Vista do Castelo de Freixo de Espada à Cinta, Portugal. Gravura, Duarte de Armas, "Livro das Fortalezas", c. 1509, prancha 77. Na outra margem do rio, o castelo castelhano de "Vilibestre". |
O "Castelo de Freixo de Espada à Cinta" localiza-se na freguesia e concelho de Freixo de Espada à Cinta, no distrito de Bragança, em Portugal.
É uma das mais antigas fortificações transmontanas, estando documentado desde praticamente o século XII e antecedendo, desse modo, o fenómeno de vilas novas estabelecidas por D. Afonso III e D. Dinis.
História
Antecedentes
A origem da povoação bem como o seu topónimo são muito antigos, mergulhando no terreno da lenda. De acordo com o erudito quinhentista João de Barros (homónimo do cronista), na sua "Geografia de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes", a fundação é atribuída a um fidalgo espanhol, de apelido Feijão, que teria vivido no século X, e em cujas armas constaria um freixo e uma espada. Uma tradição local atribui o topónimo a um guerreiro Visigodo de apelido Espadacinta, que ali se deitou à sombra de um freixo para descansar.
Uma versão ligeiramente diferente é contada por Ivo Xavier Fernandes:
"Um cavaleiro cristão (...), perseguido por um grupo de aventureiros, viu-se em perigo de morte. Então, conseguiu esconder-se entre os ramos de um freixo, aos ramos do qual pendurou a própria espada. Assim se salvou, porque os inimigos vendo um freixo com uma espada, encheram-se de pavor e fugiram. E aí mesmo se lançaram os fundamentos da povoação, a que o seu fundador deu o nome de Espada de Freixo à Cinta." (“Topónimos e Gentílicos”, vol. 2., Porto: Editora Educação Nacional, 1943.)
O castelo medieval
A povoação existia nos primeiros tempos da nacionalidade, marcando a fronteira a oeste do rio Douro. Por essa razão, visando fomentar o seu povoamento e defesa, Afonso I de Portugal (1143-1185), referindo-a como “Fresno”, outorgou-lhe foral desde 1152 (ou 1155-1157), transformando-a em couto de homiziados. Acredita-se que a construção da fortificação tenha ocorrido a partir de então, embora só exista referência documental à mesma um século mais tarde, em 1258. Esse primitivo reduto eventualmente seria complementado por uma cerca envolvendo a povoação.
No reinado de Afonso II de Portugal (1211-1223) foi conquistada pelas forças de Afonso IX de Leão que a mantiveram nos anos de 1212 e 1213.
Em momento anterior a 1236 Sancho II de Portugal (1223-1248) doou Alva ao Concelho de Freixo como sua aldeia, mandando expulsar daquele lugar os habitantes que aí moravam após a ocupação leonesa. Ainda sob o mesmo reinado, na regência de Afonso, conde de Bolonha (futuro Afonso III de Portugal), o foral da povoação foi confirmado como couto de homiziados (1246).
Sob Afonso III de Portugal (1248-1279), as Inquirições de 1258 referem que D. Sancho II havia doado a povoação de Alva por termo à vila de Freixo e que a Igreja de São Miguel dava duas partes da renda para o Concelho para as obras do castelo; o mesmo soberano concedia-lhe também o lugar fortificado de Urrós, que estava ermo, por temer que pudesse ser ocupado pelo reino vizinho. D. Afonso III confirmou o foral de Freixo em 1273.
No século XIV, o cronista Rui de Pina informa que Dinis I de Portugal (1279-1325) "povoou de novo e fez" o castelo de Freixo. (“Crónica de D. Dinis”)
Os habitantes de Freixo solicitam a Afonso IV de Portugal (1325-1357) a aplicação da "terça" da Igreja Matriz às obras de conclusão do castelo (1342).
Mais tarde, Fernando I de Portugal (1367-1383), em carta, referiu a construção de "hum apartamento da alcaçere" que o rei mandara fazer em Freixo (1376). Em uma outra carta determinou que as aldeias de Urrós e de Maçores deixassem de prestar a adua para reparação das fortificações da vila do Freixo e passassem a servir nas obras da vila de Torre de Moncorvo. Ainda em seu reinado, em 1381 teve lugar a doação da vila a Fernão Afonso, senhor de Valença.
No contexto da Crise de Sucessão de 1383-1385 foram empreendidas obras de beneficiação no castelo (1383). Pelo apoio então dado pela vila a João I de Portugal (1385-1433) este, quando em 1406 limitou o privilégio de couto e homízio (exceto para os crimes de aleive e traição) a apenas três vilas no reino, uma delas foi esta, de Freixo.
Durante o século XV, são registadas obras no castelo entre 1412 e 1423, e entre 1435 e 1459, eventualmente visando adaptar o castelo à função de Paço para a habitação dos seus alcaides.
No reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521) a povoação e seu castelo encontram-se figurados por Duarte de Armas (“Livro das Fortalezas”, c. 1509), destacando-se o castelo cercado pela barbacã, e a cerca da vila reforçada por diversas torres, de planta hexagonal e pentagonal, dispostas a intervalos regulares, a maioria ostentando balcões de matacães. Este soberano concedeu o Foral Novo à vila em 1512. No ano seguinte (1513) realizavam-se obras no castelo, nelas estando a trabalhar o mestre de pedraria biscaínho Pêro Lopes.
Sob João III de Portugal (1521-1557), de acordo com o “Numeramento” (1527- 1532), a vila possuia um "bõo castello, forte, cerqado, omde nam uyve mais que o alcayde" e tinha 447 fogos.
Em 1569 o mestre António Fernandes executou obras no castelo por ordem de Sebastião I de Portugal (1557-1578).
A construção do campanário sobre a Torre do Galo terá ocorrido entre os séculos XVII e XVIII. Em meados do século XVIII, em 1758 a guarnição da praça-forte compunha-se de um tenente e doze homens. Ao final do século, em 1800, o castelo encontrava-se em bom estado.
Do século XIX aos nossos dias
Embora sejam escassas as notícias sobre o castelo, ele esteve em atividade até à terceira década do século XIX quando, perdida a sua função militar, o seu recinto foi utilizado como cemitério municipal com a demolição de alguns troços da muralha. O primeiro enterramento foi realizado em 8 de julho de 1836.
Encontra-se classificado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de junho de 1910, publicado no Diário do Governo nº 136, de 23 de junho de 1910.
Encontra-se classificado como ZEP por Portaria publicada no Diário do Governo, II Série, nº 19, em 23 de janeiro de 1953.
Trabalhos de intervenção e restauro, a cargo da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) tiveram lugar entre 1940 e 1942.
Uma nova campanha tem lugar na década de 1970, em duas etapas:
- 1970-1973 - demolição de 13 edifícios para desafogo da torre, arranjo do acesso e arruamentos, ajardinamento e valorização da envolvente; neste período foi formulada uma proposta para a remoção do cemitério do interior do recinto muralhado (1972).
- 1973 e 1978 - demolição de 4 edifícios para regularização do terreno e arranjo da zona de acesso.
Uma nova campanha de conservação teve lugar de 1980 a 1987. A torre encontrava-se em avançado estado de degradação e foi alvo de um estudo por parte do "Grupo da Pedra" e análises laboratoriais realizadas pelo INIC (1983).
Em 2000 foi formulado um plano de intervenção na envolvente, com recursos do FEDER.
Características
Castelo urbano, em estilo gótico, com semelhanças com a dos de Alva, Mós e Urrós. Implanta-se na cota de 466 metros acima do nível do mar, constituído por castelejo de planta ovalada e barbacã, de que só restam alguns trechos e uma torre heptagonal coroada por matacães e rematada por merlões biselados, outrora integrada no circuito muralhado do castelejo. O seu primitivo espaço intra-muros é ocupado pelo cemitério, reaproveitando as fundações da muralha dionisina, arruinada.
Destaca-se a torre, em plano elevado, integrada no centro histórico, erguendo-se a norte da Igreja Matriz, e um pouco mais distanciada, a oeste, a Igreja da Misericórdia. Alguns autores sustentam (indevidamente) ter sido esta a torre de menagem atribuindo-a uns ao reinado de D. Dinis, outros ao de D. Fernando. Os moradores denominam-na simplesmente como Torre do Galo ou Torre do Relógio. De planta heptagonal, em "opus vittatum", ergue-se a cerca de 25 metros de altura, com faces de diferentes larguras, variando entre os 5 e os 8 metros. É acedida por uma porta em arco quebrado na face nordeste, em plano elevado, descentrada, a que se acede por escada de dois lanços opostos. O seu interior é dividido em três pavimentos, com abóbadas em arcaria, acedidos por escada, formando caracol no cunhal nordeste, iluminados por pequenas frestas nos muros.
No alto, destaca-se um balcão corrido sustentado por cachorrada e chão perfurado (“machicoulis”). O conjunto culmina com uma torre sineira quadrangular, com cobertura em forma de agulha, tendo nos cunhais pequenas pirâmides boleadas.
in:fortalezas.org
É uma das mais antigas fortificações transmontanas, estando documentado desde praticamente o século XII e antecedendo, desse modo, o fenómeno de vilas novas estabelecidas por D. Afonso III e D. Dinis.
História
Antecedentes
A origem da povoação bem como o seu topónimo são muito antigos, mergulhando no terreno da lenda. De acordo com o erudito quinhentista João de Barros (homónimo do cronista), na sua "Geografia de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes", a fundação é atribuída a um fidalgo espanhol, de apelido Feijão, que teria vivido no século X, e em cujas armas constaria um freixo e uma espada. Uma tradição local atribui o topónimo a um guerreiro Visigodo de apelido Espadacinta, que ali se deitou à sombra de um freixo para descansar.
Uma versão ligeiramente diferente é contada por Ivo Xavier Fernandes:
"Um cavaleiro cristão (...), perseguido por um grupo de aventureiros, viu-se em perigo de morte. Então, conseguiu esconder-se entre os ramos de um freixo, aos ramos do qual pendurou a própria espada. Assim se salvou, porque os inimigos vendo um freixo com uma espada, encheram-se de pavor e fugiram. E aí mesmo se lançaram os fundamentos da povoação, a que o seu fundador deu o nome de Espada de Freixo à Cinta." (“Topónimos e Gentílicos”, vol. 2., Porto: Editora Educação Nacional, 1943.)
O castelo medieval
A povoação existia nos primeiros tempos da nacionalidade, marcando a fronteira a oeste do rio Douro. Por essa razão, visando fomentar o seu povoamento e defesa, Afonso I de Portugal (1143-1185), referindo-a como “Fresno”, outorgou-lhe foral desde 1152 (ou 1155-1157), transformando-a em couto de homiziados. Acredita-se que a construção da fortificação tenha ocorrido a partir de então, embora só exista referência documental à mesma um século mais tarde, em 1258. Esse primitivo reduto eventualmente seria complementado por uma cerca envolvendo a povoação.
No reinado de Afonso II de Portugal (1211-1223) foi conquistada pelas forças de Afonso IX de Leão que a mantiveram nos anos de 1212 e 1213.
Em momento anterior a 1236 Sancho II de Portugal (1223-1248) doou Alva ao Concelho de Freixo como sua aldeia, mandando expulsar daquele lugar os habitantes que aí moravam após a ocupação leonesa. Ainda sob o mesmo reinado, na regência de Afonso, conde de Bolonha (futuro Afonso III de Portugal), o foral da povoação foi confirmado como couto de homiziados (1246).
Sob Afonso III de Portugal (1248-1279), as Inquirições de 1258 referem que D. Sancho II havia doado a povoação de Alva por termo à vila de Freixo e que a Igreja de São Miguel dava duas partes da renda para o Concelho para as obras do castelo; o mesmo soberano concedia-lhe também o lugar fortificado de Urrós, que estava ermo, por temer que pudesse ser ocupado pelo reino vizinho. D. Afonso III confirmou o foral de Freixo em 1273.
No século XIV, o cronista Rui de Pina informa que Dinis I de Portugal (1279-1325) "povoou de novo e fez" o castelo de Freixo. (“Crónica de D. Dinis”)
Os habitantes de Freixo solicitam a Afonso IV de Portugal (1325-1357) a aplicação da "terça" da Igreja Matriz às obras de conclusão do castelo (1342).
Mais tarde, Fernando I de Portugal (1367-1383), em carta, referiu a construção de "hum apartamento da alcaçere" que o rei mandara fazer em Freixo (1376). Em uma outra carta determinou que as aldeias de Urrós e de Maçores deixassem de prestar a adua para reparação das fortificações da vila do Freixo e passassem a servir nas obras da vila de Torre de Moncorvo. Ainda em seu reinado, em 1381 teve lugar a doação da vila a Fernão Afonso, senhor de Valença.
No contexto da Crise de Sucessão de 1383-1385 foram empreendidas obras de beneficiação no castelo (1383). Pelo apoio então dado pela vila a João I de Portugal (1385-1433) este, quando em 1406 limitou o privilégio de couto e homízio (exceto para os crimes de aleive e traição) a apenas três vilas no reino, uma delas foi esta, de Freixo.
Durante o século XV, são registadas obras no castelo entre 1412 e 1423, e entre 1435 e 1459, eventualmente visando adaptar o castelo à função de Paço para a habitação dos seus alcaides.
No reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521) a povoação e seu castelo encontram-se figurados por Duarte de Armas (“Livro das Fortalezas”, c. 1509), destacando-se o castelo cercado pela barbacã, e a cerca da vila reforçada por diversas torres, de planta hexagonal e pentagonal, dispostas a intervalos regulares, a maioria ostentando balcões de matacães. Este soberano concedeu o Foral Novo à vila em 1512. No ano seguinte (1513) realizavam-se obras no castelo, nelas estando a trabalhar o mestre de pedraria biscaínho Pêro Lopes.
Sob João III de Portugal (1521-1557), de acordo com o “Numeramento” (1527- 1532), a vila possuia um "bõo castello, forte, cerqado, omde nam uyve mais que o alcayde" e tinha 447 fogos.
Em 1569 o mestre António Fernandes executou obras no castelo por ordem de Sebastião I de Portugal (1557-1578).
A construção do campanário sobre a Torre do Galo terá ocorrido entre os séculos XVII e XVIII. Em meados do século XVIII, em 1758 a guarnição da praça-forte compunha-se de um tenente e doze homens. Ao final do século, em 1800, o castelo encontrava-se em bom estado.
Do século XIX aos nossos dias
Embora sejam escassas as notícias sobre o castelo, ele esteve em atividade até à terceira década do século XIX quando, perdida a sua função militar, o seu recinto foi utilizado como cemitério municipal com a demolição de alguns troços da muralha. O primeiro enterramento foi realizado em 8 de julho de 1836.
Encontra-se classificado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de junho de 1910, publicado no Diário do Governo nº 136, de 23 de junho de 1910.
Encontra-se classificado como ZEP por Portaria publicada no Diário do Governo, II Série, nº 19, em 23 de janeiro de 1953.
Trabalhos de intervenção e restauro, a cargo da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) tiveram lugar entre 1940 e 1942.
Uma nova campanha tem lugar na década de 1970, em duas etapas:
- 1970-1973 - demolição de 13 edifícios para desafogo da torre, arranjo do acesso e arruamentos, ajardinamento e valorização da envolvente; neste período foi formulada uma proposta para a remoção do cemitério do interior do recinto muralhado (1972).
- 1973 e 1978 - demolição de 4 edifícios para regularização do terreno e arranjo da zona de acesso.
Uma nova campanha de conservação teve lugar de 1980 a 1987. A torre encontrava-se em avançado estado de degradação e foi alvo de um estudo por parte do "Grupo da Pedra" e análises laboratoriais realizadas pelo INIC (1983).
Em 2000 foi formulado um plano de intervenção na envolvente, com recursos do FEDER.
Características
Castelo urbano, em estilo gótico, com semelhanças com a dos de Alva, Mós e Urrós. Implanta-se na cota de 466 metros acima do nível do mar, constituído por castelejo de planta ovalada e barbacã, de que só restam alguns trechos e uma torre heptagonal coroada por matacães e rematada por merlões biselados, outrora integrada no circuito muralhado do castelejo. O seu primitivo espaço intra-muros é ocupado pelo cemitério, reaproveitando as fundações da muralha dionisina, arruinada.
Destaca-se a torre, em plano elevado, integrada no centro histórico, erguendo-se a norte da Igreja Matriz, e um pouco mais distanciada, a oeste, a Igreja da Misericórdia. Alguns autores sustentam (indevidamente) ter sido esta a torre de menagem atribuindo-a uns ao reinado de D. Dinis, outros ao de D. Fernando. Os moradores denominam-na simplesmente como Torre do Galo ou Torre do Relógio. De planta heptagonal, em "opus vittatum", ergue-se a cerca de 25 metros de altura, com faces de diferentes larguras, variando entre os 5 e os 8 metros. É acedida por uma porta em arco quebrado na face nordeste, em plano elevado, descentrada, a que se acede por escada de dois lanços opostos. O seu interior é dividido em três pavimentos, com abóbadas em arcaria, acedidos por escada, formando caracol no cunhal nordeste, iluminados por pequenas frestas nos muros.
No alto, destaca-se um balcão corrido sustentado por cachorrada e chão perfurado (“machicoulis”). O conjunto culmina com uma torre sineira quadrangular, com cobertura em forma de agulha, tendo nos cunhais pequenas pirâmides boleadas.
in:fortalezas.org
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