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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

A Última Academia 3 – O Assalto ao Liceu

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Em 1973 líamos o novíssimo Expresso que o Alcides trazia para o Chave D’Ouro, a embrulhar “A Funda” do Artur Portela Filho, comprávamos na Mário Péricles livros “raros” que partilhávamos, emocionávamo-nos com “O Lodo e as Estrelas” do padre Ferraz e ouvíamos, em ambiente reservado, Zeca e Adriano. No Liceu, calhou-nos em sorte, como professor de Religião e Moral, o padre Ferreira de quem se diria, mais tarde, ter em igual consideração e de leitura diária a Bíblia e o Capital de Karl Marx. Foi ele que nos despertou a consciência para a injustiça da inexplicável falta de democracia e liberdade de expressão no Liceu e que a Academia deveria ser uma expressão da vontade e anseio dos alunos e não uma extensão do poder delegado do Reitor nem os seus membros deveriam ser indicados por ele e pelos professores que lhe eram mais próximos.
E o que fazer contra isso?
Protestar, claro!
Obviamente que qualquer protesto público seria reprimido, sufocado e severamente castigado. O que se fizesse teria de ser feito de forma secreta, reservada e, obviamente, pela calada da noite.
Nesse ano os Vitorinos já se tinham mudado para um quarto da Pensão Machado Cura, junto aos Correios o que permitiu a organização da “ação” fora da tutela vigiada do Colégio. Foram eles que compraram as tintas e pincéis e que marcaram o encontro à meia-noite (mais tarde lamentámos que não tivesse sido mais tarde), junto ao café Zip-Zip. Os outros saímos do S. João de Brito, por uma janela que dava para um pequeno terraço sobre a sala de leitura onde ficara “esquecida” uma escada rudimentar, de madeira. Subimos a rampa e acampámos junto à entrada principal do Liceu. Começámos a escrever no chão e nos vidros das portas, quando... alguém abria o portão, cá em baixo, ao fundo da escadaria e caminhava descontraidamente para o lugar onde estávamos. Alarmados, mas querendo deixar “marca”, derramámos o resto da tinta nas escadas e corremos na direção oposta, saltando (ainda hoje não sei como) as grades, galgando as ruas do Bairro da Mãe d’Água para nos reagruparmos junto à Torralta. Entrámos no quarto dos Vitorinos, para recuperar fôlego e jurar silêncio sobre o ocorrido. Eles ficaram e os restantes dirigimo-nos para a outra margem do Fervença. Ao passar no Loreto vimos que a polícia percorria, de carro, acendendo e apagando os faróis, o espaço circundante ao Liceu. A escada ainda estava no lugar onde ficara e conseguimos regressar à camarata sem sermos detetados. No dia seguinte havia um burburinho por entre os nossos colegas que, obviamente, nós “ignorávamos” e perguntávamos sobre o que se teria passado e não era por mera curiosidade, como os demais.
A Última Academia acabava de germinar!
Consolidar-se-ia, meses mais tarde, na representação de uma peça de teatro, “Nas teias da Injustiça” escrita a meias por mim e pelo João Vitorino e que a propósito do consumo de drogas, já a despontar por ali, tentámos, ingenuamente, fazer passar algumas ideias de liberdade e justiça. Foi um sucesso e teve como principal mérito, tornar-nos conhecidos da comunidade liceal.
Em maio, um grupo promovido exclusivamente por alunos, era eleito de forma livre e democrática para a Academia do Liceu Nacional de Bragança para o ano letivo de 1973/74, a última!

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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