“Não faz sentido vir ao distrito de Bragança comer uma Posta à Mirandesa e não acompanhar com um bom vinho, certificado, da região”, a afirmação é de Fernando Pessoa, que não é poeta, é produtor do vinho na sub- -região de Valpaços e fala do seu produto com a alma cheia de emoção, fundamentada na história e na cultura. Representa marcas como o “Encostas de Sonim” ou o mais recente “Sonini”, e fala-nos dos métodos de produção herdados dos romanos, nos tempos em que o vinho se produzia nos lagares escavados na pedra. Associar a gastronomia regional aos vinhos certificados da Região de Trás-os- -Montes foi o propósito da prova de vinhos que a Associação Comercial Industrial e Serviços de Bragança (ACISB) realizou, dirigida especialmente à restauração, hotelaria e lojas de venda de produtos locais. “Acreditamos que dessa forma estamos a valorizar o que é nosso, a reforçar a identidade regional e a melhor a nossa imagem”, defende Maria João Rodrigues, presidente da ACISB. “Quisemos ser os facilitadores de futuras relações comerciais, quisemos criar a oportunidade de mitigar alguma desinformação que possa existir, para que todos possamos trabalhar com o mesmo objetivo de valorização da região, de reforçar a nossa autenticidade, a nossa identidade que é o que nos diferencia”, acrescenta a secretária geral da ACISB, Anabela Anjos.
A responsável pelo departamento de Enologia e Promoção, da Comissão Vitivinícola da Região de Trás-os-Montes (CVRTM), Ana Alves, não podia estar mais de acordo com este propósito. “De facto dentro da região os nossos vinhos não são muito conhecidos, há algum desconhecimento por parte dos responsáveis da restauração e da hotelaria daquilo que são as especificidades da região e dos produtores que existem e da qualidade que já se produz, temos imensos vinhos que têm vindo regularmente a ser reconhecidos e premiados”. Esta prova promoveu o diálogo directo entre os produtores e os responsáveis do setor da restauração. “Estas iniciativas são sempre boas, a região de Trás-os-Montes está a crescer, e precisamos crescer também dentro da região, isso dignifica Fernando Ramos, representante da Quinta de Sobreiró de Cima que este ano conquistou o prémio de Melhor Vinho Branco de Portugal. A CVRTM já tem associados 110 produtores, com 140 referências no mercado. Cada referência tem uma história, que na óptica de Ricardo Sá Fernandes, representante do Vinho Palmeirim de Inglaterra, reforça o carácter da própria produção. “Cultura e vinho devem andar de braços dados”, defende. O vinho Palmeirim de Inglaterra resulta da união de três pequenos produtores da zona de Vidago, Chaves, que em comum têm o facto de serem descendentes de um homem de Bragança, chamado Francisco Morais, que foi o autor de um romance de cavalaria no sec. XVI, com muito sucesso na Europa. “O romance tinha o título que atribuímos à marca do nosso vinho, em homenagem a este nosso antepassado”. Contar a história e dar o vinho a provar aos restaurantes é “o caminho” defendido por este produtor para afirmar a marca. “Os grandes embaixadores dos vinhos de Trás-os-Montes são os restaurantes”, sustenta.
A ouvir estas histórias e à procura dos melhores néctares os responsáveis pela restauração tiveram a oportunidade de aprofundar os seus conhecimentos em relação à oferta de um produto que pode acrescentar nobreza e distinção à gastronomia do território.
Pré-lançamento da Rota de Enoturismo do Porto e Norte de Portugal
Este contacto com a restauração, hotelaria e locais de venda de produtos regionais serviu para que a CVRTM fizesse uma primeira abordagem com os operadores locais para a Rota de Enoturismo que a Entidade Regional de Turismo Porto e Norte está a organizar em parceria com todas as Comissões Vitivinícolas do Norte do País. “É um projeto de promoção que se destina não apenas às adegas e produtores que tenham enoturismo, mas também à restauração, hotelaria e outros espaços que promovam experiências com vinhos”, adianta Francisco Ataíde Pavão, presidente da Comissão Vitivinícola transmontana. Este responsável louvo a iniciativa da ACISB, salientando a importância de promover “o contacto direto, o diálogo, entre os produtores e a restauração”.
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