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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Centro de Música Tradicional Sons da Terra - Resgatar tradições orais para memória futura

Recuperar a música tradicional e popular do Nordeste Transmontano através da tradição oral, procurando aproximar o passado e o presente, são os objectivos do Centro de Música Tradicional Sons da Terra, localizado em Sendim, no concelho de Miranda do Douro. Uma iniciativa com 11 anos e que tem feito renascer «as cantigas de embalar e os bailes no terreiro depois da missa» em muitas aldeias transmontanas, como conta Mário Correia, director e fundador do Centro.
Foi em Setembro de 2001 que Mário Correia decidiu partir, sozinho, em busca de memórias orais e colectivas das populações transmontanas. Primeiro, começou por definir um programa de gravações dos velhos gaiteiros do Nordeste Transmontano, através «de trabalho de campo, recolha de informação, conhecimento das épocas festivas e a familiarização com os ambientes».
E a frase que escolheu para colocar à entrada do Centro, revela Mário Correia, «ilustra bem o que se pretende com este trabalho»: «“quem não semeia o progresso faz morrer a tradição”. Porque é fundamental fornecer estes testemunhos e chamar a atenção das pessoas para este património».
O trabalho do Centro de Música Tradicional Sons da Terra passa por recuperar músicas tradicionais, de gaiteiros, tamborileiros e de tantos outros tocadores e de cantares, e ao longo de todos estes anos, com a ajuda do filho, que trata a parte de edição de som e vídeo, Mário Correia tem conseguido recolher um espólio considerável na região transmontana.
Conta o responsável que o projecto tem também prosseguido no trabalho de recolhas musicais da tradição oral (incidindo fundamentalmente sobre o Nordeste Transmontano mas também pelas restantes regiões do Norte de Portugal), bem como tem levado a cabo acções de dinamização das associações locais. «Depois de todo esse trabalho passamos ao registo de edições discográficas e bibliográficas».
As gravações, refere, servem para que «se olhe o passado» e ao mesmo tempo «disponibilizar esse trabalho às novas gerações, para que elas o possam trabalhar e actualizar e dar seguimento à herança».
Do programa inicial de recuperação do trabalho dos gaiteiros transmontanos, este projecto «estendeu-se a outros tocadores, passou as linhas de fronteira até às terras de Castela e Leão, porque há repertórios comuns. Felizmente que a música, ainda é das poucas coisas, que não usa passaporte», acrescenta.
Com essa transposição territorial, Mário Correia adianta que surgiu a necessidade de estudar os instrumentos, contribuir para a sua valorização, perceber o seu fabrico, e, «numa fase posterior, entender a sua padronização, e investigar fundos documentais, como a recolha de fotografias e textos».
E recorda a importância para as populações transmontanas «de terem na sua aldeia um gaiteiro a tocar e a fazer um lançamento de um disco, coisa que há anos não acontecia».
A importância de «conservar» tradições:
Mário Correia afirma que as câmaras municipais «teriam um papel importante na divulgação deste património, se compreendessem que esta auto-estima é fixadora de pessoas e contribui para a dinâmica das terras do interior transmontano».

E destaca o desenvolvimento registado com o estudo deste património musical: «nas aldeias houve uma revalorização das festas e as gaitas voltaram a ser moda um pouco como aconteceu com as concertinas no Minho».
A juntar a isso «há muitas pessoas que vão às aldeias, há mais festas locais, criaram-se vários encontros sobre as temáticas da música tradicional transmontana, há festas de gaitas, rondas de adegas e de aldeias».

E o mais importante, considera Mário Correia, «é que independente do contributo para a fixação desta memória, é o facto de as pessoas sentirem que é importante conservarem estas tradições. E foi bom voltar a ver as pessoas a ensinarem as cantigas de embalar ou a bailar outra vez no terreiro depois da missa».
Quanto ao risco de perda deste património singular, o responsável do Centro garante que «estamos no fim de um período que era de transmissão de geração por via oral. Bastava viver-se numa aldeia para se aprender. Hoje já não é possível. E esta recolha serve para manter esse legado geracional».
Nas instalações do Centro de Música Tradicional Sons da Terra encontram-se permanentemente exposições sobre gaiteiros, tocadores populares bretões de biniou koz (gaita bretã) e tocadores tradicionais do Norte de Itália.
A divulgação do património:
O Centro de Música Tradicional desenvolve também um vasto leque de actividades, que vão desde os cursos e a formação, passando pela organização de festivais, colóquios, conferências e concertos (dá alguns exemplos) - sendo, contudo, uma das suas principais vocações o tratamento, catalogação e disponibilização de recolhas sobre as tradições transmontanas, através de um conjunto de materiais (sons, filmes e documentação variada).

Entre os eventos mais conhecidos do Centro estão o Festival Sons da Terr, o Festival Intercéltico de Vizela’, o Festival Intercéltico de Sendim, o Congresso da Gaita de Foles e as Jornadas de Música Tradicional Mirandesa.
Mário Correia informa ainda que o acervo se divide pela biblioteca do Centro (com cerca de dois mil volumes, directa ou indirectamente, em torno da temática da música tradicional, portuguesa e europeia) e pela fonoteca (com quatro mil discos, cerca de 200 horas de recolhas musicais da tradição oral, além de filmes e arquivos documentais fotográficos).
Entre os trabalhos recolhidos, Mário Correia destaca «Cantigas Sem Tempo: Cantos Polifónicos do Baixo Minho», recolhidos em S. Pedro de Rates e Póvoa de Varzim; «Ecos do Passado. Vozes do Futuro: recolha de literatura oral dos Concelhos de Vinhais e Chaves», da autoria de Celina Fernandes; «Os Doces da Tia Rosa/Ls Doces de la tie Rosa: Recolha da gastronomia mirandesa», da autoria de Carla Lobo, em edição bilingue (português e mirandês); «Lhonas, Lindianas, Sacadielhas, Cuntas de l Camino i outras cuntas», um livro escrito em mirandês (incluindo um CD com a leitura de parte do mesmo), por Carlos Ferreira; «Las Fraitas: Recolha do repertório dos tamborileiros mirandeses », por Aureliano Ribeiro, Ângelo Arribas, Célio Pires e Abílio Topa; e «Heranças Gaiteiras: Recuperação do repertório do gaiteiro», por António Fernandes (Urrós, Mogadouro, 1899-1988).
O espólio do Centro é composto por registos recolhidos pelo mesmo, por investigadores da região que se têm dedicado ao estudo da tradição oral, por registos orais e paisagens sonoras de arquivos de várias associações e pelo trabalho de novos grupos de gaiteiros e tamborileiros da região
O projecto tem contado com o apoio institucional e financeiro da Câmara de Miranda do Douro e do Ministério da Cultura.
Mas o destaque vai para o apoio que a autarquia presta ao centro desde 2009 aos seus planos anuais de edições discográficas, mediante aquisição firme de exemplares, reduzido em 50% pelo actual executivo municipal.
Há ainda acordos de colaboração com instituições universitárias de Salamanca e de Valladolid referentes a projectos de cooperação transfronteiriça com relevância cultural.

Ana Clara
in:cafeportugal.net

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