(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Quando não me apetece ler, folheio os livros da minha modesta biblioteca. Leio umas linhas e torno a fechá-los. Montaigne – se não estou em erro, – fazia o mesmo.
Desta vez, ao percorrer as lombadas, encontrei: “O Soldado Prático”, do nosso Diogo Couto (séc. XVI), e deparei, na Cena VI, uma grande verdade:
(…) “ Há muitos anos, que se não costuma buscar homens para cargos, senão cargos para homens.”
Há muitos anos, diz o autor, já se criavam cargos (como agora,) para colocar homens: amigos, correligionários, parentes…
Décadas atrás, conheci pobre homem, que se aventurou a concorrer a certo lugar, na firma onde trabalhava. Ao entregar a candidatura, declarou:
- “Quando se faz capela, já se sabe quem é o santo! …”
E não errou…
Sempre foi assim: quem não possui “ padrinho” (pistolão,) por mais dedicado, por mais conhecedor, que seja, raras vezes passa da cepa torta, como o vulgo costuma dizer.
Em verdes anos, pensei, que o mal era a ditadura em que se vivia. Enganei-me redondamente: em democracia é muito pior…
Jovem que não nasce em família rica e influente, se quer alcançar lugar de relevo, é obrigado abraçar a política e bajular o líder, se quer receber benesses.
O essencial é que não hajam escrúpulos. Ser como o famoso duque se Sabóia, Carlos Manuel – o vira casacas. - Tudo lhe servia desde que o servisse.
Ferrenhos Salazaristas, em Portugal, após a Revolução dos Cravos, passaram a desempenhar importantes cargos, e asseveravam, que sempre foram de esquerda! … Por ingenuidade ou medo, acreditavam nas suas palavras…
Na queda da Monarquia, o mesmo aconteceu: António Manuel Pereira, em :” Do Marquês de Pombal ao Dr. Salazar”, afirma: que quem comandava a escolta dos cadáveres do Rei e do Príncipe, dizia aos soldados: “Se algum de vocês virem algum republicano, atira-lhe como a cães!”…. Proclamada a Republica, acabou nomeado Governador Civil! …
Fez, como fazia o duque de Sabóia….
O Homem é sempre o mesmo.
A História sempre se repete…
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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