Os criadores de gado portugueses da região transfronteiriça do vale do rio Douro declararam que deixam mais cadáveres de animais no campo e têm uma visão mais positiva sobre as espécies de fauna estritamente ou parcialmente necrófagas, quando comparados com os seus congéneres espanhóis da mesma região, revela o estudo "Farmers’ perceptions towards scavengers are influenced by implementation deficits of EU sanitary policies", publicado na revista Biological Conservation.
Figura retirada do artigo publicado na revista Biological Conservation.
O estudo, da autoria de Fátima D. Gigante, João P.V. Santos, biólogo da Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural, José Vicente López Bao, Pedro P. Olea, Bas Verschuuren e Patricia Mateo Tomás, foi desenvolvido no âmbito da tese de mestrado de Fátima D. Gigante, da Universidade de Wageningen, na Holanda, em colaboração com a Universidade de Oviedo, em Espanha, e contou com o apoio do projeto "LIFE Rupis - Conservação do britango e da águia-perdigueira no vale do rio Douro", do qual a Palombar é parceira.
O estudo, realizado com base em 109 entrevistas (61 em Portugal e 48 em Espanha), avaliou como a implementação heterogénea dos regulamentos sanitários da UE que permitem que os cadáveres de animais sejam deixados in situ na Península Ibérica afeta as percepções dos criadores de gado sobre as espécies necrófagas.
No total, foram analisadas dez espécies estritamente ou parcialmente necrófagas: abutres, nomeadamente, grifo (Gyps fulvus), abutre-preto (Aegypius monachus), abutre-do-Egito (Neophron percnopterus); predadores de topo, tais como lobo (Canis lupus) e águia-real (Aquila chrysaetos); e várias espécies generalistas, em particular, milhafre-real (Milvus milvus), corvo (Corvus corax), raposa (Vulpes vulpes), javali (Sus scrofa) e fuinha (Martes foina).
Os resultados mostraram que os criadores de gado que deixam efetivamente os cadáveres de gado in situ têm uma visão mais positiva sobre as espécies necrófagas, que aqueles que não o fazem registam uma perceção mais negativa sobre essas mesmas espécies e que há falhas na implementação e desconhecimento da legislação sanitária europeia aplicada aos contextos nacionais no que se refere ao abandono de cadáveres no campo, o que pode resultar num conflito emergente entre criadores de gado e as espécies necrófagas, pondo em risco a sua conservação.
Poderá consultar o artigo AQUI.
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