Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)
Digo o teu nome.
Digo-o, devagar… despojado de pressa.
Como quem acende as marés num intervalo de luz
ou o avesso de um segredo… que não digo.
E caminho cego no que o desejo inventa
dentro de ti.
.
E digo-o, outra vez,
como quem lança a chuva contra o céu
em gotas de lume, na palma da noite,
e o rubro húmido do perfume que repousa entre a vertigem e o nada.
A voz íntima da sede e exaltação, suspensos na nudez do impossível
Por isso, ouso dizer-te o verso
com a confidência grave das sílabas submersas que toco, sem tocar:
que tudo em mim flutua no vértice da carne
marcada pelo gesto distraído da beleza.
Sopro de âmbar e seda líquida, pousada na ondulação da pele,
onde as flores reconhecem
a mesma linguagem do efémero e do eterno.
.
E não é apenas a forma que renasce na pureza das águas
e o idioma do silêncio na respiração que se demora…
É ainda o presságio de fogo
onde o corpo desmaia e se reinventa,
e o fulgor que aprende a ser suspiro… e quietude.
.
E se o tempo não existe, é porque só este instante
é o que não me pertence.
Por isso, digo o teu nome, entre dois abismos,
quando o mistério se torna na memória de um voo
sobre o dorso intangível da matéria.
…
Como quem ama, sem saber que ama.
@Lázaro Rios
(heterónimo de Paula Freire )
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criação IA . design #paula_freire_fotografia
Paula Freire - Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal.
Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas do Desenvolvimento Pessoal e do Autoconhecimento, bem como à prática de clínica privada.
Filha de gentes e terras alentejanas por parte materna e com o coração em Trás-os-Montes pelo elo matrimonial, desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, onde se descobre nas vivências sugeridas pelos olhares daqueles com quem se cruza nos caminhos da vida, e onde se arrisca a descobrir mistérios escondidos e silenciosas confissões. Um manancial de emoções e sentimentos tão humanos, que lhe foram permitindo colaborar em meios de comunicação da imprensa local com publicações de textos, crónicas e poesias.
O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021, “Cultura Sem Fronteiras” (coletânea de literatura e artes) e “Nunca é Tarde” (poesia), e da obra solidária “Anima Verbi” (coletânea de prosa e poesia) editada pela Comendadoria Templária D. João IV de Vila Viçosa, em 2023. Prefaciadora dos romances “Amor Pecador”, de Tchiza (Mar Morto Editora, Angola, 2021), “As Lágrimas da Poesia”, de Tchiza (Katongonoxi HQ, Angola, 2023), “Amar Perdidamente”, de Mary Foles (Punto Rojo Libros, 2023) e das obras poéticas “Pedaços de Mim”, de Reis Silva (Editora Imagem e Publicações, 2021) e “Grito de Mulher”, de Maria Fernanda Moreira (Editora Imagem e Publicações, 2023). Autora dos livros de poesia: Lírio: Flor-de-Lis (Editora Imagem e Publicações, 2022) e As Dúvidas da Existência - na heteronímia de nós (Farol Lusitano Editora, 2024, em coautoria com Rui Fonseca).
Em setembro de 2022, a convite da Casa da Beira Alta, realizou, na cidade do Porto, uma exposição de fotografia sob o título: "Um Outono no Feminino: de Amor e de Ser Mulher".
Atualmente, é colaboradora regular do blogue "Memórias... e outras coisas..."- Bragança e da Revista Vicejar (Brasil).
Há alguns anos, descobriu-se no seu amor pela arte da fotografia onde, de forma autodidata, aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza.
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