João Carlos de Sá Alves, Presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Bragança dissolvida pela Ditadura Militar |
A situação do País era, com efeito, inquietante. A crise económica e financeira de 1925, ao abrir um período de grande agitação social, fragilizou consideravelmente o regime republicano, e o caso da falsificação das notas do Banco de Angola e Metrópole, em finais do mesmo ano, “salpicou de lama todo o regime, e sobretudo os principais responsáveis pela marcha da política e da economia” (Oliveira Marques).
Em 1926, a greve dos estudantes, que se mantinha há vários meses – a lembrar a greve académica de 1907 que, de certo modo, abriu o caminho à Ditadura franquista –, assim como as manifestações de rua e as cenas afrontosas que tiveram lugar no Parlamento, suscitadas pela renovação do contrato dos tabacos – “fecharam a questão dos tabacos”, escrevia Paulo Freire no Jornal de Notícias, “mas a questão dos tabacos é muito capaz de fechar o Parlamento” –, contribuíram fortemente para denegrir ainda mais a fraca imagem pública do Partido Democrático.
A classe média, que após a Primeira Guerra Mundial vira o seu poder de compra drasticamente reduzido, saturada da agitação político-partidária e receosa dos atentados bombistas de raiz anarquista, mostrava crescente simpatia pelas soluções autoritárias que, um pouco por toda a Europa – Itália, Espanha, Alemanha, Áustria, etc. – se apresentavam como uma alternativa ao parlamentarismo.
A Igreja, profundamente descontente com a política antirreligiosa e anticlerical da República, após consolidar as suas posições com o Sidonismo (mau grado a atenuação do conflito religioso que, a partir de então, se fez sentir em Portugal com a revisão da Lei da Separação e o reatamento das relações diplomáticas com o Vaticano, em 1918, assim como a imposição pelo Presidente da República do barrete cardinalício ao núncio apostólico, em 1923), ansiava por um regime conservador e pró-clerical, que lhe permitisse recuperar a influência e a tranquilidade de outrora.
Em 1925, o prestigiado general Gomes da Costa, indicado, sucessivamente, desde 1917, como chefe de todas as revoluções que aconteceram em Portugal, em carta À Nação largamente difundida pela imprensa, escrevia que ao fim de quinze anos de regime republicano, os grandes homens se encontravam afastados, o povo miserável, a Nação em desordem, e o Exército indisciplinado, esfrangalhado. E este mesmo Exército, que se considerava o único corpo da Nação com “autoridade moral e força material para consubstanciar em si” a unidade da Pátria, apoiado por boa parte da opinião pública, entendeu chegado o momento de intervir.
Nesse mesmo ano sucederam em Lisboa três revoltas militares com o propósito de terminar com o regime parlamentar. A primeira, de 6 de março, tinha por objetivo a formação de um governo suprapartidário.
Logo a seguir, a 18 de abril, deu-se nova insurreição, chefiada pelo general Raul Esteves, tenente-coronel Sinel de Cordes e comandante Filomeno de Câmara. Após escassas horas de luta, os sublevados, que tinham ocupado a Rotunda do Parque Eduardo VII, em Lisboa, renderam-se às forças leais ao Governo. Os oficiais implicados no movimento foram presos e julgados em Tribunal Militar e, ao fim de quatro semanas, como que a incentivá-los a novas conspirações, estranhamente absolvidos.
A última tentativa do ano, da responsabilidade de José Mendes Cabeçadas, sucedeu a 19 de julho.
Frustrados estes levantamentos, os militares neles implicados acharam que a nova revolta se devia iniciar, não na capital, onde as conjuras eram mais facilmente detetadas, mas na província. Assim, após a formação de um primeiro “comité” revolucionário em Braga, nos inícios de 1926, instalaram-se outros pelo País.
A morte do general Alves Roçadas e a recusa do comandante Mendes Cabeçadas em assumir a liderança deste processo, levaram o general Gomes da Costa à direção do movimento, que se iniciou a 28 de maio, em Braga, e que rapidamente colheu a adesão de numerosas unidades militares.
O Governo de António Maria da Silva pediu a demissão no dia 30 do mesmo mês e o Presidente da República, Bernardino Machado, mandou libertar Mendes Cabeçadas, preso em Santarém, encarregando-o de formar governo. No dia seguinte, a Câmara dos Deputados viu-se impedida de reunir por falta de quórum, o Palácio do Congresso foi encerrado por ordem militar, e Bernardino Machado, após entregar o poder a Mendes Cabeçadas, demitiu-se do seu cargo.
As tropas revoltosas entraram a 6 de julho na capital, aí desfilando perante o Governo recém-constituído e o corpo diplomático.
A 13 de julho de 1926, o decreto-lei n.º 11 dissolveu todos os corpos administrativos, e portanto, a Câmara de Bragança, cuja Comissão Executiva era presidida por João Carlos Sá Alves, vai dar lugar, a partir de 24 de julho do mesmo ano, ao Executivo do capitão Manuel Miranda Branco, iniciando a série dos militares que, até à Segunda Guerra Mundial, vão estar à frente dos destinos da maior parte dos municípios em Portugal.
A guarnição militar de Bragança aderiu, desde logo, ao “movimento militar”, tendo partido da Cidade com destino a Lisboa dois comboios “com um batalhão de Infantaria, com as respetivas metralhadoras e bateria de metralhadoras pesadas, num total de 800 homens, sob o comando do major senhor Manuel Valente, a fim de seguirem para Lisboa. Teve uma despedida entusiástica pela multidão que assistiu à partida, sendo levantados vivas à Pátria e a Gomes da Costa”.
O que se passou não deve ter sido muito diferente do que ocorreu em muitas outras urbes. As expectativas…
E, depois, o arranque das tropas que, como as outras unidades do País, deviam marchar para Lisboa, demorou um pouco mais. O Governador Civil é substituído por um militar, José Anastácio de Lis Falé.
Em Bragança, a contrarrevolução do 28 de Maio produziu, segundo Eduardo Carvalho, “alterações notáveis”.
A Ditadura Militar vai chamar à governação pública alguns dos numerosos oficiais que se encontravam nas unidades militares de Bragança e que se tinham batido nas trincheiras da Flandres ou em África, ostentando “gloriosas condecorações” e que, suprindo a falta de professores, lecionavam na Escola Industrial e no Liceu de Bragança. Em 28 de junho do mesmo ano, tomou posse do Governo Civil de Bragança o capitão Tomás Salgueiro Fragoso. No mesmo dia, reuniu pela última vez a Comissão Executiva Municipal presidida por João Carlos Sá Alves, estando presentes os vereadores Delfim da Conceição Conde, dr. Manuel Trindade Miranda, dr. António Augusto Rodrigues Cepeda e Joaquim Guilherme Pinto.
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Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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