Produzir está pela hora da morte
Os agricultores não andam com a vida muito facilitada há já uns dias. Prova disso são os que tentam escoar os produtos na feira de Bragança, que dizem que, apesar de tudo, não dá para vender a preços mais altos. Os combustíveis, os adubos e os fertilizantes têm subido de preço e isso já não é novidade para ninguém. O que começa a doer é ver o muito que sai do bolso na hora de investir e ver o pouco que entra na hora do negócio.
Alfredo Araújo, de Contins, Mirandela, é produtor e feirante, vende horticultura e garante que já quase não dá para lucrar nada. “Estou a vender aos mesmos preços que vendia antigamente. Não podemos aumentar. Há cada vez menos pessoas a comprar e se vendo alguma coisa mais cara aí é que é o descalabro”, afiançou, dizendo, ainda assim, que nota que agora há mais gente a querer a comprar-lhe para plantar, investindo em hortas e garantindo alguns bens, que, “constantemente, no supermercado sobem de preço”. Também Humberto Meireles, da mesma aldeia vende igualmente hortícolas e tem a mesma opinião, não se pode vender mais caro. “Os meus preços já são os mesmos de há 10 anos. Se nem assim as pessoas compram, como é que eu posso aumentar preços?”, questionou o agricultor, que disse que já quase não ganha nada mas que “é preciso continuar”.
O produtor também admite que há mais gente nas feiras, porque ser “mais barato” que nas grandes superfícies, mas que não nota que haja mais pessoas a querer produzir os seus próprios bens alimentares.
Maria de Lurdes também é uma vendedora do concelho de Mirandela. Vende mais para consumo do que para plantar. Esta produtora admite que subiu “um pouquinho” ao preço de algumas coisas mas que “não foi quase nada” porque se não, lá está, “as pessoas não compram”. A comerciante também assegura que “há mais gente na feira, e gente até mais nova” porque “as pessoas já perceberam que aqui é um bocadinho mais barato”. Tiago Rodrigues e Francisco Barata são do lado contrário, são os que compram. Vêm à feira há largos anos e ambos dizem que praticamente não perdem uma.
Tanto num caso como no outro, a feira já só serve para ir comprando o que se come porque hortas já foi tempo, já não têm, e por isso não compram nada que seja para cultivar. Maçãs de Carrazeda de Ansiães foi o que procurou, na última feira, Tiago Rodrigues. Desta vez levou cinco quilos, da última foram 10. “Aqui tem tudo mais qualidade”, assinalou, vincando que é tudo “mais barato que nas grandes superfícies”, ainda que na feira os preços já tenham aumentado “alguma coisinha”, mas “é mesmo porque é melhor”. O comprador assumiu ainda que, de há tempos para cá, há muitos como ele que preferem a feira e, por isso, “tem-se visto mais gente” porque “as pessoas já perceberam que aqui é mais barato”.
Preços mais apelativos também Francisco Barata considera que sejam e mais gente... sim, “há mais há”. “Aqui é tudo bem mais barato e até se escolhe melhor. E gente? Não há como enganar! Tem vindo mais”, esclareceu. Olinda Celas também costuma passar pela feira. Ou para ver ou para comprar... Ainda faz horta e diz que, apesar do aumento do preço de alguns bens alimentares, não a quer fazer maior porque, se for como noutros anos, “já é um bom sustento”. O que precisa comprar compra na feira, tal como os outros diz que “é mais barato”, mas produzir já pesa. “A saca do adubo duplicou de preço em relação ao ano passado e eu do combustível nem quero falar”, disse a agricultora, que vai vendendo o que lhe sobra mas “não dá para vender a grandes preços porque se não ninguém compra”.
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