Local: MIRANDELA, BRAGANÇA
Conta-se em Rego de Vide que, há muitos anos atrás, houve um homem que tinha um triste fado: era lobisomem. Durante o dia era uma pessoa normal, mas em certas noites saía para correr sete freguesias transformado num cavalo.
Ninguém no povo sabia deste fado. Mas o homem, farto dessa vida, até porque de manhã estava sempre muito cansado, resolveu abrir-se com um seu compadre, e pediu-lhe que o ajudasse a acabar com tal fado.
— E o que posso eu fazer? — perguntou.
— Faça como vou dizer: na próxima noite em que eu sair a correr fado, vossemecê pega numa aguilhada e espeta-me o ferrão no lombo até fazer sangue. O compadre aceitou. Ao chegar a meia noite foi-se pôr num caminho junto à casa do infeliz e esperou que ele passasse. De repente, eis que passa um cavalo enorme, que mais parecia um gigante. E ia de tal modo veloz que o compadre nem conseguiu chegar perto dele. Tratou mas é de fugir.
No dia seguinte, o homem foi ter com o compadre, muito arreliado, perguntando-lhe porque tinha faltado ao prometido. E o compadre lá lhe explicou que não tinha conseguido sequer chegar perto dele.
— Podia lá eu acreditar que aquele bicho tão grande fosse vossemecê!... Tive medo e fugi — confessou o compadre.
— Mas não tenha medo, pois sou mesmo eu e não lhe faço mal nenhum! — insistiu o homem.
Noutro dia combinado, à meia noite, o compadre foi-se pôr no mesmo sítio. E ao passar o mesmo cavalo, espetou-lhe a aguilhada com toda a força. O cavalo deu um grande relincho que até fez estremecer o chão, mas de repente transformou-se no pobre homem, que daí em diante passou a ser sempre uma pessoa normal. E ele mais o seu compadre ficaram amigos inseparáveis para sempre.
Fonte:PARAFITA, Alexandre Antologia de Contos Populares Vol. 1 Lisboa, Plátano Editora, 2001 , p.143
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Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
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(Henrique Martins)
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