sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

A ARTE DO "PICADO" DE MIRANDA

Sandra Nobre e a mãe, Maria Suzana de Castro, fizeram a capa de honras que foi oferecida ao Papa em Fevereiro deste ano.


Um momento que muito orgulha o povo das Terras de Miranda e em particular as duas costureiras.

Papa com a Capa de Honras créditos: ©CM Miranda do Douro

No atelier vi capas com cores vivas e design moderno. Já tinham destino. Uma figura muito conhecida em França que Sandra recusou dar a conhecer o nome. A maior parte das peças são em burel ou pardo e o desenho é como se fosse uma pintura.

Capa de Honra que segue para França créditos: Who Trips

“Dá muito trabalho, como qualquer outra atividade, mas não é qualquer pessoa que faz. O desenho é feito sem decalque. É tudo feito a olho. A minha mãe costuma dizer que desenhamos como se fosse um pintor”.
A imaginação não é completamente livre. Está muito alicerçada nos materiais e formas das tecedeiras das Terras de Miranda que havia em muitas famílias tal como sucedia em outras regiões do país.


As pessoas tinham uma economia de subsistência e a faziam também as suas roupas em casa. Eram famílias grandes e havia sempre uma tecedeira em casa e produziam mantas, colchas, saiotes… A própria utilização do picado é uma herança deste processo de trabalho.
Segundo Sandra Nobre, “o picado era muito utilizado na capa de honras e em outras peças de vestuário de pessoas abastadas”. É na tradição que se constituiu a partir destas peças que se inspiram para o vestuário contemporâneo.

créditos: Who Trips

A modernização passa também pela criação de uma grande variedade de produtos em tecido, “tudo o que a imaginação nos permite com inspiração nas Capas de Honra e em outras peças tradicionais.
Produzimos capas de senhora, mochilas, carteiras…. Outra situação interessante é que reutilizamos matérias primas antigas como o pano de saco em linho ou lã.”

créditos: Who Trips

Na atualidade são poucas as pessoas que produzem de modo artesanal este tipo de peças tradicionais. No entanto, Sandra acha que não há o risco de a arte desaparecer por falta de artesãos.

créditos: Who Trips

O que mudou foi o género. Antes eram os homens que produziam a Capa de Honra, os alfaiates. Agora juntam-se, até em maior número, as costureiras. No concelho de Miranda “há duas ou, podemos dizer, quatro porque a minha mãe trabalha com mais três mulheres”, refere Sandra Nobre.
A produção mudou de género e também de peso. Com os novos materiais, uma capa de honras pesa cerca de 8 quilos. Antes com matéria prima totalmente artesanal, pesava mais de 15 quilos.

Capa de Honra, Miranda do Douro créditos: Who Trips

A Capa de Honra é uma peça tradicional de Miranda do Douro e protegia do frio intenso. Tem também uma carga simbólica que revela honraria por parte de quem a usa e também de quem é recebido por alguém que a veste.

Sandra Nobre créditos: Who Trips


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