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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 21 de agosto de 2021

O que procurar no Verão: o carvalho-negral

 De todas as espécies de Quercus presente em Portugal, destaco o carvalho-negral. O valor paisagístico, a longevidade e a majestade daquele espécime que parecia “perdido” na floresta, encantou-me numa das minhas mais recentes explorações pela natureza.

Foto: Luis Fernández García/WikiCommons

Aquela árvore parecia não pertencer ali. A imponência da copa frondosa, a beleza peculiar da folhagem, a elegância do tronco e a abundância de frutos deixaram-me fascinada. Era uma presença singular no meio de outras espécies que dominam agora a paisagem florestal portuguesa. Mas nem sempre foi assim. 

São muitas as espécies de carvalhos que povoam as florestas nativas de Portugal. Os registos históricos dizem-nos que, em tempos, as nossas florestas eram dominadas por estas árvores.

Carvalhos-negrais. Foto: Luis Fernández García/WikiCommons

No entanto, a realidade atual é bem diferente e as formações arbóreas e arbustivas destas espécies que existem atualmente em nada se comparam com os bosques de carvalhos que existiram no passado.

De entre as mais de 460 espécies do género Quercus, existentes e identificadas em todo o mundo, oito surgem espontaneamente em Portugal Continental: o carvalho-negral (Q. pyrenaica), o carvalho-roble (Q. robur), o carvalho-português (Q. faginea), carvalho-anão (Q. lusitanica), o carrasco (Q. coccifera), o carvalho-de-Monchique (Q. canariensis), o sobreiro (Q. suber) e a azinheira (Q. rotundifolia).

Os carvalhos pertencem à família Fagaceae, à qual pertencem também outros género botânicos bem conhecidos, como o castanheiro (Castanea sativa) e a faia (Fagus sylvatica).

De todas as espécies de Quercus presentes em Portugal, destaco o carvalho-negral. O valor paisagístico, a longevidade e a majestade daquele espécime que parecia “perdido” na floresta, encantou-me numa das minhas mais recentes explorações pela natureza.

Carvalho-negral

O carvalho-negral – também conhecido como carvalho-pardo, carvalho-das-beiras, carvalho-pardo-da-beira e carvalho-pardo-do-Minho – é uma árvore que pode crescer até 25 metros de altura e atingir idades entre os 120 e os 300 anos.

De copa ampla e arredondada, tronco direito, por vezes irregular, o carvalho-negral possui uma casca espessa, acinzentada e gretada, sobretudo nos exemplares mais velhos. Os raminhos são geralmente tomentosos e aveludados.

As suas folhas são caducas ou marcescentes, pois podem permanecer na árvore mesmo depois de secas. São simples, subcoriáceas, lobadas e variam muito quanto ao recorte e às dimensões. A página superior é de cor verde muito escuro e sem brilho e a inferior é muito tomentosa, o que lhe confere uma cor esbranquiçada a acinzentada. As folhas mais jovens podem apresentar tons rosados a violáceos. O pecíolo é curto e também é densamente felpudo.

Foto: Luis Fernández García/WikiCommons

O carvalho-negral é uma espécie monóica, pois possui flores femininas e masculinas que surgem separadamente no mesmo indivíduo.

As flores surgem na primavera, entre os meses de abril e junho, dispostas em amentilhos densamente pilosos. As flores masculinas são amarelas e mais evidentes, e as femininas são mais discretas e esverdeadas.

Esta espécie frutifica a partir dos 20 anos. O fruto é uma glande, ou bolota, de tamanho e forma variável, com uma cúpula de escamas imbricadas e aveludadas. Começa a formar-se no final da primavera, surgindo solitário ou agrupado em conjuntos de duas, três ou até cinco bolotas, com pedúnculo curto. As bolotas são inicialmente verdes e permanecem assim ao longo de todo o verão, amadurecendo entre os meses de outubro e novembro, onde assumem uma cor acastanhada.

Importante na preservação da diversidade biológica

O carvalho-negral é uma espécie dominante em matas de clima mediterrânico. A sua distribuição natural encontra-se compreendida entre a região oeste e sudoeste da França, a Península Ibérica, a Península Itálica e o norte de Marrocos.

Forma bosques de grande extensão, sendo em Portugal que se encontra a maior área ainda existente desta espécie, estando presente em quase todas as regiões do país, excepto no Algarve e nos Arquipélagos. Ocorre com maior dominância nas regiões do Norte e Centro em zonas montanhosas, encostas e planaltos e em regiões de clima continental.

Habita preferencialmente em locais com exposição plena, solos graníticos, ácidos e húmidos. É uma espécie calcífuga e suporta muito bem o frio, a neve e as geadas, bem como verões quentes e secos e períodos de chuva intensa.

Ecologicamente, o carvalho-negral é muito importante na preservação da diversidade biológica dos ecossistemas, contribuindo para a proteção do solo contra a erosão, para a fertilidade do solo, para a diminuição do risco de incêndio, para a salvaguarda da paisagem natural.

É também uma fonte de alimento essencial para muitas espécies animais, desde insetos, aves e mamíferos, que apreciam muito as suas bolotas. Alguns destes animais, como os gaios, por exemplo, são responsáveis pela disseminação e surgimento de jovens carvalhos, pois durante o inverno, têm por hábito de enterrar as bolotas, como reserva alimentar.

Além disso, proporciona condições favoráveis ao aparecimento de muitas outras espécies no seu subcoberto, como é o caso da giesta-amarela (Cytisus striatus), o trovisco (Daphne gnidium), a urze-vermelha (Erica australis), o selo-de-salomão (Polygonatum odoratum), a rosa-albardeira (Paeonia broteri), o tojo-gadanho (Genista falcata), musgos, cogumelos, etc.

Aplicações florestais

O carvalho-negral é uma espécie bastante interessante do ponto de vista florestal.

A sua madeira é dura, resistente e de elevada durabilidade natural aos fungos e insectos e é muito usada em tanoaria, marcenaria e carpintaria, na criação de móveis, tacos, soalhos, barris ou até travessas dos caminhos-de-ferro.

Também possui elevado poder calorífico, sendo utilizada como combustível, na forma de lenha ou de carvão vegetal. Para além disso, a casca é rica em taninos, o que a torna muito interessante para o curtimento de peles.

Foto: Luis Fernández García/WikiCommons

E, como acontece com outros carvalhos, esta espécie produz como defesa contra a picada de um insecto – mais propriamente uma vespa – umas pequenas excrescências globosas e esponjosas, muitas vezes confundidas com os frutos e que são comumente conhecidas como bugalhos, também eles ricos em caninos.

As folhas, como forragem verde, e as bolotas maduras são usadas como alimento para o gado.

Do ponto de vista humano, as bolotas também possuem aplicações culinárias e terapêuticas. A farinha de bolota de carvalho-negral, por exemplo, é usada para obtenção de licores e no tratamento de diarreias.

O carvalho-negral possui também interesse como árvore ornamental, sobretudo em espaços amplos onde possa crescer e desenvolver-se sem qualquer constrangimento.

Etimologicamente o nome desta espécie está muito associado à suas possíveis origens e a um forte simbolismo mitológico.

O nome do género Quercus é o nome clássico, em Latim, dado aos carvalhos, azinheira e sobreiro e deriva do prefixo celta quer -, que significa “belo” e –cuez, que significa “árvore”, ou seja, “a árvore por excelência”, devido à sua utilidade, importância e imponência, assim como sabedoria e conhecimento. Os carvalhos, de uma maneira geral, estão associados à noção de força e resistência, e no passado, eram considerados sagrados para muitos povos.

O restritivo específico pyrenaica, deriva do latim pyrenaicus, de Pirenéus, contudo esta atribuição não foi muito bem-sucedida, pois a sua ocorrência nesta região é rara.

Se explorar a natureza para procurar esta espécie, aproveite a sua sombra para um merecido descanso e encante-se com a beleza das suas folhas e dos frutos que só agora começam a maturar.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Marcescente – folha que persiste na árvore, mesmo depois de murcha ou seca. Geralmente fica pendurada na árvore até a formação das novas folhas, na estação mais favorável.
Subcoriácea – folha com consistência semelhante à casca da castanha ou do couro.
Lobada – folha simples que possui margens profundamente recortadas que a dividem em pequenos lobos, no entanto, menores que a metade do limbo.
Pecíolo – pé da folha que liga o limbo ao caule.
Monóica – espécie que apresenta flores femininas e masculinas separadamente na mesma planta.
Amentilho – Inflorescência semelhante a uma espiga, onde as flores, geralmente unissexuais, surgem agrupadas num eixo comum.
Calcífuga – Planta que não se desenvolve em solos calcários.

Carine Azevedo

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