Manuel Morais faz parte do curioso grupo dos onze solteirões “famosos” na aldeia de São Jumil, em Vinhais, e soube hoje que nunca ter casado e constituído família o lançou numa outra estatística.
Dizem os números da Operação Censos Sénior 2012 que faz parte dos milhares de idosos que vivem sós e isolados por todo o país e que vive no distrito com mais pessoas nesta condição, o de Bragança.
Reage aos números da mesma forma descontraída com que já se habituou às picardias dos conterrâneos pela sua alegada incapacidade em arranjar mulher: “Com um piscar de olho”.
Não deixa transparecer se o “tique” ainda é revelador de algum alento em reverter o estado civil, aos 68 anos, mas uma coisa garante: não tem medo de viver sozinho.
“Se houver qualquer coisa, aparece logo alguém”, garante à Lusa, continuando caminho para tratar do jumento, cujos cuidados lhe preenchem os dias, de casa para os pastos e no sentido inverso.
“O pior é quando chegares à minha idade”, atira-lhe Iracema Prazeres, com 80 anos, que vive só com o marido, depois de ter criado seis filhos.
Dois estão em França, outros dois em Espanha, uma no Algarve e outra vive na mesma aldeia, mas do lado oposto da casa dos pais.
A GNR já esteve em casa dela, há poucos meses, quando foi assaltada depois de o marido de ter “entregado o ouro ao bandido”, ao dizer a alegados vendedores que não tinha tempo para os atender por ir plantar umas couves à horta.
Quando regressaram, tinham a casa remexida e deram pela falta de vários haveres, entre eles um cobertor dobrado, com mil euros “escondidos”.
“Foi o cobertor e o dinheiro, tudo dobradinho”, brinca o merceeiro ambulante, Antero Cambado, que não é da aldeia, mas que sabe tudo da vida das gentes desta e de outras pequenas localidades isoladas transmontanas. É graças a ele que chegam às aldeias bens como carne, mercearia ou os mimos, como os iogurtes de Adelina Fernandes, 72 anos.
Se não fossem estas carrinhas, Adelina e outros habitantes “ficavam sem comida e sem dinheiro”. O supermercado mais próximo fica a 15 quilómetros, em Rebordelo.
Criaram quatro filhos e estão todos em França. Ficaram os dois sós e Adelina receia “o dia em que partir um dos passarinhos”, como diz. Aí sim, acha que a solidão e o medo vai tomar conta deles.
Ainda assim, aqueles com quem a Lusa falou, garantem que “a miséria é pior na cidade”. Aos 75 anos, Delfim acaba de chegar da horta, pela hora de almoço, com um sacho na mão. Tem muito onde se entreter na terra e não lhe faltam batatas, couves, azeitona.
As “calamidades” (doenças) da idade é que o chateiam, mas não falta boa disposição e humor a esta gente. Em redor da carrinha do merceeiro ambulante tem lugar uma “terapia” de grupo, um “corre corre” de notícias uns dos outros.
“Aqui, sabe-se logo tudo”, dizem.
O que mais custa é não nascer uma criança na aldeia “há mais de vinte anos”, que terá, segundo as contas que fazem, pouco mais de quatro dezenas de pessoas.
Já na contabilidade do merceeiro ambulante as contas dificultam-se ainda mais e nota-se a acentuada quebra no volume de negócios. Aos poucos vê-se substituído pelas respostas sociais que as instituições locais prestam aos idosos. “Oitenta por cento dos velhotes trazem comida do centro do dia e o merceeiro…” vende menos, conta.
Lusa
Dizem os números da Operação Censos Sénior 2012 que faz parte dos milhares de idosos que vivem sós e isolados por todo o país e que vive no distrito com mais pessoas nesta condição, o de Bragança.
Reage aos números da mesma forma descontraída com que já se habituou às picardias dos conterrâneos pela sua alegada incapacidade em arranjar mulher: “Com um piscar de olho”.
Não deixa transparecer se o “tique” ainda é revelador de algum alento em reverter o estado civil, aos 68 anos, mas uma coisa garante: não tem medo de viver sozinho.
“Se houver qualquer coisa, aparece logo alguém”, garante à Lusa, continuando caminho para tratar do jumento, cujos cuidados lhe preenchem os dias, de casa para os pastos e no sentido inverso.
“O pior é quando chegares à minha idade”, atira-lhe Iracema Prazeres, com 80 anos, que vive só com o marido, depois de ter criado seis filhos.
Dois estão em França, outros dois em Espanha, uma no Algarve e outra vive na mesma aldeia, mas do lado oposto da casa dos pais.
A GNR já esteve em casa dela, há poucos meses, quando foi assaltada depois de o marido de ter “entregado o ouro ao bandido”, ao dizer a alegados vendedores que não tinha tempo para os atender por ir plantar umas couves à horta.
Quando regressaram, tinham a casa remexida e deram pela falta de vários haveres, entre eles um cobertor dobrado, com mil euros “escondidos”.
“Foi o cobertor e o dinheiro, tudo dobradinho”, brinca o merceeiro ambulante, Antero Cambado, que não é da aldeia, mas que sabe tudo da vida das gentes desta e de outras pequenas localidades isoladas transmontanas. É graças a ele que chegam às aldeias bens como carne, mercearia ou os mimos, como os iogurtes de Adelina Fernandes, 72 anos.
Se não fossem estas carrinhas, Adelina e outros habitantes “ficavam sem comida e sem dinheiro”. O supermercado mais próximo fica a 15 quilómetros, em Rebordelo.
Criaram quatro filhos e estão todos em França. Ficaram os dois sós e Adelina receia “o dia em que partir um dos passarinhos”, como diz. Aí sim, acha que a solidão e o medo vai tomar conta deles.
Ainda assim, aqueles com quem a Lusa falou, garantem que “a miséria é pior na cidade”. Aos 75 anos, Delfim acaba de chegar da horta, pela hora de almoço, com um sacho na mão. Tem muito onde se entreter na terra e não lhe faltam batatas, couves, azeitona.
As “calamidades” (doenças) da idade é que o chateiam, mas não falta boa disposição e humor a esta gente. Em redor da carrinha do merceeiro ambulante tem lugar uma “terapia” de grupo, um “corre corre” de notícias uns dos outros.
“Aqui, sabe-se logo tudo”, dizem.
O que mais custa é não nascer uma criança na aldeia “há mais de vinte anos”, que terá, segundo as contas que fazem, pouco mais de quatro dezenas de pessoas.
Já na contabilidade do merceeiro ambulante as contas dificultam-se ainda mais e nota-se a acentuada quebra no volume de negócios. Aos poucos vê-se substituído pelas respostas sociais que as instituições locais prestam aos idosos. “Oitenta por cento dos velhotes trazem comida do centro do dia e o merceeiro…” vende menos, conta.
Lusa
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