Foto: José Vinha/Arquivo Global Imagens |
Qualquer que venha a ser o desfecho do processo de insolvência, "sendo líder nacional de produção de cogumelos frescos, com uma quota de mercado de 80%, tendo capacidade instalada e estando a produzir e a fornecer os seus clientes diariamente, não se concebe que uma empresa industrial desta dimensão possa ver-se encerrada", acentuou, ao JN, o administrador judicial, Bruno Costa Pereira.
Apesar de o grupo Sousacamp ter "muita dívida [60 milhões de euros, a maior parte ao Novo Banco], essa dívida resolve-se no processo", notou o responsável, salientando que "as empresas devem fechar quando operacionalmente deixam de ser rentáveis ou não se consegue garantir a rentabilidade num curto prazo". Ora, "com a informação que temos hoje não se perspetiva qualquer possibilidade de encerrar o grupo", insistiu. Apesar disso, terá de passar por "uma restruturação societária", porque existe um universo de empresas que "provavelmente terá de ser repensado".
Para já, está só a discutir-se o futuro da Varandas de Sousa, que é a empresa mais importante do grupo Sousacamp. Depois de encerrado este processo, haverá assembleia de credores nas outras cinco empresas do grupo, que "terão o mesmo destino da primeira".
Garantia não chegou
A reunião desta quinta-feira foi a continuação de outra realizada a 5 de junho. Nessa altura foram dados 15 dias a um consórcio de dois investidores estrangeiros, apresentado pelo acionista do grupo, para poder aportar as garantias financeiras necessárias para que os credores possam votar favoravelmente o plano de recuperação.
"Os 15 dias esgotaram-se esta quinta-feira e a garantia não foi aportada", sublinhou o administrador judicial. Acrescentou que "foi informado que a operação financeira está a ser contratada junto de uma entidade espanhola e que ainda não houve tempo para que essa operação de 25 milhões de euros pudesse ser aprovada".
Por pedido dos credores, o Tribunal de Vila Flor deu mais 20 dias, prazo que termina no dia 17 de julho, "para que a garantia venha a ser aportada e permita aos credores votar de forma esclarecida e convicta", de modo a que "o plano de recuperação tenha depois capacidade para ser cumprido".
Muitos interessados
Se for aprovado, o administrador de insolvência mantém-se no cargo até ser feito o pagamento aos credores de "35% dos seus créditos", o que terá de ocorrer num "prazo de 30 dias". A seguir, o processo é encerrado com recuperação e o grupo readquire a sua "normalidade de funcionamento".
No caso de o plano não ser aprovado, a lei determina que o grupo entre em processo de liquidação, o que "não significa ter de o fechar", reiterou Bruno Costa Pereira. Nesse caso, "tem de se procurar no mercado um investidor alternativo que possa entrar no capital e prosseguir a atividade". Até porque, segundo disse, há "variadíssimas manifestações de vontade e de interesse firme por parte de "players" nacionais e estrangeiros, já que se trata de uma empresa líder".
Por causa deste alegado muito interesse, José Eduardo Andrade, do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabaco de Portugal (SINTAB), adiantou que os trabalhadores até admitem a possibilidade de se avançar para a fase de insolvência. Havendo mais opções, "poderia ser escolhida uma saída, provavelmente bem melhor que a atual, para a viabilidade da empresa".
O dirigente justificou que está preocupado com a probabilidade de "uma empresa que é líder nacional cair na mão de estrangeiros. Manter uma empresa que quase tem o monopólio [dos cogumelos frescos] na esfera nacional deveria ser um desígnio de todos", frisou.
Apesar de tudo, José Eduardo Andrade vincou que o principal objetivo é a "manutenção dos postos de trabalho" e que, durante a assembleia de credores "foram valorizadas as garantias dadas verbalmente, apesar de não estarem na proposta escrita". Mas, "como não está previsto o pagamento de indemnizações é sinal de que não vai haver despedimentos".
Processo tem 17 meses
O grupo Sousacamp entrou em processo judicial em fevereiro de 2018, primeiro ao abrigo de um plano especial de recuperação e depois de insolvência. Os 25 milhões de euros da proposta que está em cima da mesa são essenciais para resolver de imediato o problema.
A proposta foi apresentada pelo consórcio que constituiu uma sociedade em Portugal, denominada Rudi & Mittelbrunn, Lda. Um dos dois empresários é Rudi François J. Joris, um belga radicado na Polónia, que é considerado uma "referência mundial na formação técnica e profissional no setor dos cogumelos".
O outro é o espanhol Ignácio Felipe Mittelbrunn Fuentes, que pretende fazer uma parceria com o grupo brasileiro BDN, que atua no mercado em áreas como imobiliária, financeira, saúde e agronegócio.
A proposta de viabilização apresenta três soluções aos credores. Para um pagamento imediato em 30 dias, os proponentes querem um perdão de 65% das dívidas. Outra solução é o perdão de 35% dos créditos e o pagamento dos restantes 65% em 72 prestações. Se os credores não aceitarem as hipóteses com perdão de dívida, a solução proposta é o pagamento total em 120 prestações (10 anos) com um período de carência de 18 meses.
Eduardo Pinto
Jornal de Notícias
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