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Carrazeda de Anciães é terra de múltiplas e variadas culturas a desenvolver-se por dois conjuntos territoriais geo-climáticos bem diferenciados. O Planalto integrado na Terra Fria; os vales encaixados que desaguam no Douro e Tua a integrar-se na Terra Quente. Dos cereais, o centeio, o trigo e também os milhos. Com eles combina-se o feijão, a castanha e a batata. Terras também de vinha e azeite.
No cereal, dominam o centeio e o trigo, que em muitas terras são as culturas mais abundantes e ordinária; pão de centeio e trigo vai referenciado para todas as terras. Em algumas terras, de particular desenvolvimento da vinha, pode faltar em elevada medida o cereal para as necessidades da terra (Castanheira, Pinhal de Anciães, Ribalonga). Pelo número de referências o trigo está menos presente que o centeio. Uma estatística de dizimarias de 1790 dá para seis freguesias mais próximas do Douro, uma clara supremacia ao centeio: 77,5%; 12,7% ao trigo; 7,2% ao milho grosso e ainda 1,7% à cevada. O milho vai aqui registado em sete das dezasseis memórias, referindo-se existir «de toda a casta» e identificando-se em concreto, o milho grosso e o miúdo, mas sempre em pouca quantidade. Com ele refere-se quase sempre a produção de feijão. Em quatro casos também se refere a cevada. Particular relevo tem a cultura da castanha. Em duas freguesias refere-se também a presença da castanha da Índia, ou da terra, também chamada batata da Índia. É dita «abundante» em Amedo e Fontelonga. O vinho é, em algumas paróquias, dita cultura abundante e de qualidade para exportação. O memorialista de Pinhal de Anciães refere-se mesmo à média anual das 150 pipas que colherá a paróquia, por efeito do muito trabalho dos moradores.
Em Amedo é dito «do mais conservativo» e em Pombal «vinho bom e generoso»; em Ribalonga, «vinho de ramo». Nestes casos a cultura vinícola constitui-se a principal riqueza da terra. De resto a estas culturas junta-se a da oliveira e azeite com alguma presença como é o caso de Vilarinho da Castanheira onde o azeite ao lado da seda é a cultura dita mais abundante. Mais uma vez, a excepção da breve referência de Pinhal de Anciães, não há dados quantitativos às produções que permitam hierarquizar com mais segurança a sua importância para o concelho. Estamos porém aqui longe do domínio absoluto da cultura do cereal – centeio e trigo – como se verifica noutros concelhos do Noroeste Transmontano. Aqui a presença do milho dá outra variedade à paisagem cerealífera. Nalgumas terras o cereal tem a alternativa do vinho, bom e de qualidade que se cultiva intensamente com destino à exportação como é o caso do vinho de ramo de Ribalonga.
Assinalável é a presença referida da batata, em duas freguesias. O tubérculo tem afinal uma história mais antiga no nosso património cultural. E os termos da referência como cultura abundante, certamente significará que a sua presença deve estar também presente noutras paróquias vizinhas. A sua importância no fornecimento de suplemento alimentar à população do Noroeste transmontano bem mais precoce, está assim por determinar.
O território do concelho de Macedo de Cavaleiros desenvolve-se por extenso planalto e a coexistência de serranias, vales, montes e planícies, a que corresponde diversidade climática e potencialidades culturais. O quadro das culturas e variedade da produção apresenta-se por isso complexa.
É extenso o leque das culturas: cereais, o centeio, os trigos, a cevada e também o milho; o vinho, o azeite e a castanha, as plantas e culturas «industriais»: o linho, a amoreira, para além de uma grande variedade de frutos. O centeio vai assinalado para todas as paróquias, a testemunhar a sua omnipresença, mas também, por regra, a cultura mais abundante.
É cultura que apesar de resistir a terrenos mais pobres e frios, precisa aqui, como refere o Memorialista de Espadanedo, de esterco. Tal quer dizer que a cultura «espontanea» tem aqui poucas condições de sucesso. O trigo deve de um modo geral estar também presente em todas as terras. Embora nem sempre se registe a sua cultura, tal não quer dizer que não se cultive, exprime tão só a sua pouca extensão. Quando não se cultiva em absoluto faz-se de tal referência.
É o caso de Espadanedo onde o trigo «não se dá por ser terra muito fria». De um modo geral a produção de trigo é inferior à do centeio, com excepções, como a de Salselas. Distinguem-se as diversas qualidades de trigo: o trigo (presume-se temporão (Memória de Pinhovelo) e o trigo serôdio ou trigo tremês. Há uma referência a trigo candeal (Memória de Paradinha). O volume de referências é indicador de maior e sistemática produção de trigo temporão face à por vezes ocasional cultura do serôdio (Memória de Santa Combinha). A cultura da cevada vai só duas vezes referida; a do milho quatro vezes (uma como milho grosso). Estas são pois culturas marginais.
A cultura da vinha tem aqui um lugar de relevo, pela sua extensão e qualidade. Praticamente não há memória em que os párocos memorialistas se não refiram à cultura. Quando se não refere, foi necessário sublinhar que não há «nenhum vinho» (Memória de S. Cristóvão). Em muitos casos anotando a sua abundancia, noutros a sua qualidade: em Nozelos e Gralhós, como «os melhores da Província»; em Lamalonga «o mais selecto da Província»; em Talhinhas refere-se que «o vinho é o mais generoso da Província», colhido nas vinhas que ficam nas ladeiras do rio Sabor «tão agrestes como as do Douro» (Memória de Talhinha); em Vilarinho de Agrochão são ditos «os mais generosos e famigerados da Província.
É também regular a cultura da oliveira e fabrico de azeite, em geral em pouca quantidade e para consumo local. A castanha vai também de um modo geral referida para todas as terras. É em geral fixada como cultura abundante e nalguns casos de muito boa qualidade (Memória de Peredo).
Particular relevo assume em algumas freguesias do concelho a cultura das amoreiras para a criação do bicho da seda e produção sirgueira. Vai referenciada para Bornes, Castelãos, Chacim, Corujas, Grijó, Lombo, Lamalonga, Podence, Sesulfe, Valbenfeiro, Vinhas. Em Chacim refere-se expressivamente que «o que mais há são muitas amoreiras de folha preta e algumas branca, que não há outra povoação na Província mais natural, nem igual para semelhantes arvores. E pela dita abundancia se cria bastante seda a que podem administrar os moradores e sempre se vende muita folha a diferentes pessoas de diversas partes e lugares». Ao lado da produção de seda refere-se também com frequência a cultura do linho galego, nalguns casos em grande abundancia, em relação com o manancial das águas dos rios e ribeiros (Santa Combinha, Cortiços, Vilar do Monte). As múltiplas informações qualitativas exprimem as diferenciadas situações de subsistência das paróquias, que vão da «abundancia», de «abastança», à de necessidade dos agregados domésticos e das comunidades «para consumo e gastos dos vizinhos» (Memória de Soutelo) a situações em que a produção de géneros alimentares de referência (cereal sobretudo) é pouca e insuficiente.
A situação das comunidades é tanto melhor quando a economia paroquial pode conjugar e recorrer a diferentes recursos. De facto as situações mais débeis registar-se-ão nas freguesias onde apenas se produz e centeio (com complementos maiores ou menores da castanha e outros pequenos géneros); as situações de mais abastança são decorrentes da multiplicidade de recursos que se completam, os cereais, os vinhos, os frutos, a castanha, os produtos industriais. Em geral a boa qualidade dos montes é propícia ao alargamento das culturas. De registar a elevada cultura a que os montes estão sujeitos sendo «temperados» por todos os frutos; mais frios e agrestes para o centeio.
Cultiva-se na serra «seara de pão, vulgo candeal» (Memória de Castro Roupal, Macedo de Cavaleiros).
continua...
Memórias Paroquiais
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