Uma escultura em ramos com três metros e meio de altura é a mais recente obra apresentada na Bienal de Arte de Macedo de Cavaleiros, e que se soma a outras máscaras que já construiu com restos florestais, uma ideia que nasceu com a obrigação da limpeza de matos para prevenir os incêndios.
“Na altura bastava ligar a televisão e o pessoal todo a ‘panicar’ porque tinha que limpar o mato e eu, pronto, é isto”, contou à Lusa o artista conhecido pelo estilo pessoal “punk”, mas que se inspira na tradição e que encontra na Natureza matéria-prima para trabalhar.
É a chamada “Land Art”, em que “o material dá a Natureza” e, no caso dos restos florestais, “até é uma maneira de limpar e reciclar”.
E “é preciso limpar muito para fazer estas esculturas” que “levam muito material”, que o artista procura no mato e entusiasma também as gentes dos locais onde trabalha, como tem acontecido em parcerias com empreendimentos turísticos, como o Glamping Hills, em Santa Comba de Rossas, Bragança.
“Os locais, quando tenho um projeto novo, disponibilizam-se logo ou a arranjar tratores ou carrinhas e levam aquilo, como se a peça fosse deles”, enfatizou.
A mesma disponibilidade, como contou, tem encontrado noutras zonas do país, como a região do Minho, onde tem tido propostas para este tipo de trabalho que é feito, normalmente, perto de cursos de água onde abunda o salgueiro.
“É preciso limpar muito para fazer estas esculturas. Aquilo aproveita-se tudo, até os raminhos mais pequenos, porque funciona como enchimento, só que é trabalhosa, demora, no mínimo, uma semana sempre a dar”, observou.
A primeira máscara esculpida com ramos florestais foi feita para a zona Polis da cidade de Bragança e, desde então, tem criado outras peças com o mesmo método, nomeadamente um ninho de grandes dimensões onde é possível descansar e desfrutar da Natureza.
A arte é o modo de vida deste artista de 55 anos, que fez a primeira exposição “a sério” no Porto, em 1991, época em que começou a aventura com as máscaras, desafiado por um amigo.
Depois de “15 matrículas em Direito” acabou por se licenciar em Animação e Produção Artística e regressou a Bragança quando “estava a haver todo o ressurgimento da máscara”, símbolo das festas dos caretos entre o Natal e o Carnaval, em Trás-os-Montes.
Pediram-lhe, então, para “fazer a cópia do Chocalheiro de Bemposta, de Vale de Porco, Carocho ou dos Caretos de Podence”, estes últimos que são agora Património da Humanidade.
Acabou por ficar sempre ligado às máscaras com uma abordagem que “é um ponto de partida, uma referência”.
No tradicional predomina a madeira, a folha de flandres, que também usa, mas procura dar às máscaras “outras estéticas e até remetendo para outros universos que pareceriam inconcebíveis”.
“Como aquelas que eu faço tipo `punk` e pós-apocalípticas”, exemplificou.
Miguel descreve o trabalho que faz como “bastante eclético”, onde até cabe a pintura religiosa, motivo de espanto para alguns: “as pessoas olham para mim e dizem: o punk faz estas coisas?!”
Inspirado nas máscaras criou uma série de peças para chefes de cozinha locais, desde travessas, em que a comida é servida na língua da máscara, a uma rosa do vento para menus.
O artista proporciona experiências, como fazer uma máscara tradicional, na Plataforma de Arte e Criação que criou em Bragança e está aberta a visitantes, aos mais novos e curiosos das artes.
Dar a conhecer este tipo de atividades é o propósito do programa “MaisBragança” da Associação Comercial e Industrial de Bragança (ACISB), que pretende “dinamizar e mostrar aquilo que a cidade tem de bom, de atrativo, em todos os aspetos, desde o cultural à Natureza, ao gastronómico”, segundo uma das responsáveis, Anabela Anjos.
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