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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Águia-imperial-ibérica: novo registo desta rapina rara e ameaçada pode ser sinal do seu regresso a Trás-os-Montes

Uma águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti) imatura (palhiço – segunda plumagem) foi registada no dia 30 de abril de 2020, através de câmaras de fotoarmadilhagem colocadas por técnicos da organização não governamental de ambiente Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural num dos Campos de Alimentação para Aves Necrófagas (CAAN) geridos pela organização no concelho de Mogadouro no âmbito do projeto “LIFE Rupis – Conservação do Britango (Neophron percnopterus) e da Águia-perdigueira (Aquila fasciata) no vale do rio Douro” (www.rupis.pt). Este CAAN está localizado no Parque Natural do Douro Internacional (PNDI).
Águia-imperial-ibérica. Fotografia Palombar.
Atualmente, esta espécie está restrita como nidificante em Portugal e em Espanha, constituindo por isso um endemismo da Península Ibérica e é uma das aves de rapina mais ameaçadas da Europa, estando igualmente entre as mais raras a nível mundial, tendo um estatuto e conservação “Criticamente em Perigo” em Portugal.

Este é o segundo registo que a Palombar faz de um indivíduo imaturo da espécie no Nordeste Transmontano, região onde atualmente não existem casais reprodutores de águia-imperial-ibérica. O primeiro registo ocorreu no dia 4 de setembro de 2018 num CAAN gerido pela organização no concelho de Miranda do Douro e igualmente localizado no PNDI. O avistamento de indivíduos desta espécie é muito raro tão a norte do país. Tratando-se de uma águia-imperial-ibérica imatura, o mais provável é que esteja em dispersão e a estabelecer o seu território, o que poderá ser um sinal do seu possível retorno a esta região do país, que a espécie já ocupou no passado.
Águia-imperial-ibérica. Fotografia Palombar.
Os dois registos efetuados pela Palombar desta espécie ocorreram em CAAN geridos pela organização, o que demonstra o papel fundamental destes campos de alimentação para a conservação de espécies estritamente e/ou parcialmente necrófagas com estatuto de conservação muito desfavorável, como é o caso desta rapina ibérica, sobretudo para os indivíduos imaturos. Estes são também reveladores do amplo impacto que o projeto LIFE Rupis tem tido, desde que começou a ser implementado, em 2015, na preservação de várias aves de rapina e necrófagas ameaçadas não só na Península Ibérica, como também na Europa.

Nos finais da década de 70 e inícios dos anos 80, a população reprodutora da espécie Aquila adalberti desapareceu em Portugal e a nidificação só voltou a ser confirmada em 2003 na região do Tejo Internacional, na Beira Baixa.

Fruto de vários esforços de conservação que têm vindo a ser dedicados a esta espécie, ela tem vindo a colonizar lentamente o território nacional. Em 2018, a população nacional nidificante totalizou 17 casais distribuídos pelas regiões da Beira Baixa, Alto Alentejo e Baixo Alentejo, sendo que esta espécie ainda apresenta, em território nacional, o estatuto de conservação mais preocupante: “Criticamente em Perigo”, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Está também atualmente classificada como “Em Perigo” no Livro Vermelho das Aves de Espanha e ainda como “Vulnerável” pela Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza.

Em Espanha, de acordo com dados oficiais da Junta de Castilla y León, em 2019, foi confirmada a existência de três casais reprodutores na província espanhola de Salamanca e de um na província de Zamora, áreas limítrofes ao Nordeste Transmontano.


O tamanho da sua população reprodutora é tão reduzido que existe um elevado risco de extinção da espécie face ao aparecimento, por exemplo, de uma doença, por redução significativa da população devido a alta mortalidade e períodos consecutivos de baixa produtividade e/ou por deterioração genética (devido à possível reprodução entre indivíduos da mesma “linhagem”, diminuindo a viabilidade e a diversidade genética da espécie), de acordo com dados do projeto “LIFE Imperial Conservação da Águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti) em Portugal” (www.lifeimperial.lpn.pt).
Águia-imperial-ibérica e corvo. Fotografia Palombar.
Águia-imperial-ibérica: que espécie é esta?
É uma águia de grandes dimensões que se caracteriza pelas asas compridas e largas e a cauda relativamente curta. A cabeça e o bico são maciços. A plumagem atravessa seis fases distintas até atingir a coloração de adulto. Esta é praticamente negra, com as penas da parte posterior da cabeça e da nuca douradas. Nas asas, um bordo branco de dimensões variáveis delimita os ombros. A base da cauda é cinzenta clara com uma barra terminal larga de cor preta.

Dieta
Esta espécie alimenta-se principalmente de coelho-bravo, mas também fazem parte da sua dieta a lebre, a perdiz, os pombos, os corvídeos e outras aves, mamíferos de médio e pequeno porte e ainda répteis, como sardões e cobras. Alimenta-se também de cadáveres, sendo parcialmente necrófaga.

Reprodução
Nidifica em árvores de grande porte, sobretudo em pinheiros, sobreiros e eucaliptos. Pode também usar ninhos de anos anteriores ou ocupar ninhos alternativos. Normalmente coloca entre um a quatro ovos por ninhada.

Comportamento
É uma espécie predadora de topo e muito territorial que utiliza extensas áreas de caça. Os casais mantêm-se no seu território ao longo de todo o ano, enquanto as aves jovens efetuam movimentos dispersivos, frequentando áreas com grande disponibilidade de alimento até se fixarem como reprodutoras, o que ocorre quando atingem a idade de três a cinco anos.

Habitat
Habita sobretudo em montados e mata mediterrânica intercalados com áreas abertas de cerealicultura e pastagens.

Principais ameaças
Declínio das populações de coelho-bravo, uso ilegal de venenos, abate a tiro, perda e degradação de habitat, eletrocussão em linhas elétricas e perturbação nas áreas de nidificação.

Campos de Alimentação para Aves Necrófagas: qual é a sua importância?
Os CAAN são fundamentais para assegurar a conservação de espécies de aves com hábitos alimentares necrófagos. Todas as espécies de aves necrófagas registadas em Portugal estão legalmente protegidas e, a grande maioria, apresenta um estatuto de conservação delicado.

Uma das principais ameaças que enfrentam estas aves é a falta de disponibilidade de alimento, a qual foi agravada com a chamada crise das “Vacas Loucas”, que levou a que as carcaças de gado (a principal fonte de alimento para os abutres) não pudessem mais ficar no campo.

Os CAAN surgem exatamente para fazer face a esta ameaça e aumentar a quantidade de alimentos disponíveis para estas espécies, sobretudo no período reprodutivo, quando há uma maior exigência energética não só por parte das progenitoras, como também das crias após o nascimento.

Além dos CAAN, a Palombar também desenvolveu estruturas móveis de alimentação para aves necrófagas que permitem dar uma resposta mais rápida e localizada às necessidades alimentares das espécies no território.

Aproveitando as recentes alterações na legislação portuguesa, a organização tem vindo igualmente a trabalhar na implementação de áreas de alimentação para aves necrófagas fora dos CAAN, uma abordagem que favorece o fornecimento de alimento de uma forma natural, não previsível e com maiores benefícios para as espécies e para os seus hábitos de prospeção de alimento.

Projetos e investigação científica

Nos últimos anos, a Palombar tem desenvolvido e/ou integrado vários projetos de conservação de aves necrófagas e de investigação científica sobre estas espécies. O projeto LIFE Rupis, o ‘ConnectNatura - Reforço da Rede de Campos de Alimentação para Aves Necrófagas e Criação de Condições de Conectividade entre Áreas da Rede Natura 2000' (connectnatura.pt) e o 'Sentinelas - marcação e seguimento de grifos Gyps fulvus como ferramenta de combate ao uso ilegal de venenos em Portugal' (wwww.sentinelas.pt) são três deles. A organização tem também realizado trabalhos de investigação científica na área da conservação das aves necrófagas e da perceção social sobre estas espécies, os quais já foram apresentados em congressos e seminários nacionais e internacionais.

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