Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 28 de julho de 2020

REGRESSO AO PARAÍSO

O meu querido amigo Francisco Gomes telefonou-me na semana passada. Queria saber novas da minha pessoa. O Francisco (somos Homónimos) nasceu no Castro nas redondezas de Vinhais, em 1967 apresentou-se a fim de cumprir o serviço militar obrigatório, entre receber fardas e botas iniciámos bela amizade, já lá vão 53 anos, fomo-nos vendo esparsamente, mais amiúde enquanto desempenhou com devoção e elegância o cargo de gerente do BPI em Vinhais, sempre que visitava a aldeia dos prodígios – Lagarelhos – ia trocar abraços, rirmos acerca das pérfidas bilhardices do alferes Prata e/ou trocar um cheque por dinheiro certo sem necessidade de cobertor ou cobertura.
O Francisco a quem chamo Xico ou Chico, depois de lhe ter relatado em cursivas palavras sem zagalotes do chorrilho vocabular vinhaense, a violência insolente do viver enclausurado, receoso e confinado ao abrigo caseiro ele disse-me andar feliz e contente a calcorrear os caminhos e a observar os campos da aldeia e suas cercanias onde herdei uma touça após a morte da minha avó. 
Não sendo invejoso de nada, nem de ninguém, no corrimento da nossa conversa invejei-o por que muitas vezes não se lembrar de colocar a máscara, de respirar os ares puros vindo da serra da Coroa e montes anexos como se estivesse no jardim das delícias sulfurosas da poesia do Regresso ao Paraíso do poeta Teixeira de Pascoaes ou a colocar as asas de Como ser Anjo do escritor Vassilies Vassilikus, a fim de esvoaçar qual Ícaro sem correr o risco de afogamento nas límpidas águas dos rios que persistem em serem fontes de aprazimento naquelas paragens. Se, me é permitido escrevo: porra e três quinze, Xico és o itinerante das cortinhas e lameiros, como eu fui dos livros mágicos de assombrações talvez ainda passíveis de ver, sentir, cheirar nas Pendelinhas de Lagarelhos, Castro, Soutelo e Sobreiró. 
Um exercício só para quem consegue escalonar o Mafarrico a imitar as mouras encantadas ensonadas nas fontes e poças, pôr o Trasgo trapaceiro no bornal do João Soldado que nele malhou como quem malha centeio verde, responder com um corte de mangas ao Demo de Aquilino Ribeiro, de acorrentar o Porco-Sujo acorrentado ante S. Bartolomeu, enxotar o Demónio invocando a oração o Diabo sem cabeça apareça, apareça e exorciza para as profundas infernais o desobediente e pior de todos, Lucífer, o das trevas. O estimado Francisco acendeu a centelha da recôndita vontade de lavar os olhos não no reino maravilhoso de Torga, sim no rincão grávido de hierofanias e alegorias onde fui feliz debaixo de relâmpagos e trovões, de zurvadas verdejantes, de meios-dias de esconjuro sob tórrido sol a levar Carracó a resguardar a caixa das sardinhas na sombra dos cabanais. O Carracó é ao lado outras figuras picarescas da iconografia da antiga Póvoa Rica. 
As referidas figuras émulas do Malhadinhas justificavam (justificam) livro galhardo e eclatante. Se um dia surgir fico feliz, até lá vou porfiar no sentido de tal como o gavião perscrutar o paraíso que o Francisco desfruta amenamente, tal qual, o articulista Barrondas da Serra fruiu nas faldas da Coroa ou não fosse ele digno coroado. 
Nem que seja só por um dia irei ao Paraíso após subir a Escada de Jacob!

Armando Fernandes

Sem comentários:

Enviar um comentário