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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Montalegre - Mulheres de um tempo que passa


Uma voz feminina de entre as mulheres de negro vestidas, sentadas à porta da casa de pedra para ver gente de fora passar, ecoou: «precisávamos era de gente para cavar batata...»
Senti um arrepio e percebi-lhe o tom. Filha de agricultores, embora de zonas mais temperadas, aprendi o que é a dureza da terra, das tempestades que estragam as colheitas, das mãos calejadas da enxada, da pele crespa do frio ou do sol, de ter-se muito ou viver-se com pouco... ao sabor do tempo - Bento Gonçalves o primeiro Secretário-Geral do Partido Comunista, natural da aldeia ali ao lado, Fiães do Rio, tê-lo-á sabido também da dureza desses tempos!
«Somos jornalistas, estamos a visitar o concelho de Montalegre para conhecer melhor!» Expliquei-lhes, enquanto me vinha à memória o contraste com o conforto em viajar no «Alfa» de Lisboa para o Porto, do almoço Douro acima, do agradável hotel «Quality Inn» onde nos hospedámos, das fartas iguarias da gastronomia barrosã que saboreámos.
Sugeri-lhes um pedido à Câmara e «talvez houvesse voluntários que prestassem alguma ajuda...», convicta de que, apesar de uma certa aridez de valores em que vivemos, há ainda gente que ama a terra e tem espírito solidário.
Estávamos na aldeia de Paredes do Rio onde mulheres idosas tentam manter viva a tradição da tecelagem, da feitura das capas de burel, das meias de lã... São mulheres das terras do Barroso, que vêem agora aquilo que era o local encontro da comunidade – o forno de pão ou o palácio do boi – resíduos de uma vivência e de uma cultura, transformada em ECO MUSEU, disponível à observação dos outros.
Maria, 71 anos, contava-me que era mãe solteira Tinha 30 anos quando o pai do seu filho morreu. Depois, nunca mais quis homem... era assim na aldeia... quando uma mulher infringia os cânones tradicionais com uma maternidade fora do casamento. O filho está no Brasil, fica a solidão das pedras ou a aparente felicidade de um espaço preenchido de lembranças. Os mais novos já não querem a terra, foram estudar ou trabalhar para zonas de maior comércio de quem não conhece outros mundos.
Aquelas imagens de mulheres de lenços negros a tapar a cabeça repetiam-se em Pitões de Júnias, a caminho da missa, como sombras de um passado que já ninguém quer abraçar.
Montalegre está a desenvolver-se e as casas de pedra, (umas fechadas porque os seus donos estão fora, emigrados, outras degradadas e poucas recuperadas) são , agora redescobertas para novas dinâmicas: o turismo de habitação, ou a readaptação dos atributos da terra, dos seus costumes e artefactos – veja-se a Casa dos Braganças - para outras pessoas usufruírem, de forma confortável, as atracções turísticas de um concelho dotado de uma paisagem fabulosa, onde se combinam as serras, de vegetação simples e floridas, com o azul cristalino da água das barragens.
As célebres vacas barrosãs de cornos em lira ainda se vêem pastando pela serra e as «chegas» de bois, onde dois machos se desafiam - tradição antiga de dias festivos - já deu lugar a estátua na sede do concelho.
Na raia de Espanha, orgulhosa de tradições firmes e gentes que «bebem» da força do granito natural, Montalegre terá de continuar a «queimar as bruxas» - como o fez o conhecido padre Fontes, na tradicional bebida preparada em caldeirão, durante o jantar em Mourilhe - para não ficar esquecido.

Otília Leitão
in:cafeportugal.net

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