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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 5 de outubro de 2013

QUANDO A POESIA VALE MAIS DO QUE A POLÍTICA RASTEJANTE

Escrevo esta crónica domingueira, chuvosa e carrancuda, como se assistisse a uma tarde de funeral. É dia de eleições autárquicas e serve-me de palco uma cidade que vive, como sempre viveu, adensada numa neblina de mitologia com nove séculos de história. Em vez de divagar sobre os defeitos de uma democracia titubeante, envergonhada e enganadora, agrada-me muito mais falar de poesia, modalidade literária que é uma arma pacifica e tolerante, visto que os seus cultores, homens e mulheres, que traduzem em linguagem artística mágoas, irritações e preconceitos, sentimentos que a política não compreende. 

A poesia dá voz à tranquilidade, à solidariedade, ao bom senso. A política usa truques baixos, vinganças grotescas, raivas incontidas. Não se reconhecem em terra batida. A poesia bate-se e defronta-se em campo aberto. A política exibe-se em palcos afidalgados, opulentos, inacessíveis aos amigos de arte de versejar. São inconciliáveis. Os políticos buscam fama, glória e proveito em nome da demagogia que todos buscam, a qualquer preço. Mas uma vez conquistada, apenas serve a clientela que se enganou ou foi enganada no voto.

A poesia, ao contrário da política, não se vangloria, não se envaidece, não se auto-proclama, nem promete o céu a quem nem a terra que pisa, merece. A poesia é humilde, não usa megafones para se exibir, não organiza caravanas com batuques ensurdecedores, nem chocalhos ou máscaras de santo, sendo diabo. A poesia é uma ciência enobrecida pela dignidade. A política é a arte de enganar os incautos, servindo os enganadores e ludibriando quem se deixa enredar.

As últimas semanas de Setembro deram para estudar as dissidências e as parecenças. Trabalho de campo? Sirva o exemplo da penúltima semana: o XIII Encontro Nacional de Poetas, na vila do Gerês. Aconteceu dia 21, a coincidir com a mudança de estação do calendário. O verão deu lugar ao outono, como a paz deu lugar à turbulência, o silêncio contrastou com a balbúrdia e a gabarolice substituiu a ponderação. 

Durante muitos anos a cultura foi filha renegada das artes. O poder nacional riscou a poesia do calendário das artes universais. E o poder local, salvo raríssimas excepções, onde o político venceu o poeta, não houve sensibilidade, nem engenho para colocar as duas realidades na hierarquia correta. 

No ano 2000 deu-se início a um Encontro Nacional de Poetas. Nenhum palco mais indicado: Guimarães que sempre viveu à sombra do simbolismo do «Berço» da Nacionalidade e de D. Afonso Henriques. O património histórico que adveio desse estatuto, para mais, numa altura em que decorriam 900 anos do nascimento do nosso Rei Fundador, caprichou em distanciar-se da verdade histórica, limitando-se a viver num vazio de ideias, de realidades e de projectos que provieram dos fundos comunitários, de um período áureo que a Euroarte, as Quartas-Feirais Culturais, o Saber é giro, o Movimento Jovem conquistaram, por mérito próprio. Nessa altura a primeira capital histórica de Portugal, preocupou-se em reconstruir o Centro Histórico que foi a alavanca para mais tarde ser reconhecido como «Património Cultural da Humanidade» e «Capital Europeia da Cultura». Essas distinções caíram do céu, não por mérito dos políticos de ocasião, mas de todos aqueles que os antecederam.

Em 1990, ao contrário do que o poder político faz crer, afora esses epítetos, iniciou-se uma série de infortúnios urbanos e sócio-culturais que despromoveram o maior concelho a norte do Rio Douro, de 1º para 3º lugar, quer em população, quer em freguesias, quer em riqueza industrial e comercial.

Endividaram a autarquia a um nível de largas dezenas de milhões de euros que levarão anos a liquidar. Com os 114 milhões da Capital Europeia da Cultura, o poder político adquiriu e malbaratou o maior quinhão em aquisições e restauros, uns para  silenciar vozes incómodas, outros para satisfazer clientelas, mais alguns para colocar placas inaugurais que perpetuam verdadeiros sorvedouros de dinheiros que nenhuma averiguação judicial descortinará.

O Encontro Nacional de Poetas, por insensibilidade cultural mudou o palco de Guimarães para a Vila do Gerês. Aí realizou onze edições, sempre com mais de uma centena de poetas de todo o país, homens e mulheres, de idades e de tipos de formação diferenciados. Dia 21 de Setembro que ora finda acolheu vozes de todas as tendências ideológicas, imaginativas e criativas. Nestes 13 anos distinguiu uma boa centena de poetas, que de outra maneira nunca teriam saído do anonimato.

A Câmara de Terras de Bouro credenciou todos os participantes com diplomas, ora de prémio, ora de presença. A Calidum, associação que nasceu vocacionada para apoiar edições e autores, tem vindo a cumprir, em plenitude, essa tarefa estatutária. Já se editaram antologias com essas gerações de poetas, uns mais adestrados do que outros. Mas todos com a pureza de intenções que os leva a deixar tudo. Em cada terceiro sábado de Setembro, em busca de convívios, de diálogos, de respeito pela sagrada arte de fazer versos.

Barroso da Fonte
in:jornal.netbila.net

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