Era inverno, daqueles invernos que só Trás-os-Montes sabe ter. O dia acordava com uma grande, imensa nevada que cobria tudo.
O céu pousava-se preguiçoso e pachorrento cobrindo tudo com a sua alvura. Nevaria mais?
Nos beirais reluzia resplandecente a brancura imaculada da neve, serenamente caída durante toda a noite.
Aqui e ali, um porco-pisco deixara a impressão da sua leveza na quase imperceptível marca dos seus pequenos pés.
Porque me daria a mim para reparar nos vestígios do passarinho?
Só algum tempo depois é que me apercebi das pisadas de dois lobos, deduzi eu... com o meu fraco entendimento da nossa fauna selvagem. É certo que os tinha ouvido uivar toda a noite, agoirentos, esfomeados...
Aos poucos, a aldeia foi acordando. O chilrear da garotada ia em crescendo à medida que se apercebia do imenso recreio colocado à sua disposição.
"Mãe, posso ir brincar?" "Come primeiro um cibo de pão, filho."
Com o carolo de pão na mão lá saiu o Manel, aos pontapés à neve, chamando a todo pulmão pelo Zé, pelo Chico, pela Maria...
Aos poucos não havia criança, grande ou pequena, pelo seu próprio pé ou ao colo dos mais velhos, que não estivesse na única rua da aldeia, ladeada pelas casas das quais emanava um fumo denso de lareira a acender.
Que pena não haver máquina fotográfica! Quantas fotografias eu faria! Que lindos postais poderia guardar!
Não ficou prova física daquele dia. Apenas no meu coração uma marca indelével, única, de que me recordarei para sempre.
Com a minha mãe atrás de mim, saltei do cimo das escadas para a rua. Caí, levantei-me a gargalhar com uma lágrima no canto do olho. O hematoma que fiz na perna direita, levou uns bons quinze
dias a arroxear.
A minha mãe, aflita, a perguntar-me se me tinha ferido, se estava bem...
"Sim, mãe. Não foi nada, mãe. Só me dói aqui um bocadinho..."
Vestiu-me um casaco, enfiou-me um gorro na cabeça, umas luvas nas mãos...
Deu-me um pedaço de pão com marmelada e um beijo. Ela sabia que me tinha magoado, no entanto, não quis ferir o meu orgulho. Trataria de mim mais tarde quando regressasse para casa.
"Vai. Vai lá brincar, mas tem cuidado com as pelotadas..."
Ao começar a andar, senti a dor na perna mas não me importei. Passaria.
O Natal aproximava-se a passos largos. No ar, uma mensagem diferente, talvez de amor, talvez de esperança...
O céu pousava-se preguiçoso e pachorrento cobrindo tudo com a sua alvura. Nevaria mais?
Nos beirais reluzia resplandecente a brancura imaculada da neve, serenamente caída durante toda a noite.
Aqui e ali, um porco-pisco deixara a impressão da sua leveza na quase imperceptível marca dos seus pequenos pés.
Porque me daria a mim para reparar nos vestígios do passarinho?
Só algum tempo depois é que me apercebi das pisadas de dois lobos, deduzi eu... com o meu fraco entendimento da nossa fauna selvagem. É certo que os tinha ouvido uivar toda a noite, agoirentos, esfomeados...
Aos poucos, a aldeia foi acordando. O chilrear da garotada ia em crescendo à medida que se apercebia do imenso recreio colocado à sua disposição.
"Mãe, posso ir brincar?" "Come primeiro um cibo de pão, filho."
Com o carolo de pão na mão lá saiu o Manel, aos pontapés à neve, chamando a todo pulmão pelo Zé, pelo Chico, pela Maria...
Aos poucos não havia criança, grande ou pequena, pelo seu próprio pé ou ao colo dos mais velhos, que não estivesse na única rua da aldeia, ladeada pelas casas das quais emanava um fumo denso de lareira a acender.
Que pena não haver máquina fotográfica! Quantas fotografias eu faria! Que lindos postais poderia guardar!
Não ficou prova física daquele dia. Apenas no meu coração uma marca indelével, única, de que me recordarei para sempre.
Com a minha mãe atrás de mim, saltei do cimo das escadas para a rua. Caí, levantei-me a gargalhar com uma lágrima no canto do olho. O hematoma que fiz na perna direita, levou uns bons quinze
dias a arroxear.
A minha mãe, aflita, a perguntar-me se me tinha ferido, se estava bem...
"Sim, mãe. Não foi nada, mãe. Só me dói aqui um bocadinho..."
Vestiu-me um casaco, enfiou-me um gorro na cabeça, umas luvas nas mãos...
Deu-me um pedaço de pão com marmelada e um beijo. Ela sabia que me tinha magoado, no entanto, não quis ferir o meu orgulho. Trataria de mim mais tarde quando regressasse para casa.
"Vai. Vai lá brincar, mas tem cuidado com as pelotadas..."
Ao começar a andar, senti a dor na perna mas não me importei. Passaria.
O Natal aproximava-se a passos largos. No ar, uma mensagem diferente, talvez de amor, talvez de esperança...
(Continua)
Mara Cepeda
in:nordestecomcarinho.blogspot.pt
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