Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Alfândega da Fé (Distrito de Bragança)

De fundação árabe, daí lhe advém o nome Alfandagh, acrescentando que foi o “da Fé”, que alguns cavaleiros cristão, de esporas douradas, lhe granjearam aquando da ajuda que prestaram aos habitantes de Chacim e Castro Vicente, para os libertar da tutela e imposto desonroso do rei mouro que ali governava. A escassas dezenas de quilómetros da sede do distrito, no sopé da Serra de Bornes, Alfândega da Fé, que remonta a tempos pré-históricos, como se pode comprovar pelas gravuras rupestres da Quinta de Ridevives, recebeu forais do rei D. Dinis, em 1294 e de D. Manuel l, em 1510.
Em tempos distantes, Alfândega da Fé foi centro de cultura do bicho-da-seda.
Do Domingo Ilustrado de 1897): “ O seu nome deriva-se da palavra Alfandaq com que no Oriente e na África são designados os hospícios públicos e que em português equivale a albergaria. O seu nominativo significa, pois, literalmente, “Hospício” ou “Albergaria da Fé”.
Presentemente não tem esta povoação nada que recomende a sua passada grandeza, a não ser o sobrenome que lhe foi concedido pelo denodado valor dos seus habitantes nas cruéis e sanguinolentas pelejas contra os sectários de Mafona.
Possuindo os mouros uma fortaleza no monte do Carrascal, próximo da vila de Chacim, saíram de Alfândega da Fé, vinte  cinco cavaleiros «de esporas douradas», que auxiliando os de Chacim e de Castro Vicente, desbarataram o inimigo, produzindo tantos actos de arrojo e bravura, que obtiveram para a sua terra, então somente chamada Alfândega, o sobrenome “Da Fé”, que hoje desfruta”.
Alfândega da Fé
Alfândega (da Fé) é um nome de origem árabe que a localidade deve ter adquirido entre os séculos VIII-IX. É muito possível que anteriormente a este período já existisse algum povoado de origem Castreja, o que não será de admirar, até porque na área do concelho existem muitos vestígios arqueológicos desse e até de períodos anteriores.
No entanto, a transformação em concelho medieval só aconteceu com a carta de foral de D. Dinis, datada a 8 de Maio de 1294, o qual viria a ser confirmado por D. Manuel, em 1510.
Em 1320 o mesmo rei D. Dinis mandou reconstruir o seu castelo, que era anterior ao primeiro foral e provavelmente construído pelos mouros. Este castelo desapareceu com o tempo. O recenseamento do ano de 1530 já indica o castelo como “derrubado e malbaratado” e nunca mais foi recuperado, muito embora o Tombo dos Bens do Concelho de 1766 ainda identifique os “antigos muros” pelo que, a Torre do Relógio, actual ex-libris da vila, e que fica na zona conhecida por Castelo, parece ser o que resta do antigo castelo medieval.
Na sede do concelho merecem ainda uma visita a Capela da Misericórdia, a Capela de S. Sebastião, (inicialmente ermida) cujo campanário actual veio da casa dos Távora, de que resta apenas, do original, a porta de entrada da capela familiar, o portal da mesma casa e a Capela dos Ferreiras, com brasão picado, a identificar ligações àquela família.
Sendo um concelho antigo e para mais com um nome de origem árabe, é fácil de compreender porque razão o imaginário popular gira fundamentalmente em torno das lendas das “mouras encantadas”, não havendo quase freguesia nenhuma onde esse tipo de situações não nos apareça.
Contudo, existem duas lendas mais estruturadas e, de certa forma, com ligação a factos históricos, como é o caso da “Lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas”, que pretende explicar uma parte do nome da vila e marca a resistência dos cristãos face à ocupação muçulmana e a “Lenda de Frei João Hortelão”, relacionada com uma personagem real e que, como veremos adiante, tenta explicar a existência, na localidade de Valverde, de uma importante cruz processional.

Lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas
Segundo essa lenda, no lugar da ermida, havia antigamente uma mesquita em honra de Maomé; e, no sítio do convento, um castelo ocupado por soldados mouros, às ordens dum rei cruel, inimigo figadal dos cristãos aos quais impunha, além de pesados impostos pecuniários, o humilhante imposto das donzelas.
Esse imposto consistia na obrigação de todas as raparigas dos seus domínios passarem a primeira noite do seu casamento no seu harém, para satisfazer os seus caprichos animalescos e libidinosos.
Amedrontados pelo seu grande poderio e pela sua extrema crueldade, os súbditos submetiam-se, embora revoltados, a esta ignominiosa prepotência, por se reconhecerem incapazes de se lhe oporem com êxito.
Longos anos se passaram debaixo desta humilhação revoltante, até que, um dia, um jovem filho do chefe dos Cavaleiros das Esporas Douradas da vila Alfândega, destemido e audaz, resolveu pôr fim a esta odiosa servidão.
Na véspera do seu casamento na aldeia de castro, a cerca de 15 Km do castelo mouro, jurou à noiva que não a deixaria sujeitar-se àquela desonra insuportável. A noiva, receosa da vingança do despótico tirano, implorou fervorosamente a protecção de Nossa Senhora de quem era muito devota e prometeu levantar-Lhe uma capela se Ela lhe valesse naquela angustiosa aflição.
No dia do casamento, depois da boda, o jovem recém-casado, disfarçado com o vestido da esposa, e acompanhado dos amigos com quem tinha combinado o plano da revolta, apresentou-se no castelo, pedindo licença para, todos juntos, oferecerem presentes e prestarem vassalagem a tão alto Senhor.
O pedido foi aceite e a comitiva entrou na sala do castelo com as facas de matar porcos, dissimuladas nos açafates, à guisa de presentes.
Quando o rei moiro apareceu, acompanhado da sua guarda real, para receber os presentes e levar a noiva para a sua alcova, o jovem puxou do punhal e cravou-o no coração do tirano, ao mesmo tempo que os companheiros faziam o mesmo aos guardas que o acompanhavam.
Aos gritos lancinantes dos moribundos, irromperam na sala estrepitosamente os restantes soldados, em grande número e armados até aos dentes.
A luta foi terrível e desigual: dum lado, a coragem e a determinação; do outro, a crueldade e a força. E, como contra a força não há resistência, a vitória pendia naturalmente para o lado dos mouros.
Aparição
Mas, quando os cristãos começavam a fraquejar, feridos pelos alfanjes dos maometanos e tudo parecia irremediavelmente perdido, apareceu surpreendentemente, no meio deles, uma Senhora alta, toda vestida de branco, com um vaso de bálsamo na mão, que começou a ungir-lhes as feridas.
À medida que a Senhora desconhecida os ungia, as feridas ficavam subitamente curadas e a coragem renascia-lhes dentro da alma. Renovadas as forças e empolgados com esta aparição, atiraram-se, como S. Tiago aos mouros e a sorte do combate começou a mudar.
Agora, eram os mouros que retrocediam, apavorados com aquela aparição inopinada e inexplicável que atribuíam a alguma feitiçaria dos inimigos e contra a qual se sentiam impotentes para lutar.
Desmoralizados, incapazes de continuar a luta, puseram-se em fuga, precipitadamente, encosta abaixo, atropelando-se uns aos outros, para salvarem a vida. Mas encontraram pela frente os Cavaleiros das Esporas Douradas, a quem se junta também a população que entretanto tomou conhecimento da revolta dos jovens e se preparou para os ajudar.
Então, os mouros, atacados pela frente e pela retaguarda, sofreram uma terrível chacina que os vitimou implacavelmente.
E assim acabou a abominável opressão do domínio sarraceno e começou a liberdade dos habitantes da região, os quais, atribuindo a vitória a Nossa Senhora, que, com o bálsamo na mão, curou as feridas dos seus filhos e lhes infundiu ânimo para levarem de vencida os odiados opressores, e ainda para darem cumprimento à promessa de noiva, iniciaram a construção da capela em sua honra, precisamente no local da antiga mesquita.
A Nossa Senhora deram o nome de Senhora do Bálsamo na Mão, que depois evoluiu para Senhora de Balsamão.
E ao lugar onde os mouros sofreram a chacina deram o nome de Chacim, à terra da noiva chamaram Vicente, hoje é conhecida por Castro Vicente e em homenagem à fé dos Cavaleiros da vila de Alfândega, chamaram Alfândega da Fé. Estes são os nomes por que estas terras são conhecidas.


(Rui Miranda)

Sem comentários:

Enviar um comentário