Há mais de meio século que veste roupa preta e usar cores claras já não faz sentido. Como ela, também a sua irmã Sara está viúva, mas há 10 anos. Tudo começou em 1956, quando Maria Augusta casou com o seu marido, aos 24 anos. Foram poucos anos de casamento, porque a doença levou-lhe o companheiro ainda cedo. Ficou com dois filhos nos braços, um menino de 10 anos e uma menina de 4. A cor que trazia no coração era igual à das roupas que vestia e ainda veste, preto. “Toda a vida andei de luto. Nunca mais vesti branco”, disse, contando que deu, na altura, todas as roupas claras que tinha.
Nascida, a 19 de Maio de 1932, e criada em Caravela, aldeia do concelho de Bragança, viu-se obrigada a trabalhar em dobro para conseguir pôr comida na mesa. Trabalhou sempre na agricultura. “Cá fiquei. A vida continuou, tive que criar os filhos e tinha que fazer pela vida, foram tempos difíceis”, contou.
Viviam da horta. A comida que os alimentava vinha dos seus cultivos. Batatas, couves e, de vez em quando, lá matava um porco.
Mais de 50 anos de luto e já não consegue vestir outra cor. Confessou que o preto torna as pessoas mais tristes, mas que fazia parte da cultura vestir-se assim quando algum familiar ou marido morria. Agora reconhece que os tempos mudaram. “Quando alguém da família falecia tínhamos de andar uma temporada de luto. Agora os tempos mudaram, morre-se hoje e amanhã volta ao baile”, disse.
Perto de si vive a sua irmã Sara que, apesar de 20 anos mais nova, acompanhou de perto o luto de Maria Augusta e das dificuldades que passou para sustentar os filhos. Também ela é viúva e já lá vão 10 anos desde que o marido faleceu. Apesar de estar de luto, usa roupas escuras, mas nem sempre o preto. “Aquelas cores que usávamos quando eramos solteiras, nunca mais na vida conseguimos pôr. Mas um azul-escuro e castanho já visto”, conta.
Mudam-se os tempos, mudam-se as cores. Sara reconhece que cada vez mais as pessoas procuram não vestir o luto na altura da perda.
Maria Augusta tem 88 anos e é viúva há mais de 50 anos. A sua irmã Sara tem 68 e está viúva há 10 anos. As duas prisioneiras do luto, a quem o preto invadiu não só os corações, mas também os armários.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais
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