quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Blogue - Etnografia em Imagens para «ultrapassar os preconceitos sobre a cultura popular portuguesa»

Um casamento onde o carro da noiva é puxado por animais, o afã das vindimas no Alto Douro Vinhateiro no passado, os trajes tradicionais. Retratos do país compilados on-line no blogue Etnografia em Imagens. Um espaço de partilha na internet para a promoção e impulso e autenticidade do folclore português, «que pode ser um bom contributo para o turismo», defende o autor José Pinto.
As fotografias servem sobretudo para mais tarde recordar momentos, lugares, pessoas. São também um documento histórico onde fica eternizada a paisagem, as formas de trajar, modos de vida. Matéria-prima para a construção do Blogue Etnografia em Imagens.
José Pinto, coordenador do projecto, explica: «tendo-se constatado, com o passar do tempo, a existência de inúmeras imagens, antigas ou mais recentes, relacionadas com o folclore e a etnografia de Portugal, que chegavam ao nosso conhecimento, rapidamente se concluiu pela necessidade, que ultrapassa a própria vontade, de sistematizarmos as mesmas, com a inclusão, ou não, de breves textos que as devem contextualizar, para melhor serem compreendidas por todos aqueles que acedem ao blogue».
As imagens são enviadas por «amigos folcloristas», recolhidas em revistas antigas, em arquivos disponibilizados publicamente por diversas entidades. Através destes «retratos» podemos descobrir o traje da minhota com os seus xailes, saias compridas, a alentejana de lenço na cabeça e chapéu. Há ainda imagens que mostram os trabalhos agrícolas, de tarefas do quotidianos como lavar a roupa no rio.
Para José Pinto, mais importante do que «divulgar, de forma fiel os diversos aspectos da etnografia de Portugal», é importante «recolher e preservar». Neste trabalho de promoção das tradições nacionais, a Internet tem tido um papel revolucionário.
«Considero que a Internet tem dado um contributo extraordinário, não só na preservação e divulgação do folclore das diversas regiões de Portugal, mas, também, porque tem possibilitado a existência de diversos canais de discussão, e de partilha de experiências entre os responsáveis dos grupos de folclore e mesmo com diversas entidades», adianta.
A presença na Internet tem influenciado também o trabalho de alguns grupos de folclore, contribuindo para que melhorem a qualidade do seu trabalho. «Muitos grupos, antes de autenticidade mais ou menos “duvidosa”, e seguindo o exemplo de outros mais criteriosos, passaram a ter mais cuidado e a ser mais fiéis ao legado que os seus antepassados lhes deixaram, tal como forma de trajar e na apresentação de danças e cantares da sua própria região».
Percorremos um pouco mais o blogue. Vemos imagens a preto e branco do trabalho nas vinhas do Alto Douro ou de um casamento onde o carro da noiva é de madeira e puxado por bestas. São partilhas que podem contribuir para aproximar os cidadãos do folclore, ou seja, o conjunto das tradições populares nas suas variadas manifestações, tais como música, dança, canções, provérbios, lendas.
José Pinto comenta que «há cada vez mais pessoas preocupadas com a autenticidade do folclore e de outros aspectos da etnografia [o estudo do folclore] do nosso país. Hoje parece haver cada vez menos preconceitos sobre o folclore e de tudo o que diga respeito à cultura popular portuguesa». Ainda assim alerta para o constante recurso da palavra folclore associada ao «denegrir e humilhar» as pessoas.
O Blogue Etnografia em Imagens é gerido pelo Portal do Folclore Português, que alimenta ainda outros dois projectos o Blogue do Portal e o blogue Passear em Portugal. Iniciativas que visam essencialmente dar a conhecer a riqueza cultural do país.
«O folclore faz parte da cultura do nosso povo. Infelizmente, o folclore ainda é visto como uma forma de cultura “inferior”, de massas, em contraposição com a cultura destinada a uma “certa elite”, só para alguns privilegiados», diz José Pinto.

O mesmo responsável refere ainda que o folclore não é tão apoiado como «se diz». «Os apoios financeiros, as condições disponibilizadas para a realização de actividades folclóricas, são menos do que migalhas quando comparados com os valores gastos com outras manifestações culturais».
E pede aos grupos folclóricos que aprendam a dizer não sempre que lhes sejam oferecidas fracas condições. «Infelizmente, muita da “culpa” por esta situação passa pelos dirigentes dos Grupos de Folclore que não são capazes de dizer “não” quando não lhes são disponibilizadas as mínimas condições para as respectivas actuações. É tempo de dizer: basta. O Folclore merece ser dignificado».
O apoio logístico e financeiro dos grupos de folclore, que fazem um trabalho sério e fiel da preservação cultural, serão boas formas de contribuir para o sucesso no trabalho destes grupos.
A manutenção destes grupos de folclore pode contribuir também para a economia do país, porque «as potencialidades do folclore no âmbito do turismo são inúmeras e ainda muito pouco aproveitadas».
José Pinto considera que «qualquer manifestação ou representação folclórica tem duas componentes essenciais: dá a conhecer as raízes culturais de uma determinada região ou localidade e promove a animação de um espaço».

E conclui: «se tudo for feito com autenticidade, sem o intuito de vender “gato por lebre”, bem preparado e executado com alegria e gosto, o turista fica satisfeito e será ele o melhor meio de divulgação para que muitos outros venham no futuro».
As manifestações folclóricas não se fazem apenas de danças e cantares, há muitas vezes recriações de modos de vida antigos, promovendo-se assim o artesanato e produtos nacionais.


Sara Pelicano; foto - Blogue Etnografia em Imagens
in:cafeportugal.net

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