do bispo de Bragança em edital sentença de 23 de janeiro de 1905, a Gazeta de Bragança procurou defender o prelado diocesano, o que levou, em 15 de março, à realização de um auto-de-fé, na Praça de Bragança, no qual os exemplares deste jornal foram queimados.
O Baixo Clero, apesar de o seu diretor, o padre João Manuel de Almeida Pessanha, ser um militante ativo do Partido Progressista, é um caso único no panorama do jornalismo bragançano, uma vez que as suas motivações não passavam pelo combate partidário, mas pela contestação à gestão feita na Diocese pelo bispo de Bragança, D. José Alves Mariz. Na raiz desse conflito esteve uma queixa ao Tribunal de Bragança, feita pelo bispo contra este sacerdote, sob a acusação de um suposto crime grave, e, mais tarde, um problema de autoridade eclesiástica entre o mesmo bispo e três capelães da Diocese, entre os quais João Pessanha, como já referimos anteriormente.
Antes de fundar o jornal, em 1899, João Pessanha ainda publicou alguns textos, num panfleto distribuído em Bragança e depois reproduzido em O Primeiro de Janeiro, contra D. José Alves Mariz. A publicação de O Baixo Clero foi, no entanto, sempre irregular, tendo tido um primeiro período entre 1899 e 1902, com 29 números, e alguns meses de 1905, ano da morte de João Pessanha, com 18 números publicados.
Por outro lado, destaque-se que a maior parte das pessoas envolvidas nos jornais desta década são professores do Liceu, alguns deles sacerdotes.
Em próximas publicações efetuaremos uma análise mais desenvolvida dos três títulos mais importantes deste período, o Nordeste, a Gazeta de Bragança e o Distrito de Bragança.
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
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