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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

A PRAÇA COMERCIAL DE BRAGANÇA

Em 1882, ainda o Convento de Santa Clara era tutelado pela mitra, razão que obrigava a Câmara, como sucedeu na sessão de 12 de abril do mesmo ano, a ponderar a continuação das conversações que, havia meses, mantinha com o bispo de Bragança e Miranda, tendo em vista a obtenção da propriedade do Convento para se realizarem “melhoramentos importantes” a favor da Cidade.
Praça do Mercado de Bragança

Na mesma altura, a Câmara recorreu ao antístite, D. José Martens, animando-o a usar o seu poder persuasivo em matérias temporais e a influência junto do irmão. Estava em jogo a linha férrea entre Mirandela e Bragança e a pretensão de se obter celeridade na decisão que permitiria a concretização desta artéria tão almejada e há tanto tempo encarada como o elemento essencial para a vitalidade da agricultura, do comércio e da indústria de todo o Distrito bragançano. Estas perspetivas iam influenciando o redimensionamento de algumas áreas da Cidade, integrando-as no tecido urbano, e dando o mote que tornava pertinentes novos melhoramentos, entre os quais se contavam a construção de uma capela no cemitério público, cujos portões tinham sido encomendados no Porto e, especialmente, uma praça fechada, onde a fartura de todos os géneros alimentícios, incluindo a carne e o peixe, dariam um assinalado contributo à dinâmica de fomento que, romanticamente, andava nas bocas dos que detinham alguma forma de mando na Cidade e seu alfoz. Um dos muros de vedação do novo cemitério assentava em parte da antiga barreira que confinava, a norte, com a cerca das freiras claras, o despejado espaço onde se concentravam as atenções para a obra da nova praça comercial.
Por sua vez, a conceção da construção do novo mercado obrigaria imediatamente ao desenvolvimento de outros trabalhos, como a canalização da água, a partir da Praça da Sé, ou a melhoria das possibilidades de circulação. Neste particular, previa-se a expropriação de uma casa sita nesta Praça, pertencente a Manuel de Sá Pilão, para se demolir, de modo a possibilitar o rasgamento de uma nova artéria que facilitaria o contacto entre esta praça pública e a nova obra que se levantaria na cerca das Clarissas.
O valor que a área conventual representava para a transformação e modernização da Cidade obrigava a manter altos os níveis de atenção, conhecidos que eram os interesses de alguns endinheirados. Por isso, em 10 de maio de 1882, o Presidente da Câmara, Tomás de Sá, avançou com a proposta de se endereçar uma representação à Câmara dos Deputados, “pedindo que seja retirado da Praça por se achar denunciado para venda o Convento e cerca das extintas freiras Claras desta Cidade, por se esperar que seja concedido a esta Câmara para melhoramentos – praça mercado”.
Arrematada a empreitada da nova praça comercial pelo bacharel Eugénio de Castro e por João Pereira Charula, iniciaram-se as obras que lançaram mão “principalmente (da) alvenaria e cantaria” que se tiravam do convento. Recorde-se a existência no sítio da obra de “uma alameda de grandes negrilhos e nela duas capelas, uma de Santa Ana e outra de Nossa Senhora do Bom Sucesso”, já profanadas e que foram destruídas. Mas não tardaria a sua suspensão à ordem de um despacho do tribunal administrativo, de 4 de dezembro de 1886, que atendeu a um recurso interposto pelo secretário-geral do Distrito. Os impactos das diferenças políticas não geravam consensos a respeito deste empreendimento. A ampliação e a distorção dos factos chegaram ao ponto de gerar em alguma opinião pública a crença infundada no derrube da Igreja de Santa Clara para se afeiçoar o terreno para a praça. Por isso, em abril daquele ano, já a população se tinha amotinado, entrado no estaleiro da obra, “despedaçando e inutilizando quantos materiais aí encontrou”.
Os obstáculos políticos enredavam o processo nos fios judiciais e nos vagares burocráticos, e a obra continuava parada. Por isso, em novembro de 1891, os arrematantes apresentaram ao Município duas soluções possíveis para o impasse. Uma hipótese considerava a conclusão da obra “mediante indemnização pelos prejuízos causados pela ação do tempo”, enquanto a outra possibilidade consistia “na rescisão do contrato mediante o pagamento aos suplicantes do capital despendido nas obras feitas e mais o juro consignado” numa das cláusulas contratuais. Francisco Avelino Ferreira, como Presidente da Câmara, convidaria os interessados a estudarem todas as possibilidades e a apresentarem os respetivos valores monetários “para depois se resolver como for conveniente aos interesses municipais”. Desconhecemos o que aconteceu em seguida. Mas, na sessão realizada em 16 de fevereiro de 1893, a Câmara, acolhendo a proposta do seu vice-Presidente, deliberou “que se não continue com a obra da praça-mercado desta Cidade porque o plano e projeto atual daquela construção não convém ao Município, que contra ele se tem manifestado a opinião pública autorizando a Presidência desta Câmara a requerer a notificação judicial dos empreiteiros, sem que contudo por este facto se reconheça a legalidade das obras feitas”.
Entretanto, os empreiteiros, acusando a Câmara de ter faltado sucessivamente ao cumprimento do contrato, tinham instaurado um processo judicial contra a autarquia por entenderem que tinham direito ao “pagamento de juro de 3,5% sobre o valor total da arrematação desde que as obras tiveram princípio até hoje”. Assim se perpetuou a inatividade do estaleiro que ciclicamente fornecia o pretexto para as divergências entre as principais forças políticas.
O tema iria transitar para o século XX e ganhar nova acuidade quando a vereação regeneradora, em 1901, iniciou a construção da praça-mercado na Praça Camões, a qual veio a concluir-se em 1905-1906. As querelas entre progressistas e regeneradores prosseguiram durante esta década, mas foram particularmente acesas em 1904, tendo a discussão sobre as obras da Praça Camões transitado para o campo financeiro, uma área em que a Câmara sofria de enormes dificuldades, pois a sua receita ordinária anual era somente de catorze contos. Para se minorarem as dificuldades e efetuarem alguns pagamentos a credores, alienaram-se o baldio do Campo Redondo e a tapada do Plantório.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

1 comentário:

  1. Gostei de ler , tentei penetrar nesse universo de frenesias e confusoes , mas pronto era ainda a monarquia ,,!

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