Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 9 de maio de 2023

Aldeias em guerra

 A gente anda tão pouco tempo neste mundo, que é pena que esse pouco tempo seja tantas vezes desperdiçado em desentendimentos e rivalidades, quando não em guerras abertas. O que se passa entre pessoas é muitas vezes replicado ao nível das povoações. Seja pelo motivo que for, em dado momento há duas povoações que se desentendem, e os ressentimentos prolongam-se pelos tempos fora.
Curiosamente é ao nível de povoações menores que essas quezílias são mais frequentes. O que não quer dizer que não se verifiquem também a nível de povoações maiores. 
Pelos meados do século passado — recordo perfeitamente —, havia uma rivalidade aberta entre Bragança e Mirandela, como se quisessem disputar uma à outra o lugar de maior terra do distrito. (Mais tarde, Macedo de Cavaleiros, cujo rápido progresso foi manifesto, chegou a envolver-se também nessa disputa, mas de modo pouco empenhado.) Os habitantes de Bragança e Mirandela chamavam-se mutuamente ‘narros’. O campo privilegiado para essas guerras eram os desafios de futebol, onde o clubismo e o bairrismo faziam detonar zaragatas que não raro causavam feridos.
E quem não ouviu falar da rivalidade entre Vila Real e Chaves, também em disputa de primazia. Em ocasiões em que a rivalidade andava mais acesa, fosse lá pelo que fosse, qualquer pretexto servia para causar um incidente. Já não é do meu tempo, mas ouvi contar, que, em tempos, quando vinha uma embaixada futebolística de Chaves a Vila Real, essa embaixada era recebida com uma faixa à entrada de Vila Real, em que lia: ‘´Portugal saúda Chaves.’ Estão a ver a maroteira: dizer aquilo equivalia a chamar espanhóis aos flavienses. Os flavienses vingavam-se aplicando aos vila-realenses um apodo extremamente irritante: ‘Fecha a roda’ (Isto, abstenho-me de descodificar.)
Hoje — e ainda bem — essas rivalidades atenuaram-se e já praticamente não têm expressão, mesmo ao nível das aldeias, onde costumes profundamente enraizados custam a morrer.
Calculo que em tempos antigos tenha havido mosquitos por cordas entre Grijó e Vale Benfeito. São duas aldeias separadas por um quilómetro, se tanto; qualquer dia encostam uma à outra. E já não há — pelo menos nunca testemunhei — manifestações hostis entre os habitantes de uma e outra povoação. Mas houve em tempos. Capacito-me disso ao ler nas “Memórias” do Abade de Baçal, esta curiosa quadra:

Vou daqui para Vale Benfeito,
Não vejo senão formigas.
Entro ali em Grijó,
Vejo lindas raparigas.

Uma confidência, a terminar: tive a sorte de casar com uma dessas lindas raparigas de Grijó.

A. M. Pires Cabral

Sem comentários:

Enviar um comentário