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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

De novo na Avenida João da Cruz

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

O nome dado a esta singular Avenida é o do construtor João da Cruz que fez a inédita façanha de assentar carris até ao burgo mais distante da capital do Reino, (a poder de muito poder) e os pares encarregados da toponímia da Cidade, com todo o bom senso e reconhecimento da façanha decidiram votar sim.
Outros mais recentemente andaram pela cidade a colocar placas toponímicas sem que tivessem bem a noção das qualidades que é necessário reunir para que se mereça ter o nome no início e no fim de qualquer Rua que recém construída ou velha e relha sejam merecedoras de serem nomeadas com o nome de alguém que para tal tenha estaleca que chegue.
Houve a feliz ideia mais que merecida de mandar fundir em bronze, placa notável que continua afixada na parede da velha Estação para dar notícia que ali tinha chegado o comboio, cinquenta anos após a sua chegada ao Carregal vindo de Lisboa. Fator de progresso científico que prometia aproximar os povos, mas que serviu mais para o levar para a diáspora que nos foi destinada, porque sim e ninguém nos mandou nascer neste Reino Maravilhoso que já não nos roía a saudade e passássemos o tempo que estivemos lá a remoer para apressarmos a volta. Os que regressaram encontraram os lugares com pouca gente e a vida cara porque nunca ninguém teve muita vontade de fazer cálculos para estancar este sorvedouro de gente, que hoje até os doutores e outros licenciados leva.
Pois bem foi neste intervalo de tempo que mediou entre o fim da segunda guerra e a década de oitenta que por Bragança passaram milhares de homens e mulheres a salto, que é como quem diz ilegalmente, o que configurava a maior hipocrisia já que legalmente era quase impossível obter passaporte já que o Estada só o atribuía aos ricos e quem mais necessitava dele eram os pobres. 
Mas voltemos ao que interessa e é desfolhando páginas da memória que vamos dar com gente que o comboio trazia e outra vinda de autocarro ou qualquer transporte e se faziam à cidade onde estabeleciam contacto com os passadores que lhes cobravam uma pequena fortuna para os passarem na raia e em milhentos casos, por força da Acão da PIDE e as outras polícias portuguesas e a perseguição da Guardia Civil em Espanha lhe tolhiam o passo e os faziam regressar, para quando após o regresso forçado, de novo repetirem a ousadia que repetiam até à passagem definitiva que só era concretizada após a sua entrada em Paris e a maioria fosse alojado no Bidon Ville de onde saíram mais tarde de cabeça levantada e com francos suficientes na bolsa, ganhos nos trabalhos mais duros e de complexidade técnica para os quais só lá receberam formação.
Era nos cafés e tavernas da Avenida João da Cruz sim na Avenida nomeada após a morte acidental no comboio na Estação de Salsas de um português que morreu falido mas que construiu a linha de caminho de ferro que trouxe esta gente a Bragança e que lhes abriu a porta de estações de outros comboios e trens que lhes proporcionaram uma vida digna nos países em reconstrução.
Desde a Taverna do Humberto e António Júlio onde comiam uma sopa e uma posta de côngruo e um copo de tinto e ficavam saciados até à Taverna do Inocêncio e aquela outra com ligação à Guerra Junqueiro onde um dia se consumou um suicídio de uma mulher desesperada, dita do Reis pai do Calisto, creio, não faltavam "bufos e Pides" à cata dos passadores que lhes comiam a sopa na cabeça e os ludibriavam com a mestria de profissionais, mas que não podiam evitar a canseira de subir e descer montes e veredas, dormir ao relento e sempre com o credo na boca.
Foi na Avenida que este drama foi vivido pelos que o Governo e "sus muchachos" apelidavam de desertores mas que foram os que com as suas remessas religiosamente depositadas nos bancos portugueses, ajudaram o país a equilibrar as contas do Tesouro e a conseguir um crescimento de 05% ao ano.
Com o avançar dos anos sessenta a vida, por força dos emigrantes e outras algumas razões, foi melhorando e assistiu-se a um aumento da capacidade hoteleira e houve um Restaurante que nomearam de “O Transmontano” que era dirigido pelo Snr. Armando em sociedade com dois cunhados que se transformou num sucesso pois captou a fidelidade da maioria daqueles que já sendo da classe média chamavam aqueles que como operários tinham salários mais condizentes e também muitos estudantes que ali gastavam o dinheiro que recebiam de mesada. Foi um sucesso dada a classe profissional do Snr. Armando e a fidelidade dos familiares que trabalhavam na cozinha, as esposas e os homens ao balcão e às mesas. O Maioral, cérebro da máquina era o Snr Armando.
No Café Avenida parava uma classe mais dedicada à produção agrícola e muita gente da Cidade que fizeram desta casa uma máquina sob a batuta da Dona Maximina e do Senhor Coelho dois profissionais formados em Lisboa que chegaram a Bragança, viram e venceram. Anos depois passaram o Café Avenida a gente de Ousilhão cujos filhos se chamavam David e João e dos quais fui amigo. Poucos anos depois o casal Maximina/Coelho regressou e abriu o Café Lisboa que algum tempo depois passaram ao Álvaro do Flórida que pôs o irmão Manuel como gerente e que manteve a casa sempre bem afreguesada.
Nos anos a que me refiro não existia a Pastelaria Tropical, nem BigBobs, aí esteve o Leal anteriormente, nem o hoje famoso Príncipe Negro aí era o estabelecimento do Marcolino Moreno grande comerciante da Cidade.
As famílias que viviam na Avenida não as consigo enumerar mas nomeio D. Laura Torres e família, Senhor Setas, Dr. Mós, Dr. Seixas e esposa e onde é o B P I morava a D. Beatriz Monteiro, professora do meu tempo de Escola e mestra dos meus irmãos, Rui e Marcelo.



Bragança 19/08/2021
A O dos Santos
(Bombadas)

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