Por: António Pires
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
A par da eterna e recorrente discussão sobre qual o melhor/maior clube português (entre as “opções” Porto, Benfica e Sporting), coloca-se a dúvida em relação ao lugar que os professantes dos mesmos ocupam na tabela do fanatismo. Como adepto de futebol (apoiante incondicional da equipa das quinas), quando, instado a pronunciar-me sobre o segundo tema (o primeiro é muito discutível e pouco pacífico), limito-me a reconhecer o obvio: existem mais fanáticos no Benfica, porque o número de adeptos é incomparavelmente maior que o dos clubes objecto de comparação.
Atento aos fenómenos sociais, desde sempre me dei conta que a maioria dos adeptos do Benfica vive o benfiquismo como sendo a sua causa maior, o ar que respiram. Nos dias em que a equipa da luz joga, naqueles 90 minutos (mais uns pózinhos), o país pára, a respiração dos adeptos fica suspensa, os cafés e os bares ficam à pinha, transformando-se em verdadeiros santuários de culto, retiros espirituais em versão barulhenta.
Até aqui tudo bem. O problema é que nestas práticas religiosas nem sempre há lugar para os não crentes, os ateus e os agnósticos, ganhando força a máxima do “quem não é por nós é cotra nós”. Para alguns fiéis, a lei do Corão é levada a sério: o vinho do Porto não entra numa dada casa de pasto de Bragança, por ter, imagine-se o ridículo, o mesmo nome que o clube rival da Invicta. Como também há bebedores de cerveja (mesmo não distinguindo, em prova cega, a marca que estão a ingerir), que se recusam beber Super Bock, por ser fabricada em Leça do Balio, no Porto.
Em dois momentos separados no tempo, pude verificar que o benfiquismo é mesmo um credo.
Num dado fim de semana do passado mês de Maio (sexta ou sábado, não sei precisar), reservei mesa, para o jantar, num conhecido restaurante de Bragança, cujo “prato principal”, pelo menos p´ra mim, era a publicitada música ao vivo. Nessa mesma noite jogava o “glorioso”. Meia hora depois do músico começar a tocar, num ambiente animadíssimo, o gerente, contra todas as expectativas, teve a peregrina e insensata ideia de dar ordens para parar a “banda”, com a justificação de que ia começar a jogar o Benfica, na televisão.
Mais recentemente, no passado sábado, entrei num bar para fazer uma partida de snooker com o meu adversário habitual e preferido, no momento em que (azar dos Távoras), nas quatro televisões ligadas, o Benfica estava a jogar contra o Guimarães. Quando, pois, nos preparávamos para tirar os tacos das respectivas bolsas, eis que o gerente nos diz: “não podeis jogar, enquanto não acabar o futebol”.
Fiquei bastante sentido e desgostoso, por três motivos: 1 - é o sítio em Bragança, a par do restaurante Sport, onde se bebe a melhor e mais fresca caneca de cerveja; tem um ambiente fantástico, acolhedor, com “clientes de bairro”, lugar onde se cultiva a amizade, porque tudo gente boa; o dono e os funcionários são extremamente simpáticos. 2 – Nós não perturbávamos a oração, porquanto a mesa de snooker está ligeiramente afastada do local de culto. 3 – O Benfica, naquele momento, aos 55 minutos de jogo, já estava a ganhar 4 – 0; logo, não havia motivos para estados de tensão ou nervosismo.
Eu pergunto: se, nos dois exemplos referidos, estivesse a dar o Porto ou o Sporting na televisão, o “tratamento” seria o mesmo. De certeza absoluta que não!
Embora goste de futebol e tenha praticado, durante anos, como amador, esta modalidade desportiva, continuo a achar que o dito é, como alguém assim o considerou, “a coisa mais importante das coisas menos importantes”.
Atento aos fenómenos sociais, desde sempre me dei conta que a maioria dos adeptos do Benfica vive o benfiquismo como sendo a sua causa maior, o ar que respiram. Nos dias em que a equipa da luz joga, naqueles 90 minutos (mais uns pózinhos), o país pára, a respiração dos adeptos fica suspensa, os cafés e os bares ficam à pinha, transformando-se em verdadeiros santuários de culto, retiros espirituais em versão barulhenta.
Até aqui tudo bem. O problema é que nestas práticas religiosas nem sempre há lugar para os não crentes, os ateus e os agnósticos, ganhando força a máxima do “quem não é por nós é cotra nós”. Para alguns fiéis, a lei do Corão é levada a sério: o vinho do Porto não entra numa dada casa de pasto de Bragança, por ter, imagine-se o ridículo, o mesmo nome que o clube rival da Invicta. Como também há bebedores de cerveja (mesmo não distinguindo, em prova cega, a marca que estão a ingerir), que se recusam beber Super Bock, por ser fabricada em Leça do Balio, no Porto.
Em dois momentos separados no tempo, pude verificar que o benfiquismo é mesmo um credo.
Num dado fim de semana do passado mês de Maio (sexta ou sábado, não sei precisar), reservei mesa, para o jantar, num conhecido restaurante de Bragança, cujo “prato principal”, pelo menos p´ra mim, era a publicitada música ao vivo. Nessa mesma noite jogava o “glorioso”. Meia hora depois do músico começar a tocar, num ambiente animadíssimo, o gerente, contra todas as expectativas, teve a peregrina e insensata ideia de dar ordens para parar a “banda”, com a justificação de que ia começar a jogar o Benfica, na televisão.
Mais recentemente, no passado sábado, entrei num bar para fazer uma partida de snooker com o meu adversário habitual e preferido, no momento em que (azar dos Távoras), nas quatro televisões ligadas, o Benfica estava a jogar contra o Guimarães. Quando, pois, nos preparávamos para tirar os tacos das respectivas bolsas, eis que o gerente nos diz: “não podeis jogar, enquanto não acabar o futebol”.
Fiquei bastante sentido e desgostoso, por três motivos: 1 - é o sítio em Bragança, a par do restaurante Sport, onde se bebe a melhor e mais fresca caneca de cerveja; tem um ambiente fantástico, acolhedor, com “clientes de bairro”, lugar onde se cultiva a amizade, porque tudo gente boa; o dono e os funcionários são extremamente simpáticos. 2 – Nós não perturbávamos a oração, porquanto a mesa de snooker está ligeiramente afastada do local de culto. 3 – O Benfica, naquele momento, aos 55 minutos de jogo, já estava a ganhar 4 – 0; logo, não havia motivos para estados de tensão ou nervosismo.
Eu pergunto: se, nos dois exemplos referidos, estivesse a dar o Porto ou o Sporting na televisão, o “tratamento” seria o mesmo. De certeza absoluta que não!
Embora goste de futebol e tenha praticado, durante anos, como amador, esta modalidade desportiva, continuo a achar que o dito é, como alguém assim o considerou, “a coisa mais importante das coisas menos importantes”.
António Pires
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