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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Capa de Honras

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

A Capa de Honras Mirandesa, provavelmente, a versão profana da eclesiástica Capa de Asperges, tendo começado por ser uma peça de vestuário para proteção da chuva e do frio, é, atualmente, usada, quase exclusivamente, em ocasiões especiais, festividades e datas comemorativas, como elemento identificativo de pertença às Terras de Miranda.
O mirandês enverga, hoje, a rica e vistosa indumentária dos seus antepassados, com muita proa e orgulho.
Porém, apesar da exuberância e elaborada complexidade da forma do capuz e, igualmente, dos seus enfeites, apontem para um traje de cerimónia, a base da capa, propriamente dita, é constituída por um semicírculo de tecido de lã cardada, denunciando o propósito utilitário. A existência de uma racha posterior confirma o uso comum pois este corte destinava-se a adequá-la ao corpo dos equídeos, principal meio de deslocação de então. Curiosamente, é razoável pensar que a técnica do picotado, das refinadas e primorosas aplicações que a caracterizam, tenham tido origem no pesponto à volta do rasgo traseiro, com o objetivo de impedir que progredisse para além da sua utilidade.
Hoje, a sua confeção e uso integra sempre as quatro peças fundamentais: a base, a sobrecapa, o capuz e a honra, não sendo difícil admitir que, originalmente, fosse usada regularmente, a base, à qual se acrescentavam as restantes, de acordo com as posses e a posição social do seu possuidor e a ocasião. É pouco provável que o uso integral fosse comum e corrente, sobretudo, nas atividades rurais.
Atualmente usa-se, em ocasiões festivas, religiosas ou profanas, em Terras de Miranda. Este domínio, vulgar, mas erroneamente, associado ao concelho de Miranda do Douro e algumas freguesias próximas dos concelhos vizinhos, é entendido, pelos especialistas, com uma abrangência maior, mais pragmática e mais conformada com a realidade histórica: Terra de Miranda é o território português, entre Sabor e Douro; desde Rio de Onor até à Foz do Sabor.
Recentemente vi, não me lembro onde, uma fotografia de uma festividade mirandesa onde o uso da capa era generalizado, não só pelos naturais daquele concelho, mas igualmente por muitos dos convidados. Entre eles o Presidente de Câmara da minha terra, Torre de Moncorvo. Gostei de ver. Ficava-lhe bem. Não pelo aspeto estético, pois não me pronuncio sobre as opções indumentárias do atual detentor do cargo, mas pela adesão natural a este traço identitário, cuja fronteira identitária não pode pecar pelo exagero de excluir uma borda natural da margem direita do Sabor, facilmente identificável pelos costumes e linguajar, como dizia, frequentemente, o Amadeu Ferreira.
O uso da capa, na edilidade moncorvense, e noutras vizinhas, fica bem mas, vesti-la, não pode ser apenas para ficar bem na fotografia. O seu uso implica assumir, na totalidade, as responsabilidades que a indumentária carrega e coloca nos ombros de quem a enverga.

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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