Em Portugal são detectados, todos os anos, cerca de sete mil novos casos de cancro da mama
Os números são da própria Liga Portuguesa Contra o Cancro, que aponta que, entre os que existem, este é o mais comum entre as mulheres. Agredindo um órgão cheio de simbolismo, na maternidade e na feminilidade, o cancro da mama rouba a vida, por ano, a cerca de 1800 mulheres. Perante a doença, depois do confronto com a realidade, vale tudo, menos desistir. As batalhas são duras, mas há uma guerra para ganhar.
Os números são da própria Liga Portuguesa Contra o Cancro, que aponta que, entre os que existem, este é o mais comum entre as mulheres. Agredindo um órgão cheio de simbolismo, na maternidade e na feminilidade, o cancro da mama rouba a vida, por ano, a cerca de 1800 mulheres. Perante a doença, depois do confronto com a realidade, vale tudo, menos desistir. As batalhas são duras, mas há uma guerra para ganhar.
Que o diga Luísa Rio. Teve cancro mas não deixou que o cancro a tivesse a ela. A brigantina esbarrou de frente com a doença há nove anos. Corria 2012, tinha 43 anos, quando ouviu o diagnóstico que a deixou “sem chão”. “A única coisa que passa pela cabeça é que vamos morrer, que acaba tudo ali. É uma palavra muito forte: cancro”, contou. Tendo sido sujeita a tratamentos “muito agressivos”, depois de ter atravessado um deserto para “chegar ao oásis”, Luísa Rio ainda é seguida, não vá o diabo voltar a tecê-las. E é isso mesmo que é preciso fazer, prevenir, estar de olhos abertos.
Em pleno Outubro, mês internacional dedicado à prevenção do cancro da mama, a sobrevivente diz não poder deixar conselho mais útil e simples: rastreio. “As mulheres devem fazer a prevenção, a palpação, tudo o que puderem para que, caso um dia a doença surja, ser detectada no começo”, vincou. A lutar contra o cancro, a vontade de viver foi determinante para Luísa Rio. Ainda assim, muitas vezes, há lutas que não podemos travar só com as nossas forças. Além da família, o ombro que “nunca faltou”, encontrou, em 2013, em Bragança, um movimento recém-criado que lhe deu a motivação que podia estar a faltar. Vencer e Viver, assim se chama o grupo de brigantinas, que agora Luísa também integra, que já ultrapassaram o “monstro” e que, entre muitas outras ajudas, dá a palavra amiga de quem sabe o que é o cancro.
Isilda Canedo é uma das “guerreiras” que não se deixou morrer às mãos do cancro da mama e é também uma das responsáveis por esta resposta existir em Bragança. Tem 64 anos e enfrentou o diagnóstico que lhe puseram à frente, sem tempo para o engolir, em 2010. À época, na casa dos 50, a brigantina ainda tinha uma “longa carreira profissional pela frente” e, por isso, e porquê “a vida é muito mais”, não se deixou intimidar. Ainda que o medo fosse “muito”, pediu a Deus para lhe dar “forças” para enfrentar o que o destino lhe tinha reservado. Tendo sido mastectomizada em 2011, ainda é seguida, mas não é só porque os médicos entendem que sim. Aceita-o e cumpre-o religiosamente porque “a prevenção é determinante”. O cancro deixou as duas mulheres arrasadas, mas não é a viver para os desgostos que o caminho se trilha. Mais vale perder tempo no que nos preenche. E nesse caso não se perde, só se ganha. E foi assim que, neste tão singelo pretexto, Isilda ajudou a criar o movimento. Nascido em 2013, já que se notava que era preciso apoiar as brigantinas que iam travando a batalha, o movimento tem agora cinco mulheres a ajudar outras 214.
A estas cinco juntam-se outras cerca de vinte mulheres que, por causa do trabalho, não podem participar de forma tão activa, mas não dizem que não ao que for preciso fazer. O gabinete de apoio situa- -se no mercado municipal. É uma casa aberta à esperança. Segundo Isilda Canedo, a ajuda é tanta quanto se pode prestar. “Tentamos dar apoio psicológico a quem nos procura. Damos o nosso testemunho, contamos o que passámos, mostramos que é possível vencer isto. Além disso, também temos próteses capilares e mamárias, assim como a informação necessária sobre a doença”, contou.
Refira- -se que as voluntárias, assim como as mulheres que procuram o grupo, também têm aulas de ginástica adaptada, com dois professores, de forma a potenciar a recuperação. As aulas estiveram paradas, por causa da pandemia, mas retomarão, duas vezes por semana, brevemente. Cláudia Vaz é psicóloga na liga, em Bragança, há quatro anos. Dá consultas de psico- -oncologia e também colabora com o movimento.
As campanhas, sobretudo de prevenção e sensibilização, nas quais participa, “têm sido muito bem aceites”. “Temos que estimular a população para comportamentos saudáveis”, vincou, assinalando que o apoio social também “tem vindo a crescer”. O apoio no transporte e medicação tem vindo também a ser procurado, em crescendo, já que a doença, e aqui vale qualquer tipo de cancro, abala o doente, acima de tudo, mas também comporta encargos financeiros que nem sempre se conseguem suportar.
Mil pães solidários para ajudar os que enfrentam a luta
No sábado, na Praça da Sé, vendeu-se pão solidário. Um pão em troca de um euro. Foi assim que se apelou à solidariedade dos que ali passaram. A ideia partiu da Padaria Pão de Gimonde, que quis assinalar o Dia Mundial deste alimento. “Juntar o assinalar da data a uma causa solidária foi o binómio perfeito”, contou uma das proprietárias da padaria, Elisabete Ferreira, francamente “satisfeita” com a adesão. À padaria juntou-se o politécnico de Bragança, sendo estes já parceiros em projectos na área agro-alimentar. As ajudas não ficaram por aqui.
Os alunos do curso profissional de saúde da Escola Secundária Emídio Garcia também se aliaram à causa e ajudaram na confecção dos mil pães, aprendendo um pouco sobre a arte. Anabela Anjos, voluntária há cinco anos na liga, em Bragança, esteve na coordenação da iniciativa. Também esta se disse “agradada” com os brigantinos que vieram comprar o pão solidário. “ É uma causa sensível a todos. Esperemos que este dinheiro seja bem empregue na prevenção, investigação e auxilio aos que mais precisam”, rematou.
Em pleno Outubro Rosa, à iniciativa juntou-se o Movimento Vencer e Viver. As mulheres estiveram na praça, toda a manhã, para que mais gente as conheça e, caso precise, as procure.
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