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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 4 de maio de 2025

… quase poema… ou o dia de todas as mães

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Estavas tão cansada, minha mãe, minha menina, Eugénia Rodrigues Minga. Estavas tão cansada e a nossa horta de Valguimbra já era tão longe e o poço já se calava de tantas tardes de rega, na urgência das batatas novas, dos feijões, das couves, das abóboras para a criação que garantiam mesa farta nos longos dias do ano.
Estavas tão cansada e os seis filhos criados por ti cresceram e alguns envelheceram com a tua velhice. Lá longe ficou o forno onde cozias o pão nosso de cada dia. O teu tear se silenciou e a colcha de linho é somente a memória na arca grande que cheira a alfazema.
O Soto onde vendias as mercearias, os riscados e as popelinas fechou as portas e os clientes vestiram a blusa nova, o fato domingueiro e foram contigo descansar pertinho do balcão do infinito.
Estavas tão cansada, Eugénia Minga, no quarto do Hospital onde se ouviam gemidos!
- Minha Senhora da Boa Morte! Mãe Santíssima Senhora do Carmo!
Cheguei às três horas da tarde e Cristo morria na Cruz… apertaste-me a mão… olhaste-me a última vez nos olhos e foste descansar! Estavas tão cansada, Eugénia!
As minhas alunas de Enfermagem choraram longamente comigo… no abraço sem palavras!
- Minha Senhora dos Aflitos!… Mater dolorosa! E ali fiquei… lágrimas… tantas!
Entardecia!
Levei-te ao anoitecer à campa rasa e para sempre te trouxe para a nossa casa, no peito, ao colo, minha Eugénia… minha mãe!
Estavas tão cansada, minha menina tecedeira… hoje, dia de todas as mães irei visitar-te à nossa horta… beber contigo água fresca na fonte e levar-te goivos… felizmente, já há goivos… minha mãe… e quero-te tanto!
… não vás embora!

In: Foste-me embora


Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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