Qualquer dicionário básico nos informa que paradoxo significa coisa incrível, desconchavo, afirmação ao arrepio do bom senso, extravagância.
Noutros tempos os primeiros contactos dos adolescentes com a filosofia passavam por espantosos paradoxos, sendo que o mais popular era o de Zenão de Eleia, que contrariava a lógica, colocando uma tartaruga, vagaroso réptil, a vencer o semideus Aquiles numa corrida de velocidade.
Hoje a política continua a ser campo fértil de prestidigitadores, semi-mágicos, semi-palhaços, que contam com turbas de pategos, de boca aberta perante algumas habilidades de barbas brancas, porque não se dão ao trabalho de dedicar uns minutos a pensar sobre a vida real.
Vivemos um tempo político paradoxal que nos deixa zonzos, tais são as contradições com que nos confrontamos todos os dias. Desde logo a própria solução governativa, que se tem mantido apesar de fragorosas diferenças no que respeita aos conceitos de estado democrático expressos pelos partidos que a suportam.
Sentem-se como autêntico desconchavo as posições relativamente à tragédia da Venezuela, que nos toca na pele, na dignidade e na honra que a cidadania requer. Milhões de portugueses sabem que não seria de esperar posição diferente da que conhecemos ao PCP. Basta relembrar Novembro de 1975 e o Verão anterior, quando por cá não faltaram figuras que só não chegaram a Chavez ou Maduro porque houve coragem e determinação para lhes barrar o caminho. Só resulta estranho que, mesmo assim, se alimente a ilusão de que dali se possa esperar verdadeira profissão de fé na democracia.
Também é paradoxal que depois de reiteradas penitências relativamente às condições do designado interior, sem resultados visíveis, nos últimos dias o BE ande num périplo a menos de 50 quilómetros da costa para se regozijar com investimentos prometidos em linhas férreas, com efeitos na preservação ambiental, esquecendo que estas gentes viram desactivar os comboios que havia e não lhes resta alternativa senão continuar a comprar carros a gasóleo para não ter que recorrer a récuas de mulas.
O ministro do Ambiente ter-se-á esquecido desta condição quando, escarninho, anunciou a desvalorização de tais automóveis, sem se preocupar com a mobilidade de quem por aqui ficou. Acresce que, ontem mesmo, foi lançado um sistema de transportes eléctricos entre Serpins e Coimbra, muito festejado. Ninguém se lembrou que, entretanto, durante anos, tudo foi feito para inviabilizar o metro de superfície em Mirandela e ninguém falou de soluções ecológicas para a mobilidade em centenas de municípios tratados com ufano desprezo.
Para eliminar os paradoxos, bastaria que se assumisse, com frontalidade, a opção pela democracia e pela defesa das liberdades, aqui e em todo o mundo, contribuindo para consolidar os valores que serão os esteios do futuro. Por outro lado, será esperável que tomemos consciência que não adianta contemporizar com jogos de enganos. Os líderes locais e os representantes do distrito podiam ficar para a história se abandonassem o baile de máscaras com que nos têm entretido.
Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com
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