A Associação Portuguesa para a Salvaguarda do Património Imaterial (PCI) defendeu a criação de uma «linha SOS» que permita alertar para as situações de bens culturais imateriais em risco e que necessitem de medidas de salvaguarda urgentes.
Esta iniciativa será um dos assuntos que vai estar em cima da mesa durante as primeiras «Jornadas para a salvaguarda do património cultural imaterial do Norte» marcadas para dia 18 de Janeiro, no Peso da Régua.
O antropólogo e presidente da associação, Luís Marques, afirmou que faz todo o sentido criar uma «Linha SOS - Património Cultural Imaterial em Perigo» que permita alertar para as situações mais graves que necessitem de medidas de salvaguarda urgentes.
Esses riscos derivam, na sua opinião, da permanência de «certas concepções ainda influentes na sociedade portuguesa e que persistem em não reconhecer o seu valor identitário».
«Isto para além das adversas condições socioeconómicas actuais, que levam por exemplo, à emigração, com o despovoamento de boa parte das zonas do interior e o consequente desaparecimento ou extinção de inestimáveis expressões culturais imateriais», acrescentou.
Por sua vez, o investigador e professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Alexandre Parafita, afirmou que, em toda a região Norte, se contam «aos milhares os bens culturais a carecer de protecção e salvaguarda».
Para este especialista, «muitos deles são merecedores de constar na lista de património imaterial classificado pela UNESCO, tal como aconteceu com o fado e a dieta mediterrânica».
Alexandre Parafita destacou, como exemplos, a Festa da Bugiada, em Sobrado (Valongo), o Auto de Floripes, no concelho de Viana do Castelo, ou as celebrações da Semana Santa em Braga.
Outros bens «identitários na região», mas que, na sua opinião, «não usufruem da mesma dinâmica mediática», são os ritos solsticiais de inverno em Trás-os-Montes, como os caretos de Podence, os rituais de máscaras de Bragança e Vinhais, ou as festas dos rapazes de Torre de Dona Chama.
Contudo, para Alexandre Parafita há «ainda que encarar o património cultural imaterial profundo, esse, sim, em risco de extinção por força do desaparecimento dos seus intérpretes, ‘tesouros vivos’ como lhes chama a UNESCO».
O investigador referiu os cancioneiros do Douro e Minho, a medicina e religiosidade popular ou os saberes tecnológicos de artesãos, tanoeiros, construtores de barcos rabelos, cesteiros, moleiros.
«Infelizmente, quando se trata de lançar mãos de bens culturais a classificar chegam-se sempre à frente os ‘lóbis políticos’, na ânsia dos holofotes mediáticos, e que pouco ou nada se preocupam com os riscos que corre o património imaterial profundo, que se extingue de ano para ano com o desaparecimento dos seus intérpretes», sublinhou.
As jornadas, que decorrem no sábado, visam precisamente, segundo a Associação PCI, «contribuir para promover a salvaguarda e uma mais ampla percepção da riqueza e diversidade do património cultural Imaterial da região norte».
Têm ainda como objectivo assinalar a comemoração da década da aprovação pela UNESCO da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (aprovada em 2003).
Café Portugal/Lusa; Foto - Gastão Freire de Andrade
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