O congresso, organizado pelo jornal zamorano La Opinión, juntou vários nomes de relevo em diversas áreas onde importa perceber como o despovoamento tem actuado e de que forma a tendência se pode alterar. Agustín Sanchez de Vega, presidente do concelho consultivo de Castela e Leão, reforçou, no encontro, que este é um problema que tem condicionado as políticas públicas. “O despovoamento é um problema social e político, de grande envergadura, que põe em prova o sistema de direitos da nossa constituição porque é um desafio à igualdade de oportunidades e à cobertura dos direitos em todo o território e a todas as pessoas.
Vivemos numa comunidade autónoma com 2248 municípios, 25% de toda a Espanha, muitos deles com menos de cem habitantes e realidades como esta condicionam as políticas públicas e orientam a decisão sobre os recursos orçamentais que exigem um financiamento local adequada às circunstâncias do nosso território e população”.
Antonio Vargas, manager institucional da Google de Espanha e Portugal, sublinhou que a Internet, que quebra diversas barreiras, é uma imensa oportunidade para a repovoação de Espanha. O orador salientou ainda que a tecnologia representa o alcance eficiente de todos os serviços mas que falta alguma formação para a saber aproveitar. “A tecnologia digital, conectada à internet, oferece-nos um mundo de benefícios interminável. A digitalização é a grande oportunidade para reverter este processo de abandono e começar uma nova vida de âmbito rural. O mundo digital quebrou barreiras de espaço, evitando a necessidade de dispersar e criando um mundo sem fronteiras, quebrou barreiras de tempo, oferecendo repositórios infinitamente maiores que as maiores bibliotecas da história da humanidade, quebrou barreiras económicas, dando acesso a um mundo cultura, educação, comunicação e entretenimento gratuito, e quebrou barreiras de intermediação. O mundo rural pode aproveitar mais que ninguém estes benefícios”.
José María Díaz, vice-reitor da Universidade de Salamanca, uma das mais antigas do país, lamenta que os alunos que ali se formam não tenham um futuro muito certo na província de Castela e Leão. “Eu formo estudantes não para que fiquem em Castela e Leão. O meu dever é formá-los para que acumulem toda a bagagem necessária para que possam fazer o que queiram no futuro. Desgraçadamente tenho que lhes dar uma má notícia que é que Castela e Leão está intimamente ligada ao sector primário, que passa por produzir alimentos e essa produção atravessa problemas muitos graves. No ano de 1900 havia 63 a 64% da população activa espanhola a dedicar-se ao sector primário, agora esse número é inferior a 5%”.
Teresa Ribera, vice-presidente do Governo de Espanha e Ministra para o Desafio Demográfico, mostrou-se emocionada por estrear-se publicamente neste cargo em Zamora, um território que, nas suas palavras, é marcado pelo envelhecimento e baixa natalidade. Teresa Ribera acredita, ainda assim, que a província de Zamora é um território repleto de oportunidades. “Para mim foi uma grande descoberta, depois de passar cinco anos com uma vida profissional fora de Espanha, voltar ao meu país e encontrar esta conexão emocional, a capacidade de construir pontes entre o campo e a cidade, entre o urbano e o rural, entre os distintos sectores de actividade económica, industrial, social e cultural, vendo-nos de outra maneira. Esta vontade, que provavelmente antes não estava com a intensidade que se precisava para poder reverter a situação, é a grande oportunidade que temos diante para poder acertar as políticas que nos ajudem a ficar onde queremos e a reconstruir essa falha que parecia uma espécie de muralha”.
O congresso, “Razões Para Ficarmos”, que aconteceu, ontem, na sede do Conselho Consultivo de Castela e Leão, em Zamora, pôs a questão do despovoamento em debate, contando ainda com várias outras intervenções.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves
Sem comentários:
Enviar um comentário