Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Estavas tão cansada, minha mãe, minha menina, Eugénia Rodrigues Minga. Estavas tão cansada e a nossa horta de Valguimbra já era tão longe e o poço já se calava de tantas tardes de rega, na urgência das batatas novas, dos feijões, das couves, das abóboras para a criação que garantiam mesa farta nos longos dias do ano.
Estavas tão cansada e os seis filhos criados por ti cresceram e alguns envelheceram com a tua velhice. Lá longe ficou o forno onde cozias o pão nosso de cada dia. O teu tear se silenciou e a colcha de linho é somente a memória na arca grande que cheira a alfazema.
O Soto onde vendias as mercearias, os riscados e as popelinas fechou as portas e os clientes vestiram a blusa nova, o fato domingueiro e foram contigo descansar pertinho do balcão do infinito.
Estavas tão cansada, Eugénia Minga, no quarto do Hospital onde se ouviam gemidos!
- Minha Senhora da Boa Morte! Mãe Santíssima Senhora do Carmo!
Cheguei às três horas da tarde e Cristo morria na Cruz… apertaste-me a mão… olhaste-me a última vez nos olhos e foste descansar! Estavas tão cansada, Eugénia!
As minhas alunas de Enfermagem choraram longamente comigo… no abraço sem palavras!
- Minha Senhora dos Aflitos!… Mater dolorosa! E ali fiquei… lágrimas… tantas!
Entardecia!
Levei-te ao anoitecer à campa rasa e para sempre te trouxe para a nossa casa, no peito, ao colo, minha Eugénia… minha mãe!
Estavas tão cansada, minha menina tecedeira… hoje, dia de todas as mães irei visitar-te à nossa horta… beber contigo água fresca na fonte e levar-te goivos… felizmente, já há goivos… minha mãe… e quero-te tanto!
… não vás embora!
Estavas tão cansada e os seis filhos criados por ti cresceram e alguns envelheceram com a tua velhice. Lá longe ficou o forno onde cozias o pão nosso de cada dia. O teu tear se silenciou e a colcha de linho é somente a memória na arca grande que cheira a alfazema.
O Soto onde vendias as mercearias, os riscados e as popelinas fechou as portas e os clientes vestiram a blusa nova, o fato domingueiro e foram contigo descansar pertinho do balcão do infinito.
Estavas tão cansada, Eugénia Minga, no quarto do Hospital onde se ouviam gemidos!
- Minha Senhora da Boa Morte! Mãe Santíssima Senhora do Carmo!
Cheguei às três horas da tarde e Cristo morria na Cruz… apertaste-me a mão… olhaste-me a última vez nos olhos e foste descansar! Estavas tão cansada, Eugénia!
As minhas alunas de Enfermagem choraram longamente comigo… no abraço sem palavras!
- Minha Senhora dos Aflitos!… Mater dolorosa! E ali fiquei… lágrimas… tantas!
Entardecia!
Levei-te ao anoitecer à campa rasa e para sempre te trouxe para a nossa casa, no peito, ao colo, minha Eugénia… minha mãe!
Estavas tão cansada, minha menina tecedeira… hoje, dia de todas as mães irei visitar-te à nossa horta… beber contigo água fresca na fonte e levar-te goivos… felizmente, já há goivos… minha mãe… e quero-te tanto!
… não vás embora!
In: Foste-me embora
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.


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