quinta-feira, 20 de junho de 2019

… ainda os cerdeiros da estrada

Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Todos os dias passo junto dos cerdeiros da estrada. Os cantoneiros já foram descansar para o cantão mais bonito do céu… e o senhor diretor das Estradas também não tem aparecido por estes lados… só os cerdeiros continuam a envelhecer com dignidade oferecendo aos transeuntes as cerejas pequeninas…. mas doces como o mel.
… a natureza cumpre-se. Tenho que avisar a garotada da minha aldeia que o cerdeiro de cerejas pretas está carregadinho…. Só que na minha aldeia já quase não há crianças… e os que há não ligam às míseras cerejas da estrada na fartura de tantos cerejais e pomares de tantas frutas.
… a mãe bem se consumia… olha-me para essa cara… olha.me para essas mãos… e a camisa toda manchada da porcaria das cerejas pretas… vai-me lavar essas mãos e essa cara… quero ver, agora, quem lava a camisa!
… depois a mãe sorria… e as cerejas eram tão doces e tudo serenava…
… no próximo verão de novo haverá cerejas pretas e vermelhas… e talvez o senhor diretor das estradas ande descuidado…
… não me ralhes, minha mãe!
… que saudades!


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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