Eugénio Rosa* |
Na entrevista dada à SIC em 14 de Julho de 2015, Passos Coelho torna a abordar a mesma matéria gabando-se nessa ocasião de que o seu governo tinha descoberto um “modelo económico criador de emprego” e apresentava como prova o facto de ter sido criado “175.000 empregos entre Janeiro de 2013 e Abril de 2015”. No entanto, “esqueceu-se” de dizer que, entre Junho (2º Trimestre) de 2011 e Maio de 2015, portanto durante o seu governo, foram destruídos em Portugal 434.400 empregos, pois o emprego passou, naquele período, de 4.893.000 para 4.458.600 segundo dados do INE.
Interessa por isso analisar com objetividade esta questão mostrando como os dados do desemprego são manipulados. Para isso vai-se utilizar os próprios dados oficiais.
NO 1º SEMESTRE DE 2015, O IEFP ELIMINOU DOS FICHEIROS DOS CENTROS DE DESEMPREGO 338.093 DESEMPREGADOS, REDUZINDO ASSIM O DESEMPREGO REGISTADO
Neste estudo, para não ficar muito longo, vai-se apenas analisar o chamado desemprego registado, ou seja, aquele que é divulgado mensalmente pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), e que apenas inclui os desempregados que se inscreveram nos Centros de Emprego (os desempregados que não se registaram nesses centros não são considerados). Os dados do quadro 1, são os divulgados mensalmente na publicação do IEFP: “Informação Mensal do Mercado de emprego”.
Em relação a cada mês, na 1ª coluna está o número de desempregados que existia no início de cada mês inscritos nos Centros de Emprego; na 2ª coluna está o total de desempregados que se inscreveram nesse mês; na 3ª coluna, o número de desempregados para os quais os Centros de Emprego arranjaram trabalho nesse mês, ou seja, o número de colocações feitas no mês. É fácil de concluir que no fim de cada mês o número de desempregados devia ser igual ao número que existia no início do mês mais os novos desempregados inscritos no mês menos os desempregados que foram colocados pelos Centros de Emprego nesse mês.
Se compararmos o total assim obtido com o total de desempregados existentes no fim do mês que consta da “Informação Mensal do Mercado de Emprego” do Instituto de Emprego e Formação Profissional, e que depois é utilizado pelo governo, conclui-se que o 1º total é superior ao divulgado pelo IEFP. Por ex., em Janeiro de 2015, o número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego no início desse mês (é o total que transitou de Dez.2014) era 598.581. Nesse mês inscreveram-se mais 68.881 desempregados o que somados ao valor anterior dá 667.462 desempregados. Durante Janeiro de 2015, foram feitas 10.703 colocações de desempregados pelos Centros de Emprego, o que reduz o valor de 667.462 para 656.759 desempregados. Era este o número de desempregados que devia existir no fim de Janeiro de 2015. No entanto, segundo a “Informação Mensal do Mercado de Emprego” divulgada pelo IEFP, existiam apenas 615.654 desempregados, portanto foram eliminados dos ficheiros dos Centros de Emprego 41.105 desempregados.
Fazendo as mesmas contas para os restantes meses conclui-se que “desapareceram” dos ficheiros dos Centros de Emprego 58.256 desempregados em Fevereiro; 63.969 desempregados em Março; 58.858 desempregados em Abril; 55.859 desempregados em Maio; e 60.046 desempregados em Junho de 2015. Portanto, fazendo a soma conclui-se que só nos primeiros seis meses de 2015 foram eliminados dos ficheiros dos Centros de Emprego 338.093 desempregados sem que o IEFP e o governo tenham dado qualquer explicação para esse facto. Esta eliminação tão elevado de desempregados dos ficheiros dos Centros de Emprego pelo IEFP permite uma fácil manipulação dos dados dos números do desemprego registado, adaptando-os facilmente aos objetivos dos governos.
Para que o leitor fique com uma ideia da dimensão como os dados do desempregado registado são alterados basta que faça a seguinte conta. No início de Janeiro de 2015 existiam 598.581 desempregados inscritos nos Centros de Emprego (era o total que tinha transitado de Dez.2014). Nos primeiros seis meses de 2015 inscreveram-se mais 340.733 desempregados nos Centros de Emprego, o que somado aos que existiam no início de janeiro de 2015 (598.581) dá 939.314 desempregados. Durante os primeiros seis meses os Centros de Emprego arranjaram trabalho para 64.565 desempregados. Deduzindo este valor aos 939.314 ficam 874.749, que era o total de desempregados inscritos nos Centros de Emprego que devia existir no fim do mês de Junho de 2015. No entanto, a “Informação Mensal do Mercado do Emprego” referente a Junho de 2015 do IEFP informa que apenas existiam 536.656 desempregados inscritos nos Centros de Emprego. Fica assim claro e provado que foram eliminados dos ficheiros dos Centros de Emprego, só no 1º semestre de 2015, 338.093 desempregados. E como refere no “meu facebook” um leitor já atingido por três vezes por esta “limpeza de ficheiros” feita pelo IEFP, depois de abatido é necessário esperar 90 dias (antes eram 60 dias) para se poder inscrever novamente no Centro de Emprego e é preciso ir durante longas horas para longas filas. É evidente que muitos desempregados desistem de se reinscreverem nos Centros de Emprego até porque estes pouco emprego arranjam. Mas é desta forma que são construídos os números do desemprego registado que servem para o governo e, nomeadamente Passos Coelho, utilizar na propaganda oficial para manipular a opinião pública.
“OCUPADOS”: uma outra forma de esconder o desemprego
De acordo com o Instituto do Emprego e Formação Profissional, os “ocupados” que aparecem na “Informação Mensal do Mercado de Emprego” são desempregados “integrados em programas de emprego ou formação profissional “ Tanto uns como outros, terminado o Contrato de Emprego Inserção (CEI), ou o estágio ou o curso de formação profissional, regressam à situação de desempregado, mas enquanto estão nas situações anteriores não são considerados nos números do desemprego registado. Em junho de 2015, o número de “ocupados “ em Portugal atingia 155 892. Desta forma também se esconde o numero total dos desempregados, pois se estes fossem somados aos 874.749 obter-se –ia 1.030.641 de desempregados que é um número enorme e chocante, mas que certamente está muito mais próximo da verdade que o governo e os seus defensores procuram esconder. E também revela uma outra forma como se pode manipular os números do desemprego registado.
*Eugénio Rosa (Economista)
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