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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 29 de junho de 2019

A Linha do Douro, o interior e a hipocrisia dos decisores

Foi recentemente apresentada no Museu do Douro uma petição pública que reivindica a necessidade de abrir o debate sobre a urgência de investimento para reativação e requalificação da Linha do Douro até Barca d’Alva e Espanha. Os promotores foram a Liga dos Amigos do Douro Património Mundial e a Fundação Museu do Douro. É bem-vinda a iniciativa! 

Esta luta não é nova e o erro político de não considerar o transporte ferroviário como determinante ou fundamental para uma mobilidade sustentável e para as necessidades económicas do mundo atual, tem vindo desde há muito tempo a ser denunciado pelo BE.

Eu próprio tomei o tema em mãos no último “Encontro do Interior”, realizado em 26 de janeiro deste ano na vila de Alijó, ao denunciar e ao criticar o desprezo politico do atual Governo por não comtemplar a recuperação e modernização da Linha do Douro no Plano Nacional de Investimentos (PNI) para a década 20-30. Na verdade - há que dizê-lo sem qualquer tipo de restrições-, o PNI para a próxima década espelha a demagogia, a hipocrisia e a falta de sensibilidade dos atuais decisores para com o enorme problema da interioridade. 

Ao ser assim apresentado, com uma orientação que concentra os principais investimentos nos grandes centros urbanos ou no seu entorno, o PNI revela-se ofensivo para o interior, mostrando o quanto de hipócrita contêm as intervenções públicas de quem se diz preocupado com os problemas dos territórios de “baixa densidade”.

O Programa Nacional de Investimentos apresentado pelo Governo de António Costa poderá ser considerado como um atestado de óbito final para todos os que continuam a resistir nesta faixa de abandono do território português; representa mais uma década perdida por não se prever qualquer investimento estrutural em territórios que se encontram num alucinante processo de despovoamento.

Nós, os que vivemos em Trás-os-Montes e Alto Douro, não podemos tolerar porque não contemplou esse Plano a tão premente e necessária solução de investimento para a requalificação da Linha do Douro. Todos estão de acordo que a Linha do Douro, com a respetiva ligação a Espanha, poderia constituir uma solução estruturante de crucial importância para animar a economia do eixo regional que acompanha este curso fluvial. 

Este governo sabe que a centenária via férrea é encarada nos dias de hoje pela União Europeia (UE) como uma das soluções ferroviárias com elevado potencial no espaço europeu. Foi a própria UE, a tal entidade de onde vão chegando os fundos financeiros para os projetos estruturantes fomentados no litoral, que sublinhou o potencial económico e desenvolvimentista da ferrovia do Douro, nomeadamente se for viabilizado o traçado até Barca d’Alva (Portugal) e Fregeneda - Salamanca (Espanha), com um custo de requalificação estimado de 578 milhões de euros. 

A Linha do Douro e uma linha fronteiriça franco-alemã foram as duas ligações escolhidas e classificadas como de maior potencial económico em toda a Europa por uma iniciativa da Comissão Europeia realizada a 9 de outubro do ano passado, durante a Semana das Cidades e das Regiões que ocorreu em Bruxelas.

O governo de António Costa sabe disto, mas também sabe que existe um estudo datado de 2016, realizado pela Infraestruturas de Portugal através da sua Direção de Planeamento Rodoferroviário, onde é exposto com toda a clareza essa mesma viabilidade e esse mesmo potencial, caso a via fosse requalificada num projeto comum com a vizinha Espanha.

O posicionamento geográfico desta linha férrea confere-lhe um interesse estratégico fora do comum, na medida em que, e cito o mencionado estudo da IP, “permitiria a ligação transversal mais direta desde o porto de Leixões à fronteira com Espanha”. Por sua vez, e atendendo ao desenvolvimento do setor turístico da região vinhateira, a sua requalificação permitiria enquadrar a região do Douro interior, e por consequência todo o “Douro Transmontano” e parte do território da Beira Alta, entre dois importantes polos geradores de tráfego como o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, o terminal de passageiros do Porto de Leixões e a estação do comboio de Alta Velocidade em Salamanca. 

Com a requalificação da Linha do Douro e a respetiva ligação a Espanha, seria potenciado ao máximo um eixo turístico de excelência, um eixo turístico que centrado num troço de caminho-de-ferro geraria a possibilidade de poderem ser visitados quatro destinos classificados pela Unesco como Património da Humanidade: a cidade do Porto, a Paisagem Evolutiva e Viva do Douro Vinhateiro, as Gravuras Rupestres do Vale do Côa e a cidade de Salamanca.

O Governo sabe de tudo isto, mas quando apresentou o Programa Nacional de Investimentos para a década 20-30, o projeto de requalificação da Linha do Douro até à fronteira com Espanha ficou esquecido, apesar de há muito ser reivindicado pelas populações locais, e mesmo depois desta infraestrutura ser considerada como um dos itinerários ferroviários mais promissores no espaço europeu e um dos projetos com maiores potencialidades para alavancar um novo processo de desenvolvimento local e regional.

O aparecimento desta petição pública é por isso uma oportunidade para relembrarmos a António Costa que nós aqui pelo Douro ainda existimos e somos capazes de resistir. É uma oportunidade para abrir o debate na Assembleia da República; é uma oportunidade para mostrarmos e dizermos aos decisores, sejam eles quem forem no futuro, que lutaremos, que haveremos de resistir. Que venceremos! Mas no imediato só se exige aos durienses, aos transmontanos, ao beirões, e a todos os que com eles queiram ser solidários, um gesto simples. O simples gesto de assinar esta petição!


in:noticiasdonordeste.pt

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